Postagens

Nadine Gordimer: romances contra o apartheid

Imagem
Por Salustiano Martín Nadine Gordimer. Foto: Ulf Andersen   Uma reflexão narrativa contra a opressão   As obras de Gordimer não podem ser separadas das condições sociopolíticas em que o seu país se debate. E mais: dependem minuciosamente dessas condições. A mulher Gordimer e a escritora Gordimer são a mesma pessoa. Ambas defenderam firmemente os escritores negros do seu país, comprometidos com a luta contra o apartheid e que sofrem frequentes censuras, prisões e exílios. Ambas apoiaram, com a sua atividade, a Frente Democrática Unida (que teve muitos dos seus líderes presos por “traição ao Estado”), na qual, após os massacres de Soweto de 1976 e o ​​subsequente crescimento da luta armada, vieram reunir todos os grupos na luta contra a segregação na África do Sul.   Embora Gordimer afirmasse que começou a escrever estimulada pelo sentido do maravilhoso, pelo sentimento do mistério da vida, e também pelo caos dessa mesma vida, a verdade é que, no fundo, é sobretudo este ú...

Boletim Letras 360º #561

Imagem
    DO EDITOR   1. Olá, leitores! Aproveito o espaço para agradecer a todos os leitores que se engajaram no último sorteio entre os apoiadores do Letras neste ano de 2023. Os livros daqueles que entraram em contato com os endereços foram encaminhados na última quinta-feira. Quem ainda não viu, pode acessar o resultado por aqui .   2. Foi noticiado nos espaços sociais virtuais ocupados pelo Letras , mas não custa repetir: campanhas como essas somadas aos poucos trocados pingados do uso dos nossos links da Amazon e venda de livros no nosso bazar cobriram as despesas de domínio e hospedagem na web do blog e ficou uma pequena quantia para os custos de 2024.   3. Para saber de próximos sorteios ou outras formas de colaborar com esse projeto, pode acessar aqui , nos procurar pelas redes sociais ou pelo e-mail blogletras@yahoo.com.br sempre que precisar.   4. Seguimos, graças a vocês! Silviano Santiago. Foto: Pool Gaillarde   LANÇAMENTOS   Antologia ...

O Misantropo, de Molière: entre honra e dissimulação

Imagem
Por Guilherme França O misantropo, de Molière. Ilustração: Dubout    No consagrado romance Moby Dick , de Herman Melville, o leitor se depara com a afirmação de que todo homem grande só chega a sê-lo por meio de certeza morbidez . Por sua vez, Alceste, o ingênuo protagonista da peça O Misantropo (1666), de Molière, irritava-se já àquela época com os melindres necessários para que um sujeito pudesse transitar entre os diversos grupos sociais.   Embora alguns comentadores da obra prefiram exaltar o comportamento mais ou menos imaturo ou intransigente de Alceste diante de uma sociedade que não compreende e que não segue os padrões morais que carrega em si, prefiro ser um daqueles que dá certo crédito às análises e críticas sociais formuladas pelo indignado e intransigente personagem.   Alceste é repreendido em vários momentos, por diferentes personagens, em virtude de sua personalidade inflexível diante das manobras e falsidades às quais as pessoas se sujeitam para f...

Confissões da ilha

Imagem
Por Pedro Fernandes   A ilha é, afinal de contas, o refúgio último da liberdade, que em toda a parte se busca destruir. — Carlos Drummond de Andrade Pilar del Río. Foto: Jeosm   Na sessão de apresentação do romance O último minuto na vida de Saramago ocorrida em outubro de 2023 na reservada e preciosa Sala Gema da Livraria Lello, no Porto, Miguel Real colocou José Saramago e Pilar del Río entre os grandes amores que constituem a história (e já o imaginário) portuguesa. Sem a sina trágica e sem os clichês da convenção amorosa, na concepção do escritor, o encontro conciliou uma união ibérica centrada nos princípios mais caros ao humano neste século: os de uma ética centrada nos valores culturais, críticos e integrados com a ação interventiva e libertária num mundo continuamente assombrado pelas opressões e de escassa mão-de-obra para as transformações capazes de desviar a civilização do projeto de ruína para o qual se dirige cegamente.   José Saramago conheceu Pilar del R...

“O assassino”, a inusual fantasia proletária de David Fincher

Imagem
Por Alonso Díaz de la Vega   Durante grande parte das filmagens de O assassino (2023), David Fincher se dedica à tarefa mais essencial do cineasta: mostrar personagens. espaços, ações, objetos. A sua observação é por vezes demasiado rápida e até mecânica para pensarmos que estamos vendo um filme de processos, ou seja, que contempla, passo a passo, e por sugestão do título, como matar.   Onde os fracos não tem vez (2007), dos irmãos Coen, seria um bom exemplo recente, graças ao rigor com que descreve como Anton Chieurh (Javier Bardem), o homem-peste, faz uma arma com tanque de gasolina, ou como seu rival. Llewelvin Moss (Josh Brolin), prepara armadilhas para ele em um quarto de hotel. A narrativa congela ao observar, quase com fetichismo, os fascinantes mecanismos do homicídio, que mesmo imorais ainda não deixam de surpreender. O cinema é, afinal, uma oportunidade de ver o que a vida cotidiana nos esconde.   O assassino , por outro lado, não vai tão longe, mas porque nã...