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A arte de piratear o Ulysses

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Por Eduardo Huchín Sosa James Joyce. Foto: Man Ray.   Como sabemos (porque os suplementos culturais não se cansaram de nos lembrar), no dia 2 de fevereiro de 1922, James Joyce recebeu seus dois primeiros exemplares de Ulysses . A edição parisiense de Shakespeare & Company havia superado todo tipo de dificuldade, entre elas as acusações de obscenidade que haviam sido dirigidas contra alguns capítulos publicados pela The Little Review e que impediam sua comercialização nos Estados Unidos. Em The Most Dangerous Book , Kevin Birmingham assina uma investigação exaustiva não apenas sobre Joyce e seus editores, mas sobre os advogados, censores, juízes, contrabandistas e mecenas que participaram de um longo esforço de quase duas décadas para trazer Ulysses da clandestinidade para o cânone.   Começou também naquele 2 de fevereiro uma história pouco divulgada: a da pirataria do livro nos Estados Unidos. Uma das razões pelas quais Joyce aceitou a edição de Shakespeare & Company...

Uma leitura de Cheia, romance de Natália Zuccala

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Por Tiago D. Oliveira   A leitura é uma queda sem freios; em Cheia o suspenso é veloz como a vida. O primeiro evento da narrativa é capaz de marcar na terra a imagem e o peso de um corpo que carrega tantos outros em sua representação. O peso de gerações — uma mulher e seu marido em uma mesa de restaurante, mesa para um, assim ela pede para o garçom, o esquecimento/ apagamento involuntário como ferramenta de defesa do corpo que reage sem pedir licença. A memória só retorna quando o corpo é novamente sublinhado pela mão do marido em seu ombro, a ressurgir, a recobrar, a retomar um lugar, como fizeram historicamente todos os colonizadores. O corpo da mulher ainda é terra que vem sendo devastada, apossada sem que a natureza respire e mesmo assim, contra tudo e todos, a força se figura em beleza quando a luta é contínua e o brado é marcado por uma resistência de coragem, afeto e dor.   Em seu primeiro romance, editado pela Urutau, Natália Zuccala apresenta uma narrativa “com a seg...

Doze haikus de Kobayashi Issa sobre animais

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Por Pedro Belo Clara Kobayashi Issa. Desenho: Yuki Bishu.     I.   as abelhas em volta do poste — reunião de condomínio     II.   como se não mais pudessem regressar as andorinhas rodopiam no ar     III.   como se não quisesse nada deste mundo uma borboleta esvoaça     IV.   de repente o cão pára de ladrar — a flor de lótus abriu-se     V.   chuva de outono — o cavalinho vendido olha para a mãe     VI.   também as formigas têm um lugar para dormir — flores de cerejeira ao sol-posto     VII.   gansos de passagem — o meu coração também voa alto     VIII.   gatos com cio separados pela parede — amantes que não se tocam     IX.   regresso à minha cabana e as moscas fazem o mesmo     X.   anoitece — como chora o pardalinho abandonado!     XI.   banhado pelo luar e longe de sua mãe o potro chora     XII.   e...

Boletim Letras 360º #479

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DO EDITOR   1. Caro leitor, aproveito esta ocasião para refazer o convite para o sorteio do mês de maio no clube de apoios ao Letras. Desta vez, três livros da editora parceira Companhia das Letras: o romance O avesso da pele , de Jeferson Tenório; o livro de contos Gótico nordestino , de Cristhiano Aguiar; e o romance Ossos secos escrito pelo coletivo formado por Luisa Geisler, Marcelo Ferroni, Natalia Borges Polesso e Samir Machado de Machado.   2. Para se inscrever é simples. Envia R$25 através do PIX blogletras@yahoo.com.br ; finalizada a operação, envia neste mesmo endereço (nosso e-mail) o comprovante. O sorteio está previsto para o dia 29 de maio. A escolha dos títulos desta vez sublinha o Dia da Literatura Brasileira (celebrado no primeiro dia do próximo mês) e a pluralidade de novas vozes de nossa literatura hoje.   3. Outras formas de colaborar com o Letras estão disponíveis aqui . E, cabe não esquecer que na aquisição de qualquer um dos livros pelos links of...

Um itinerário para possível leitura de Antonio Carlos Secchin (Parte 1)

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Por Marcelo Moraes Caetano Antonio Carlos Secchin. Foto: Fernando Rabelo.   Antonio Carlos Secchin é um dos maiores poetas e críticos literários da contemporaneidade, Academia Brasileira de Letras, sucessor de meu saudoso amigo Marcos Almir Madeira no Petit Trianon. Ambos, Secchin e Madeira, além de outro membro da ABL, Arnaldo Niskier, tiveram o longânimo gesto de prefaciar meu primeiro livro de poesias, Cemitério de centauros (FIRJAN, 2007), que ganhou o prêmio da Fundação Guttemberg na XIII Bienal Internacional do Rio de Janeiro (2007) e foi traduzido para o sueco um ano depois. Secchin é também membro da Academia Brasileira de Filologia e do PEN Clube internacional, onde somos confrades, além de professor emérito da UFRJ. Esta série de artigos que passo a publicar no Blog Letras comporá livro que estou escrevendo sobre a obra de Antonio Carlos Secchin, notadamente sobre seu livro Todos os ventos (Nova Fronteira, 2003). * * *   É praticamente inevitável iniciar-se a leitu...