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Três importantes escritores ucranianos de agora (1)

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Por Mercedes Monmany   Serhiy Zhadan. Foto: Hanna Hrabarska  Diz-se que cada guerra encontra o melhor ou os melhores cronistas literários para contar essa experiência atroz e bárbara que quebra todos os parâmetros conhecidos da vida normal, civilizada, em comunidades que até então não eram obrigadas a viver em um inferno dantesco cotidiano e inimaginável. Se grandes obras como Nada de novo no front , de Remarque, Por quem os sinos dobram , de Hemingway, ou Vida e destino , de Vassili Grossman, contaram os horrores da guerra, vividos em simultâneo, pode-se dizer que, no caso da atual guerra na Ucrânia, um magnífico e avassalador romance como Orfanato , do poeta, músico e escritor Serhiy Zhadan, será lembrado como uma obra insubstituível. 1   Reconhecido como um dos importantes poetas ucranianos da atualidade, além de filólogo que se doutorou com uma tese sobre os futuristas ucranianos dos anos 1920, músico que se define como um “punk proletário”, além de tradutor de Bukows...

Boletim Letras 360º #534

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    DO EDITOR   1. Olá, leitores, como vão? Eis a 531.ª edição do Boletim Letras 360.º com parte das novidades que circularam durante a semana nas redes do Letras e outros acréscimos sempre exclusivos nesta publicação.   2. Na aquisição de livros ofertados pelos links neste Boletim você pode garantir um bom desconto nas suas compras, ganhar frete grátis e sem pagar nada mais por isso. Para o frete grátis você precisa ser cliente do Amazon Prime. Para assinar ou comprar qualquer outro produto que não os apresentados nesta publicação, vá por aqui . 3. Para conhecer mais sobre todas as formas de ajuda a este projeto no custeio do domínio e hospedagem online, visite aqui. Desejamos um excelente final de semana! Thomas Bernhard. Foto: Alexander Beck   LANÇAMENTOS   Publicado pela primeira vez em 1978, Sim é o relato exasperado e convulsivo de um cientista sem perspectivas e seu encontro com uma mulher tão sombria quanto ele .   O narrador desta novela ti...

O cronista em você

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Por Bruno Botto Luis Fernando Verissimo. Uma das esculturas de Ricardo Leite.   Lembro que fui introduzido em idade bem tenra às crônicas de Luis Fernando Verissimo por minha vó. Os livros tinham capas coloridas e a caricatura de um homem pequeno e gordinho; era o suficiente para eu achar que aquilo poderia ser parecido com os desenhos que eu assistia. Não sei qual foi o critério utilizado por ela, mas achava que as leituras curtas e humoradas de Verissimo poderiam ser um bom remédio para inquietude juvenil ou queria, lá no fundo, me ver um leitor de crônicas e quem sabe em um futuro não muito distante, um cronista.     Li inúmeras vezes na casa da minha avó os mesmos dois livros, Comédias para se ler na escola e A mesa voadora . Para quem não conhece as crônicas que Verissimo já escreveu para os maiores jornais e revistas de todo o país, aí vai uma breve introdução de suas principais características: texto curto, humor sempre presente, linguagem coloquial mas ao mesmo ...

Padre Sérgio, de Liev Tolstói

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Por Pedro Fernandes Liev Tolstói. Foto: RIA Novosti Há muito que a crítica evidenciou como Liev Tolstói buscou concentrar na prosa curta as alargadas dimensões do romanesco. Padre Sérgio parece ser um exemplo singular nesse sentido. Aqui a narrativa contempla quase toda a extensão da vida de seu protagonista, Stiepán Kassátski. As estratégias adotadas pelo escritor russo são variadas, certamente. No caso dessa novela, prevalece alguns fios, diríamos, invariáveis da alma humana que ora afirmam certa unidade da personagem e, por conseguinte, da narrativa, ora trabalham para o estabelecimento das tensões, isto é, questionando os próprios limites da possível invariabilidade. Todo o conflito se nutre de certo corte platônico, entre o real e o ideal.   Encravado no interior de uma radical racionalidade, Kassátski revela-se de imediato a partir de duas qualidades entre as mais evidentes da sua persona: é um homem obstinado e acentuadamente interessado na perfeição. Como entre nossos int...

Do livro para a tela: adaptações das três grandes damas do romantismo

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    Por Alicia Medina   As três autoras do romantismo por excelência foram Emily Brontë, Mary Shelley e Jane Austen, cujas obras permaneceram imortais, tanto para os leitores que a elas voltam vezes sem conta, como para o cinema, que soube adaptá-las a cada época, contexto social e gostos dos espectadores. Desses filmes, os que respeitosamente transgrediram a obra original foram os que melhor transmitiram sua alma, não importa que Luis Buñuel tenha mudado o morro dos ventos uivantes para uma fazenda mexicana, que a criatura de Frankenstein tivesse uma namorada drag ou que agora falemos de preconceitos que têm a ver com classe, cor da pele, gênero e orientação sexual, desde que a adaptação reflita o que os leitores sentiram ao ler o livro.   O Morro dos Ventos Uivantes, de Emily Brontë O Morro dos Ventos Uivantes , de William Wyler A primeira adaptação do romance de Emily Brontë foi um filme mudo dirigido por A. V. Bramble e lançado em 1920. No entanto, atualmente é ...

Os personagens de Herman Melville: iniquidade, inocência e fatalidade

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Por J. Rafael Hernández Arias   Nas obras de grandes escritores encontramos personagens que, sem chegar ao nível dos mitos literários mais famosos, como podem ser Dom Quixote, Don Juan, Fausto ou Hamlet, por algum motivo se fixam em nossa memória e emergem à consciência quando menos se espera. Parecem funcionar como uma espécie de déjà vu , e entendemos que, em virtude de alguma associação misteriosa, nos ajudam a nos identificar, definir e interpretar as circunstâncias em que nos encontramos envolvidos. Depois de um longo trabalho de tradução, experimentei essa sensação sobretudo com alguns personagens de Melville, dotados de uma qualidade, consistência e complexidade inigualáveis.   Da personalidade extravagante pela passividade e apatia de Bartleby, passando pela alma aterrorizante de Ahab, a angustiante inércia de Benito Cereno, até a pureza e a auréola virtuosa de Billy Budd, pelas páginas da obra do escritor estadunidense desfilam personagens marcadas por referências sim...