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Boletim Letras 360º #529

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DO EDITOR   1. Olá, leitores, os mais assíduos neste espaço já podem ter visto que iniciamos um novo trabalho de restauração e revisão visual do blog, um ano depois da última grande reforma que realizamos. É o cuidado para rumar ao aniversário de 20 anos. Ainda está um pouco distante, mas quatro anos é pouca coisa.   2. O blog, lembramos, conta com a sua ajuda para o custeio das despesas mínimas de domínio e hospedagem. Conheça todas as formas de colaborar, aqui .   3. Entre essas formas, está a aquisição de qualquer um dos livros apresentados neste Boletim pelos links nele ofertados ou mesmo qualquer produto adquirido online usando este link .     4. Esperamos que o feriado tenha sido ótimo e desejamos um rico final de semana! Hilda Hilst. Foto: Eduardo Simões.   LANÇAMENTOS   Dois novos volumes do Teatro Completo de Hilda Hilst .   1. O terceiro volume do seu Teatro Completo reúne duas peças: O rato no muro , de 1967; e O auto da barca de Cami...

Um antídoto contra a solidão, de David Forster Wallace

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Por Bruno Botto Livros de entrevistas podem ser mais sinceros e verdadeiros do que uma biografia. No jogo jornalístico de perguntas e respostas as coisas são o que são. Claro, é curioso ver a figura do escritor recluso ser colocada na prova de fogo de responder sobre sua vida, rotina de trabalho, sua arte e o que pensa do mundo. Normalmente, essas formalidades não passam de um pequeno compromisso editorial, publicitário ou matar a fome de curiosidade de alguns leitores. Entrevistas significam muito para o jornalista e o veículo, mas talvez o escritor, esqueça das perguntas ou suas respostas no momento que tudo acaba.     Claro, Truman Capote e Tom Wolfe organizaram coisas impressionantes no jornalismo literário, matérias e reportagens que mudaram o jeito de escrita e a concepção de matérias e reportagens. Se a gente for levar para a grande mídia televisiva, as entrevistas exclusivas de Oprah Winfrey devem ter milhões de views no YouTube. Existe a herança do sensacionalismo, ...

O pai da menina morta, de Tiago Ferro

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Por Renildo Rene Tiago Ferro. Foto: Mira Cervino   Escrever sobre Tiago Ferro é poder escrever sobre a questão da forma no romance contemporâneo brasileiro: são vários os caminhos para entender a correspondência da estrutura com o tema, e cada escritor parece oferecer um norte para isso. E no centro dessa ideia, um sentido claro: é preciso ter o olhar crítico sobre os nossos escritores, sobre o que eles nos dizem sobre sua escrita e, principalmente, sobre suas narrativas. Neste caso, a resposta de Tiago Ferro parece mais congruente diante do que ele nos apresenta em seu primeiro lançamento. Sua concepção literária de luto perpassa pelo narrador e pelo estilo fragmentado — pensados em conjunto para o romance.   O sentido humano dado ao narrador de O pai da menina morta é uma das razões pelas quais o livro se torna atraente a cada leitura, e porque devemos nos lembrar dele como um exercício exemplar de escrita que pode desestabilizar o leitor do lugar-comum. Essa mais nova cur...

Argentina, 1985: um homem contra o sistema

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Por Ana Laura Pérez Flores As pesquisas conduzidas por historiadores partem de um esforço, amplamente documentado em diversas fontes, para apreender e interpretação um tempo passado. Já no cinema, a construção de uma narrativa histórica faz com que se percam as nuances em favor da síntese; além disso, a forma como a história é contada fala do momento e da posição a partir da qual essa história é construída. Isto adquire uma dimensão a mais se nos referirmos aos episódios de uma história recente em que entram em jogo emoções e interesses que continuam vigentes, bem como consequências sociais e políticas que alcançam o presente e se mostram na vida cotidiana de forma mais ou menos evidente. Argentina, 1985 (2022) enfrenta esse dilema ao extrair um caso exemplar para a América do Sul e abordá-lo com recursos narrativos — clássicos e eficazes — para entregar uma história comercial e simplificada, sim, mas também esperançosa.   Dirigido por Santiago Mitre com roteiro dele e de Mariano...

O universo de Bruno Schulz

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Por Sergio Pitol Bruno Schulz, Autorretrato , 1920. Arquivo: Museu Nacional da Cracóvia.   No panorama da literatura polonesa de vanguarda, que decorreu no período entre as duas grandes guerras, destacam-se três figuras insólitas, totalmente diferentes entre si, cuja obra começa a ser devidamente apreciada apenas nos últimos anos. São eles: Stanisław Ignacy Witkiewicz, Witold Gombrowicz e Bruno Schulz. A obra desses três “excêntricos”, repleta de aparentes jogos, paródias, caricaturas, exageros levados à última instância, oferece-nos a mais rica fonte de ideias de todo aquele período. Antecipando-se em um quarto de século à literatura francesa, inglesa e norte-americana do absurdo, eles nos oferecem um antegozo do trágico absurdo em que o homem real se veria submerso alguns anos depois. O terror diante de um mundo que vai transformar o homem em coisa e, como coisa, em algo incapaz de sentimentos, alheio às ideias, radicalmente negado ao fantástico e à poesia e ao intelectual —...

Tudo o que queria dizer sobre Gustave Flaubert, de Guy de Maupassant

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Por J. Ernesto Ayla-Dip   Em 1883, Guy de Maupassant publicou Uma vida , romance que muitos críticos da época, entre os que professavam o naturalismo e também os que se opunham a ele, consideraram uma obra importante. Houve mesmo quem visse nesta terrível história de desilusão e crueldade, a história oposta, a metáfora antagônica de Madame Bovary . Na verdade, Flaubert não foi estranho à cristalização desta obra. Maupassant precisou de seu apoio o tempo todo enquanto a escrevia.   A leitura de Uma vida , entre outros substanciais ensinamentos, indica um impulso semelhante entre os dois autores: um olímpico desafeto pela política, o mesmo que Maupassant mostra para com a realidade política francesa em seu romance, pois abrange um período que vai da Restauração à a revolução de 1848 e disso não há o menor indício. Essa militância na não militância política e social une os dois escritores, da mesma forma que o fervor inegociável pela arte absoluta. (Sobre esta interessante que...