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Sobre a terra somos belos por um instante, de Ocean Vuong

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Por Pedro Fernandes Ocean Vuong. Foto: Celeste Sloman/ The New York Times   Condenados ao perecimento, nos sobraram, a depender da vida, alguns instantes (ou mesmo apenas um) que são as únicas circunstâncias redentoras. Ocean Vuong denomina esse breve tempo como magnífico , no sentido de deslumbrante ou belo , para reiterar o termo utilizado na tradução brasileira para o título de seu primeiro romance. Cada uma dessas palavras é incapaz de conter essa porção de vida irrepetível por mais que busquemos alternativas ou refazer os mesmos caminhos que nos conduziram até ela. Chamamos essa eterna tentativa de retorno de poesia, de fé ou de gozo — não que cada uma seja a mesma coisa e sim porque se aproximam desses instantes irreprisáveis.   Em Sobre a terra somos belos por um instante , o escritor recorre a duas imagens da natureza que se revezam na narração como símiles capazes de capturar o ponto de aproximação do sublime, este que aqui se alcança fundindo tais imagens numa sínte...

De como James Joyce escreveu Ulysses e Sylvia Beach o publicou

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Por Nuria Azancot James Joyce. Foto: Gisèle Freund Conta a lenda que uma noite de junho de 1904, um jovem James Joyce vagava pelas ruas de Dublin quando lhe ocorreu paquerar uma garota sem perceber que a jovem não estava sozinha, mas acompanhada de um soldado. Depois de receber um bom soco que o fez cair, um judeu, famoso em toda a cidade pelas infidelidades de sua esposa, veio em seu socorro. E também se diz que depois de um tempo ele pensou em transformar esse episódio humilhante e burlesco num dos contos de Dublinenses , embora tenha acabado por ser o princípio de Ulysses .   James Joyce, o gênio zombeteiro que dinamitou o romance, nasceu em Rathgar, um subúrbio de classe média de Dublin, em 2 de fevereiro de 1882, numa família católica. Seu pai, John Stanislaus, encarnava o melhor e o pior do irlandês por excelência: bom contador de histórias, bebedor descontraído e completamente irresponsável, era pai de dez filhos, dos quais James era o mais velho. Depois de estudar em seleta...

Estridências de Trilce

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Por Sévana Karalékian   Li a obra de César Vallejo pela primeira vez há apenas alguns anos, num contexto universitário. Estava preparando um congresso — na França, nos fascinam e nos assediam — em cujo programa aparecia o trabalho do peruano. Era um evento nacional, e várias conferências foram organizadas naquele ano sobre o poeta, especialmente em Paris — uma capital inevitável, mas também onde Vallejo (1892-1938) repousa no cemitério de Montparnasse, não muito longe de Baudelaire, e a coincidência ainda continua me parecendo um lance de sorte. Certa vez, um professor, a quem chamaremos de S., veio nos apresentar sua leitura de Trilce . Com o livro na mão, ele desabafou: “à primeira vista, pode-se pensar que ele vê nossa cara de idiotas”.   Esse professor havia escrito algumas das linhas mais esclarecedoras que eu estava prestes a ler sobre Vallejo.   Minha primeira impressão de Trilce foi a mesma que o professor S. havia descrito. Seria difícil para mim escolher palavr...

Seis livros para entrar no universo de Pier Paolo Pasolini

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  Pier Paolo Pasolini. Foto: Marka.   Pela natureza da obra, Pier Paolo Pasolini é primeiro lembrado pela sua produção cinematográfica. Mas, o criador italiano começou sua vivência nas artes pela literatura e foi esse campo que se abriu para ele como o mais fértil, situando-o entre os mais importantes nomes do seu país no século XX.   Ele próprio relembra que começou a escrever poesia aos sete anos, no segundo ano do primeiro grau, experiência que passa por uma profunda modificação quando encontra numa aula de literatura a poesia de Rimbaud. Seria nesse gênero que publicaria seu primeiro livro, em 1942. Poesie a Casarsa foi escrito no dialeto friulano, a língua da mãe, nascida ao norte da Itália, em Casarsa della Delizia.   O interesse pela língua falada pelos camponeses, nascido do convívio com a gente de Friuli, onde chegou a morar com a mãe e o único irmão depois assassinado, se deve, como repara Maria Betânia Amoroso, ao reconhecimento da riqueza cultural aí e...

Boletim Letras 360º #474

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DO EDITOR   1. Caro leitor, eis a edição 471 do Boletim Letras 360.º com as notícias copiadas durante a semana em nossa página no Facebook e outras exclusivas neste canal.   2. Aproveito a ocasião para lembrar sobre o próximo sorteio entre os apoiadores do blog — está previsto para o próximo sábado, 26. São três livros oferecidos pela Editora Bandeirola. Você pode conhecer mais sobre o catálogo da casa por aqui . E, sobre como participar do sorteio ou de outras formas de ajudar o nosso projeto aqui . Cabe não esquecer que na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e também ajuda a manter o Letras .     3. Em nome do Letras , obrigado pelo convívio e pelo apoio!  Louise Glück. Foto: DR.   LANÇAMENTOS   O primeiro livro de Louise Glück após ter sido laureada com o prêmio Nobel de literatura de 2020 ganha tradução e edição no Brasil . Nesta coletânea enxuta, de apenas quinze poemas, estão os temas que c...