Postagens

O olhar diferente

Imagem
Por Nadia Villafuerte Herta Müller. Foto: Jack Mikrut   Um menino a cavalo. O cavalo no meio de um rio. Um cavalo que joga o menino no chão e o pisoteia até a morte. O pai do menino que pula na água para resgatar seu filho. Outras crianças, testemunhas, que veem como o pai envelhece num instante. Crianças que viram tudo e não conseguem descrever como aconteceu a cena, completamente transparente e ao mesmo tempo uma enorme miragem, quando a vida de um homem chega ao fim de forma semelhante, mas também diferente à morte de seu filho. E porque onde a presença do cavalo lembra a ausência da criança morta, o pai da criança morta prossegue: pega um machado e desfere golpes até o crânio do cavalo se partir. Um machado insano sobrevivendo ao homem e ao cavalo, que não estão mais curiosos sobre as almas um do outro.   Nenhuma criatura é inocente, diz a si mesma Herta Müller, nem o machado deste bucólico postal, nem mesmo esta paisagem, porque não sabemos se a paisagem é testemunha ou r...

Oscar Wilde, a verdade de máscara

Imagem
Por Juan Arnau Oscar Wilde, Nova York, 1882. Foto: Estúdio Napoleon Sarony.   A origem está sempre presente. A origem não faz parte do tempo, nem das máscaras, e, no entanto, está lá, à espreita, à espera de reconhecimento. A origem é o que está por trás da máscara. Há pessoas desesperadas por outro tipo de reconhecimento, social, teatral, que é basicamente o mesmo. Oscar Wilde foi uma delas. Toda a sua vida foi rebocada por essa necessidade. Ele sabe que o teatro purifica e espiritualiza, que inicia sentimentos nobres. É sua droga e seu veneno. E a literatura, porque as palavras também são máscaras, disfarce, cor, música que anuncia o invisível. Ele mesmo disse isso várias vezes. A emoção por si mesma é o fim da arte, enquanto a emoção pela ação é o fim da vida e dessa organização prática da vida que chamamos de sociedade. A sociedade pode perdoar o criminoso, mas não o sonhador. “As belas emoções estéreis que a arte provoca em nós são abomináveis ​​aos olhos da sociedade.” A cont...

Boletim Letras 360º #506

Imagem
  DO EDITOR   1. Caro leitor, até o mês de novembro, lembrarei aqui sobre o sorteio que agora o blog realiza com o apoio da Editora Trajes Lunares. A casa disponibilizou dois Kits de livros para sorteio entre os participantes do nosso clube. Este clube de apoios é uma das alternativas para ajudar este blog com o pagamento das despesas anuais de hospedagem na web e domínio.   2. Para participar dos sorteios é simples. Envia um PIX a partir de R$15 a blogletras@yahoo.com.br; para saber mais sobre os livros da Trajes Lunares disponíveis, sobre outras formas de apoiar, visite aqui . E lembro que: a aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste Boletim garante a você desconto e ajuda ao blog sem pagar nada mais por isso .   3. Boas leituras! Vinicius de Moraes. Arquivo Portal Terra.   LANÇAMENTOS   Livro reúne mais de uma centena de textos inéditos de Vinicius de Moraes .   Nome central da poesia e do cancioneiro brasileiro, Vinicius de ...

Decálogo para contistas segundo Julio Ramón Ribeyro

Imagem
Julio Ramón Ribeyro. Foto: Baldomero Pestana   O conto é um gênero literário que sempre me cativou. Desde a infância, para ser exato. Jamais esquecerei a impressão que “Riquet”, de Anatole France, me causou quando eu tinha onze ou doze anos: quando cheguei ao final senti uma espécie de sufocamento ou vertigem pelo desfecho inesperado. Mais tarde, outras histórias me seduziram, mas por motivos diferentes: “Os olhos de Judas”, de Valdelomar, pelo seu tom nostálgico e melancólico; “A jarra” de Pirandello, pela graça da situação; “Carta roubada”, de Poe, pelo engenho de sua intriga; “Bola de sebo” de Maupassant, pela revoltante crueldade da história; “José Matias” de Eça de Queirós, pela sua delicada ironia, ou “Um coração simples” de Flaubert, pela concisão do seu estilo. E mais tarde ainda, ao ler os contos de Kafka, Joyce, James, Hemingway e Borges, para citar alguns autores, descobri novas probabilidades e alegrias na narrativa breve; a lógica do absurdo, a habilidade técnica, a ar...