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Boletim Letras 360º #451

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DO EDITOR   1. Caro leitor, esta é a edição de uma publicação criada, como indica o número acima, há 448 semanas para noticiar o que compilamos durante a semana em nossa página no Facebook (e vez ou outra uma novidade exclusiva só aqui) e as demais seções acrescentadas mais tarde com dicas de leituras dentro e fora dessa caixa.   2. Claro, muito agradecemos sua preciosa companhia por aqui e noutras redes com a leitura, o comentário, a partilha e o apoio sempre bem-vindos e nunca demais. Fiquem bem e boas leituras! Anne Carson. Foto: Lawrence Schwartzwald   LANÇAMENTOS   Um novo romance da escritora portuguesa Teolinda Gersão entre nós .   Em O regresso de Júlia Mann a Paraty , a premiadíssima ficcionista portuguesa Teolinda Gersão nos leva, com a maestria de sempre, a uma viagem às profundezas da psique de três personagens com nome e sobrenome históricos — a começar pelo pai da psicanálise e sua relação com o mais famoso filho da teuto-brasileira nascida no...

Abdulrazak Gurnah, Prêmio Nobel de Literatura 2021

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    “O que quero dizer é que não conheço uma grande verdade que deseje ansiosamente divulgar, nem vivi uma experiência exemplar que ilumine as nossas condições e as nossas épocas.”   “Tenho tempo nas minhas mãos, estou nas mãos do tempo, por isso posso muito bem responder por mim próprio. Mais cedo ou mais tarde, temos de contar com isso.”   — De By the Sea , Abdulrazak Gurnah Abdulrazak Gurnah. Foto: Pako Mera.   Muitas coisas fizeram a decisão da Academia Sueca sobre o Prêmio Nobel de Literatura de 2021 marcar um retorno a certa linha tradicional que constitui a história do galardão — e justamente quando essa tradição soma 120 anos. A primeira coisa foi manter o anúncio anual depois de uma suspensão em 2018 quando uma série de escândalos obrigou a dissolução do comitê responsável; no ano seguinte, com o mundo inteiramente assolado pela pandemia do corona vírus, os cerimonias adquiriram o tom paliativo adotado por sociedades do mundo inteiro. Tudo isso, entre...

Os escritores africanos com o Prêmio Nobel de Literatura antes de Abdulrazak Gurnah e suas principais obras publicadas no Brasil

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  De Abdulrazak Gurnah, soube-se muito tempo depois do anúncio do Prêmio Nobel de Literatura, que existia uma obra sua em língua portuguesa. A tradução de  By the Sea  (Junto ao mar), realizada por Fernando Dias Antunes e editada um ano depois da publicação deste romance, isto é, em 2003, pela Difel. Mas, se a lista de escritores africanos reconhecidos com o mais importante prêmio da Literatura é curta — cinco nomes em 120 anos de história do galardão —, a quantidade de livros desses autores acessível aos leitores brasileiros é generosa e significativa; cobre a mais longeva espera pela chegada por aqui da obra de Gurnah, além, é claro, de estabelecer contato com temas e questões caras ao universo criativo do escritor tanzaniano. Por isso, copiamos abaixo copiamos um breve perfil sobre os escritores africanos nobelizados e com a lista, alguns dos seus principais títulos disponíveis entre nós. Wole Soyinka   Até 1986, nenhum escritor africano havia recebido o Prêm...

Ada ou Ardor, de Vladimir Nabokov

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Por Pedro Fernandes Vladimir Nabokov. Foto: Giuseppe Pino.   É num dos encontros entre Ivan Durmânov e Adelaida Durmânov que os amantes redescobrem uma parte do intenso verão de 1844 registrada num álbum difamatório preparado cuidadosamente por um certo rival. A leitura desses registros fotográficos, incluindo alguma especulação em torno das fotografias do segundo reencontro dos dois, em 1888, supostamente descartadas por Ada, se oferece como a oportunidade para que o horrorizado espectador interessado em zelar seu amor dos olhos impuros e da sujeira do mundo se sinta motivado a escrever o livro que agora lemos — “redimirei nossa infância escrevendo um livro sobre ela: Ardis crônica de uma família”. Não é apenas a confirmação do que suspeitamos desde o início do romance, quando encontramos as inferências do narrador, da própria Ada e de um editor, nem só a revelação do ponto de origem da narrativa, este é um instante que reata um traço essencial na literatura de Vladimir Nabokov, o...

A prancheta concreto-marginal de Régis Bonvicino

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Por Wagner Silva Gomes Régis Bonvicino. Foto: Eduardo Anizelli   Esquema:4/3/3 Dinâmica de jogo:3532 / 532 / 423   esse jeito de meia-armador (cerebral distante)   é pra disfarçar a vontade de ser   goleador poeta centroavante   Em “Esse jeito”, poema do livro Régis hotel (1978), o poeta Régis Bonvicino demarca o ponto nevrálgico – e joga entre as linhas – assumindo a sua posição de “um dos principais nomes que compõem a geração de poetas que se assume herdeira e crítica da tradição da poesia concreta”, como destaca Jhenifer Thais em sua dissertação, intitulada Objetividade subjetivada: forma e comunicação na poesia de Régis Bonvicino . Analisando a metalinguagem, fazendo uma aproximação de estudos sobre o futebol de Pier Paolo Pasolini e Miguel Wisnik, percebe-se uma síntese entre um futebol concreto (visual, esquemático, cerebral – percebido no número de versos das estrofes que lembram a formação clássica do futebol, como bem destacou Wilbert Salgueiro em sua...

A “Comédia” de Dante: artifício do discurso divino

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Por Marco Perilli Dante e Virgílio. Edgard Degas.   Faz algum sentido, hoje, ler A divina comédia ? A resposta é unânime: sim. Tal como William Shakespeare, ou Miguel de Cervantes; igual a Homero ou a Bíblia. Agora, quanto às razões de tão categórica afirmativa, o critério é genérico, evasivo, apoia-se por trás de uma variedade de banalidades: são clássicos, eternos, exploram as paixões mais profundas, transcendem seu tempo e seu autor, são um espelho de nossa condição. Os clássicos nos leem. Umberto Eco dizia que os clássicos são os livros que odiamos já que nos obrigaram a lê-los na escola. Os clássicos, anotava Flaubert em seu Dicionário de lugares comuns , são os livros que nós presumimos conhecer.   A Comédia de Dante, que Boccaccio qualificou de divina , é o ponto de chegada e não regresso de uma civilização. Se em nosso imaginário, Dante é o criador de um mundo fantástico, o visionário de um além convulso e alucinado, e divertido, entre seus contemporâneos era apenas ...