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Boletim Letras 360º #485

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DO EDITOR   1. No dia 29 de maio de 2022 realizamos o último sorteio incluindo Kits de livros fornecidos por editoras parceiras que se dispuseram contribuir conosco para levantar fundos de custeio do domínio e hospedagem do Letras aqui na web.   2. O seu apoio é ainda necessário, continuamente. Os sorteios continuarão, com Kits de livros ou livros isolados entre todos os apoiadores. Simplificamos os valores. Agora é possível ajudar com valores a partir de R$10 através do PIX blogletras@yahoo.com.br .   3. Outras formas de colaborar com o Letras estão disponíveis aqui . E, cabe não esquecer que na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto, também ajuda a manter o Letras sem pagar nada mais por isso .   4. A todos que ajudaram, direta ou indiretamente, reiteramos, também continuamente, nossos agradecimentos. Yasunari Kawabata.   LANÇAMENTOS   Pela primeira vez, o último romance de Yasunari Kawabata ganha tra...

Armadilhas dos versos

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Por Beatriz Sarlo Virginia Woolf e Vanessa Bell jogam críquete, 1894.  É constantemente repetido que vivemos superconectados. Alguns dizem criticamente ou incomodados com a interferência. A maioria, com um espanto que tenta passar despercebido para que o eventual interlocutor não suponha que a pessoa que o diz acabou de descobrir, pois é um estreante na web e verifica se seu aniversário já foi mencionado na página de um amigo no Twitter. Ok, estamos superconectados.   Eu me pergunto como é possível ler algo longo e difícil em estado de superconexão. Quando os textos literários completos começaram a aparecer na web , pensei que minhas leituras para as próximas férias já estavam estocadas, pois não precisaria carregar uma sacola com meia dúzia de livros para as serras. Levaria apenas um tablet.   Escolhi Salammbô , romance de Flaubert que, ao tentar lê-lo aos 15 anos, havia abandonado, porque me remetia a lugares e tempos desconhecidos e, portanto, intransitáveis. Seriam r...

Maria Gabriela Llansol: a escrita do corpo ou o corpo da escrita

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Por Fernanda Fatureto   Maria Gabriela Llansol (1931 – 2008) é uma escritora inclassificável. Sua escrita flerta com o inaudível e incorpora, em sua obra, o vazio. A escritora negava dizer que seus textos eram parte da ordem do ficcional. Para ela, escrever era abarcar o mistério da existência de todos os viventes sob a terra — seja uma planta, um animal, pessoas… Todos eram parte de um mesmo universo que ela transmitia em sua escritura.  A escritora nascida em Lisboa não fazia distinção entre os “viventes” (como gostava de dizer) e até mesmo autores que admirava como Nietzsche, Fernando Pessoa, Rilke, Bach eram transpostos para seus textos sob a forma de “figuras” e não personagens.   João Barrento, pesquisador e responsável por editar sua obra e organizador do Espaço Llansol em Portugal, organiza desde meados de 2007 e 2008 o espólio da autora e edita os diários que Maria Gabriela Llansol escreveu desde seu exílio na Bélgica na década de 1970. Chamado de Livro de Horas...

Literatura, heróis e rebeldia

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Por Gisela Kozak Rovero André Derain. Ilustração para o Satíricon , 1934.   Aristóteles dizia em sua Poética que a tragédia não devia desafiar os valores sociais; seu papel catártico acontecia quando o espectador se olhava no espelho dos horrores que ocorriam aos personagens, expressão da ordem natural das coisas.   O espectador contempla o que os deuses fazem com homens e mulheres, talvez comovidos por tanto sofrimento, sem duvidar de sua inevitabilidade. Para o bem do mundo, Édipo deve pagar pela falha que nem sequer sabia que havia cometido, o incesto com a mãe. Antígona, outro personagem de Sófocles, desobedece às leis; a jovem morre defendendo as tradições e a família. Ela enfrenta o autoritarismo, o faz em nome de valores considerados superiores e enfrenta a morte: uma mulher não deve desafiar nenhum bastião patriarcal. A luta entre antigos e novos valores atravessa as tragédias gregas; porém, violar o delicado equilíbrio entre homens, deuses, polis, reis, homens e mulh...

John O’Hara: a arte de queimar pontes

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Por Kiko Amat John O'hara. Foto:  Ben Martin   Sempre desconfiei de pessoas que não têm inimigos, embora, claro, alguns estão sempre num outro extremo. John O’Hara, um dos grandes escritores estadunidenses do século XX, colecionou ao longo de sua vida grandes inimizades em todas as áreas da literatura e da imprensa; ressentimentos perenes que determinariam seu legado e presença no cânone moderno. E pagava com a cara. Dê uma olhada na foto dele: está ostentando o típico rictus do fulano que acabou de ouvir em um bar como dois tipos, a dois bancos de distância, trocavam comentários lascivos sobre sua esposa.   Não, John O’Hara não era um fidalgo gentil. Alguns até sugerem que ele era um grande filho da puta: arrogante, pouco generoso, briguento (com um “temperamento volátil”), mais ambicioso do que o plano de expansão territorial do Terceiro Reich e, ainda por cima, com um vinho muito ruim. Muitos outros artistas ganharam uma reputação de mau humorados, sim, mas alguns del...

Elena Poniatowska ou a arte de escutar

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Por Vicente Alfonso Elena Poniatowska. Foto: Eunice Adorno Em maio de 1953, Elena Poniatowska tinha vinte e poucos anos e costumava ler os jornais na casa de sua mãe. Certa tarde, acompanhou a mãe a um coquetel em homenagem a Francis White, o recém-nomeado embaixador dos Estados Unidos no México. Na hora das apresentações, a moça solicitou uma conversa com o diplomata. O encontro aconteceu no dia seguinte e foi, nas palavras da autora, “uma entrevista muito tola”. Não deve ter sido tanto assim, porque ela foi imediatamente contratada como jornalista no Excelsior . Ela se lembrou com estas palavras em setembro de 2015, quando a entrevistei para este mesmo suplemento durante o Encontro Internacional de Jornalismo organizado pelo El Universal : “Como eu era mulher, eles me mandaram para as colunas sociais. Você sempre sente que refundam frequentemente as colunas sociais, uma seção que não tem tanta importância agora, mas quando eu entrei era diferente, servia para políticos e banqueir...