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Ada ou Ardor, de Vladimir Nabokov

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Por Pedro Fernandes Vladimir Nabokov. Foto: Giuseppe Pino.   É num dos encontros entre Ivan Durmânov e Adelaida Durmânov que os amantes redescobrem uma parte do intenso verão de 1844 registrada num álbum difamatório preparado cuidadosamente por um certo rival. A leitura desses registros fotográficos, incluindo alguma especulação em torno das fotografias do segundo reencontro dos dois, em 1888, supostamente descartadas por Ada, se oferece como a oportunidade para que o horrorizado espectador interessado em zelar seu amor dos olhos impuros e da sujeira do mundo se sinta motivado a escrever o livro que agora lemos — “redimirei nossa infância escrevendo um livro sobre ela: Ardis crônica de uma família”. Não é apenas a confirmação do que suspeitamos desde o início do romance, quando encontramos as inferências do narrador, da própria Ada e de um editor, nem só a revelação do ponto de origem da narrativa, este é um instante que reata um traço essencial na literatura de Vladimir Nabokov, o...

A prancheta concreto-marginal de Régis Bonvicino

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Por Wagner Silva Gomes Régis Bonvicino. Foto: Eduardo Anizelli   Esquema:4/3/3 Dinâmica de jogo:3532 / 532 / 423   esse jeito de meia-armador (cerebral distante)   é pra disfarçar a vontade de ser   goleador poeta centroavante   Em “Esse jeito”, poema do livro Régis hotel (1978), o poeta Régis Bonvicino demarca o ponto nevrálgico – e joga entre as linhas – assumindo a sua posição de “um dos principais nomes que compõem a geração de poetas que se assume herdeira e crítica da tradição da poesia concreta”, como destaca Jhenifer Thais em sua dissertação, intitulada Objetividade subjetivada: forma e comunicação na poesia de Régis Bonvicino . Analisando a metalinguagem, fazendo uma aproximação de estudos sobre o futebol de Pier Paolo Pasolini e Miguel Wisnik, percebe-se uma síntese entre um futebol concreto (visual, esquemático, cerebral – percebido no número de versos das estrofes que lembram a formação clássica do futebol, como bem destacou Wilbert Salgueiro em sua...

A “Comédia” de Dante: artifício do discurso divino

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Por Marco Perilli Dante e Virgílio. Edgard Degas.   Faz algum sentido, hoje, ler A divina comédia ? A resposta é unânime: sim. Tal como William Shakespeare, ou Miguel de Cervantes; igual a Homero ou a Bíblia. Agora, quanto às razões de tão categórica afirmativa, o critério é genérico, evasivo, apoia-se por trás de uma variedade de banalidades: são clássicos, eternos, exploram as paixões mais profundas, transcendem seu tempo e seu autor, são um espelho de nossa condição. Os clássicos nos leem. Umberto Eco dizia que os clássicos são os livros que odiamos já que nos obrigaram a lê-los na escola. Os clássicos, anotava Flaubert em seu Dicionário de lugares comuns , são os livros que nós presumimos conhecer.   A Comédia de Dante, que Boccaccio qualificou de divina , é o ponto de chegada e não regresso de uma civilização. Se em nosso imaginário, Dante é o criador de um mundo fantástico, o visionário de um além convulso e alucinado, e divertido, entre seus contemporâneos era apenas ...

Dante em 1848

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  O céu de Marte. Canto XIII, Paraíso. Salvador Dalí.   O conde Terenzio Mamiani della Rovere (Pesaro, 1799-Roma, 1885), primo de Leopardi, foi uma figura política influente durante o século XIX na Itália. Católico liberal e maçom, lutou pela unidade italiana e se tornou Ministro da Instrução Pública no governo Cavour em 1860 e posteriormente Vice-Presidente do Senado em 1864. Como era de costume nos políticos da época, deixou abundante trabalho político e literário e até poesia. Em 1848, publicou, como parte de um “Parnaso italiano”, uma antologia dedicada ao Poeti italiani dell’età media, ossia scelta e saggi di poesie dai tempi del Boccaccio al cadere del secolo XVIII . Comparando a fama e a fortuna de Dante e Shakespeare, para escrever sobre a implicância de Tolstói contra este último, me deparei com o livro de Mamiani e seu prólogo em que Dante aparece como o primeiro entre todos os escritores modernos, acima de Shakespeare, que é reprovado por sua falta de religião, como...

Boletim Letras 360º #450

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DO EDITOR   1. Caro leitor, enquanto trabalhávamos obstinadamente para angariar fundos a fim de custear as despesas com o domínio e hospedagem do blog para 2021, recebemos contatos de vários leitores e foi a partir de dois deles que iniciamos um projeto com duplo interesse: reduzir o sufoco da necessidade e retribuir o empenho, grande ou pequeno, que você dedica a este projeto.   2. Com o apoio de editoras parceiras sortearemos a cada bimestre kits com livros entre os apoiadores do Letras . E já conseguimos três apoios para os três primeiros bimestres: a editora Mundaréu, a editora PontoEdita e a editora Bandeirola, respectivamente. Fique atento que divulgaremos por aqui e nas nossas redes o andamento de tudo, incluindo quais títulos encontrarão em cada um dos kits. Você pode se informar detalhadamente sobre como apoiar e garantir sua participação nos sorteios aqui .   3. Avisamos no Instagram e repetimos por aqui. Todos que apoiaram o Letras na campanha que fizemos em 2...