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Manuel Puig e o poder dos às margens

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Por Ariel Schettini Manuel Puig. Foto: Ulf Andersen.   A esta altura da cultura já não é mais necessário apresentar Manuel Puig à comunidade de leitores. Todos o conhecem; e os que ainda não o conhecem, deveriam fazê-lo. Tornou-se um símbolo nacional. E, sem dúvidas, é o romancista argentino mais importante do século XX, comparável apenas a Roberto Arlt e Julio Cortázar. Mas é sempre injusto comparar artistas, porque suas obras são incomensuráveis.   Ainda assim, poderia se pensar, em um contexto latino-americano, como o escritor mais urbano e cosmopolita da geração do pós-Boom. E ainda mais, um dos poucos escritores argentinos que pode ser parte da imaginação coletiva em dois sistemas, o das livrarias — no mercado dos Best-sellers — e no das academias.   Todos sabemos que esses dois modos de circulação da literatura se confrontam e se opõem universalmente. Mas, a obra de Manuel Puig ultrapassa as fronteiras definidas entre as teses e as caixas registradoras com a comodid...

Alain Robbe-Grillet: do novo ao cine-romance

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Por Adriana Bellamy Alain Robbe-Grillet. Foto: Arquivo Robbe-Grillet.   Amante do esquivo e dos jogos de linguagem, Alain Robbe-Grillet é um dos escritores que renovou os gêneros romanesco e autobiográfico, mas também foi um pesquisador incansável em outros campos como textos críticos, artigos jornalísticos e cinema. Engenheiro agrônomo de profissão, Robbe-Grillet nasceu em Brest a 18 de agosto de 1922 e durante a década de 1950 tornou-se uma figura de destaque na vanguarda literária, especialmente após a publicação de seu segundo romance Le voyeur (À espreita, 1955). Já são bem conhecidas as discussões bizantinas desencadeadas pelo surgimento deste texto e as análises de seus fervorosos defensores, de Roland Barthes, Morrissette ou Blanchot, a Queneau e Bataille. Vários escritores fizeram parte do que ficaria conhecido como o novo romance, que além de Robbe-Grillet incluiu figuras como Michelle Butor, Nathalie Sarraute, Claude Simon e Marguerite Duras.   Algumas das caracter...

O fator Wells

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Por Christopher Domínguez Michael H. G. Wells. Foto: Yousuf Karsh   Não há dúvida que Herbert George Wells (1866-1946) foi uma das figuras decisivas da primeira metade do século XX e que, precedido por Júlio Verne, moldou, previu e profetizou muito do que seria o presente e o futuro. Dos seus sessenta livros, escritos em quase todos os gêneros, basta lembrar apenas alguns dos títulos de seus romances para medir sua influência: A máquina do tempo (1895), O homem invisível (1897), A guerra dos mundos (1898) e Os primeiros homens na Lua (1901). Quase todas as coisas que surgiram no século passado pareciam dever-lhe a existência, e isso é demonstrado por Sarah Cole, a mais recente de seus exegetas, em Inventing Tomorrow. H.G. Wells and the Twentieth Century (Columbia University Press, 2020). É, segundo ela, o “fator Wells” e ela não é a primeira a considerar esse fator, nem será a última a fazê-lo.   Para além dessa tetralogia que marca a transição entre os séculos XIX e...

Desvelando uma dialética doméstica: leituras de Otelo

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Por Guilherme Mazzafera Otelo e Desdêmona. Eugàne Delacroix. Em suas famosas palestras, agrupadas no clássico Shakespearean Tragedy (1904), A. C. Bradley dispende algum tempo tentando divisar quais os elementos que compõem a substância e sustentam a construção da tragédia shakespeariana. Para ele, as tragédias do bardo envolvem uma história de sofrimento e calamidade que conduz ao declínio e morte de um homem de estatura social elevada. As calamidades e sofrimentos enfrentados pelo herói são sobretudo derivados de suas próprias ações, por meio das quais seu caráter se expressa. Os heróis são indivíduos de alta proveniência social, obtida por nascimento (reis e príncipes) ou mérito (autoridades militares), que têm que lidar com a impossibilidade de controlar o curso dos eventos que de alguma forma iniciaram e cujo destino privado acaba por afetar a esfera pública, adquirindo poderoso sentido simbólico (BRADLEY, 2009, p. 6-8).   Desde suas palestras iniciais, Bradley chama atenção p...

Boletim Letras 360º #496

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    DO EDITOR   1. Caro leitor, eis uma parte das notícias que passaram durante a semana nas redes sociais do Letras . Na edição passada, disse que durante a semana o leitor saberia qual livro substituiu o sorteio da edição especial do Ensaio sobre a cegueira . A semana ainda não acabou, então fique atento. Para participar dos sorteios basta apoiar o Letras — todas as informações aqui .   2. E, não esqueça, na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados aqui, você ganha desconto e ainda ajuda ao Letras com as despesas de domínio e hospedagem na web sem pagar nada mais por isso .   3. Bom final de semana com descanso e boas leituras! Luigi Pirandello. Foto: Mondadori.   LANÇAMENTOS   Uma das obras principais de Pirandello em nova edição .   O Diretor, em mais um dia de trabalho, orienta os atores no ensaio de uma peça com o sugestivo nome de O jogo dos papéis, de ninguém menos que... Pirandello. De repente, irrompe no teatro um g...