Postagens

Diomedes, de Lourenço Mutarelli

Imagem
Por Joaquim Serra   “Sabe por que as pessoas riem de mim?”, diz um dos personagens de Diomedes , o palhaço Chupetin, enquanto o detetive ri descontroladamente. Riem porque “por trás destas vestes existe um miserável que precisa humilhar-se a tal grau para poder ganhar a vida”. O riso trágico é o traço fundamental de Diomedes , quadrinho de 1999, de Lourenço Mutarelli. Na primeira parte da “Trilogia do Acidente”, um misterioso Hermes pede para que o detetive Diomedes encontre Enigmo, um ilusionista desaparecido há vinte anos. O motivo é um apelo pessoal; trazer de volta um momento de prazer da infância, quando Hermes viu o mago do ilusionismo em ação.   Diomedes aceita a proposta que o ajudaria a sair da lama financeira. Policial aposentado e tendo que trabalhar para suportar as contas que não param de chegar, Diomedes é um pícaro contemporâneo; nunca resolveu um caso — nem o caso extraconjugal da companheira com um conhecido seu —, mas exibe um Olho de Hórus na porta do escrit...

Inferno, de Dante Alighieri

Imagem
Por André Cupone Gatti   Saiu pela Companhia das Letras, no segundo semestre do ano passado, uma nova e muito aguardada tradução para o Inferno , primeira parte da Comédia , de Dante Alighieri. Muito aguardada porque, além de apresentar ao público brasileiro mais uma dentre algumas traduções para o português de um dos textos mais notáveis da literatura ocidental, foi empreendida por três tradutores, a seis mãos (fato, até onde sei, inédito por aqui no que diz respeito às traduções dantescas), e não quaisquer três tradutores: Emanuel França de Brito, Pedro Falleiros Heise (ambos pesquisadores da obra de Dante no mestrado e doutorado) e Maurício Santana Dias, um dos mais prolíficos e talentosos tradutores do italiano ao português, premiado no Brasil e na Itália por sua atividade como tradutor.   Qualquer nova tradução de um texto tão geometricamente conjecturado e tão rico de inventividade verbal como é a Comédia já causaria alguma curiosidade nos amantes da boa literatura; ess...

Boletim Letras 360º #468

Imagem
DO EDITOR   1. Caro leitor, devido a alguns probleminhas técnicos não foi possível realizar o segundo sorteio do clube de apoios ao Letras na prevista data de 29 de janeiro de 2022, mas logo na manhã do dia seguinte isso se resolveu e a Pontoedita, parceira que disponibilizou os três títulos para nossos leitores, colocou o pacote a caminho do ganhador.   2. O terceiro sorteio é, como anunciado nas redes sociais do Letras  durante esta semana, oferecido pela editora Bandeirola. São mais três livros escolhidos do catálogo também incrível desta casa. A divulgação dos títulos acontece na semana seguinte. Fique atento  — às redes  e  a esta seção do blog . Nela, é possível encontrar ainda caminhos sobre os sorteios anteriores e saber como participar.   3. Desde já, em nome do Letras, registro os agradecimentos e a alegria das parcerias, da companhia e do apoio de editores e leitores ao trabalho livre e gratuito que aqui desempenhamos.   4. Antes um re...

Brasília 5.5, de Tatiana Nascimento — corte e montagem

Imagem
    Por Wagner Silva Gomes     BRASÍLIA 5.5   sujo demais novo demais escuro demais feridas demais na   pele quase ultimato   um corpo a mais no vagão errado no século errado no continente errado   presença quase desacato   incomoda demais a polícia as pessoas de bem o ar metropolitan chic a                                  pressa                                          do                                       tre...

Joan Didion, a escritora dos instantes comuns

Imagem
Por Juan Tallón Joan Didion. Foto: Tina Barney.   Joan Didion (1934-2021) nasceu em Sacramento, no oeste, e morreu no extremo oposto, em Nova York, nas vésperas de Natal, devido ao mal de Parkinson, segundo informou sua editora, Knopf, ao The New York Times . Toda a sua vida foi passada entre mudanças bruscas, às vezes geográficas, às vezes emocionais. No meio, restaram livros e crônicas que fizeram dela uma das jornalistas mais inovadoras e fascinantes, donas de uma prosa objetiva, poderosa, arrumada, fria e ao mesmo tempo comovente. John Leonard, um de seus editores, dizia que suas frases “chegam a você, se não como emboscada, então como pequenos haicais, como picadores de gelo a laser, com a força das ondas”.   As mudanças de cidade, de estado, até as simples mudanças de endereço, dentro de uma mesma cidade, eram uma tônica. Em sua casa, nas décadas de 1960 e 1970, quando era repórter com mais regularidade, havia uma lista colada na porta do armário, com tudo o que sua mala...

As Índias Galantes, de Philippe Béziat

Imagem
Por Solange Peirão   As Índias Galantes  é um documentário de Philippe Béziat que registra o processo de criação do espetáculo adaptado da obra Les Indes Galantes , uma ópera-balé de Jean-Philippe Rameau, com libreto de Louis Fuzelier, e que estreou em Paris em 1735.   Essa nova montagem foi revolucionária. Como esclarece o diretor Clément Cogitore, se o texto original trata dos embates entre colonizadores europeus e os povos originários de todos os cantos do mundo, a proposta da nova versão foi fazer, da cidade, o mundo, e das diversas culturas urbanas que nela convivem, a sua matéria.   O espetáculo esteve em cartaz no braço da Ópera Nacional de Paris, situado na Place de la Bastille, entre setembro e outubro de 2019.   A ópera   Em síntese, a ópera pode ser expressa pelas peripécias, de toda ordem, que envolvem colonizadores europeus e os povos de além-mar, tanto à ocidente como à oriente, aqueles que genericamente foram classificados como as Índias. ...