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Visitas a Walt Whitman por Virginia Woolf

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    Virginia Woolf ficou reconhecida pelos seus romances e contos. Mas foi também uma exímia crítica literária, interessada pela leitura de obras variadas ou por personalidades marcantes. Entre 1908 e 1938 ela colaborou escrevendo textos críticos para The Times Literary Supplement . Nessas duas décadas o editor do suplemento Bruce Richmond enviou-lhe centenas de livros com interesse na opinião da escritora inglesa.   Entre esses livros, esteve Visits to Walt Whitman in 1890-1891 , de John Johnston e James William Wallace. Trata-se de um relato dos encontros entre dois membros da Bolton Whitman Fellowship com o poeta estadunidense de Folhas de relva . A resenha de Woolf foi publicada na revista em 3 de janeiro de 1918 e é um delicado retrato de Whitman ressaltando-se algumas das qualidades que, certamente, ela própria tinha como suas ou foram integradas à sua obra e ao seu pensamento — vale a leitura deste texto de Neal E. Buck “Whitman in The Waves ”, publicado em Liter...

Os rejeitados. Hollywood regressa aos clássicos de inverno

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Por Alonso Díaz de la Vega Pode parecer contraditório — ou de fato é — preferir uma nostalgia a outras, mas agarro-me a isso. Quando escrevi sobre Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo (2022) encontrei uma armadilha que representava as formas de consumo na pós-modernidade, ou seja, pareceu-me que evocava os filmes de ação de Hong Kong e o cinema romântico de Wong Kar-wai para criar uma identificação com os espectadores que o declarariam um manifesto cinéfilo, embora na realidade esteja mais relacionado ao cinema de multiversos. Por outro lado, quando escrevi sobre jovens cineastas, como James Vaughan ou Ted Fendt, foi muito gratificante vê-los regressar ao estilo de Éric Rohmer, que emergiu nos anos cinquenta para se tornar um dos grandes revolucionários da década seguinte e que produziu um número significativo de descendentes hoje. A diferença fundamental entre cada nostalgia é a intenção: comercial, no primeiro caso, e subversiva, no segundo.   No meio dessas duas tendências surge...

De Górki a Prokofiev, os criadores da “nova era” soviética

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Olga Rozanova. Vladimir Lênin pôs fim à Rússia Imperial, à família Romanov... e com uma forma de criar aquilo que a “nova era” chamava de “burguesa”. Do estado nascente, o dos sovietes, surgiram alguns sonhos que logo se tornariam pesadelos e, ao mesmo tempo, uma cultura revolucionária que se deixou levar pelos movimentos de vanguarda da época.   Nenhuma disciplina ficou de fora dos ventos renovados, carregados, pelo menos por alguns meses, de esperança e transgressão. Destacamos seis protagonistas, a maioria com finais trágicos, que viveram o período de forma criativa. Nomes, ao mesmo tempo, que deixaram suas marcas na cultura universal e que formularam uma nova ideia de Rússia.   Maksim Górki, autor de A mãe , deveria ter sido um ícone da revolta bolchevique, mas acabou por “suspeitar” como Lênin “manejava a alavanca da história”; Vladímir Maiakóvski emergiu como um poeta do sistema e um artista multifacetado essencial na sua explosão cultural; Kazimir Malévich, criador do s...

Kobo Abe: vida e obra

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Por Guillermo Quartucci Kobo Abe. Foto: The Asahi Shimbun Kobo Abe foi um desses escritores que se recusam a fornecer qualquer informação sobre sua vida além daquela que está implicitamente contida em sua obra. Talvez a mesma rejeição que sente pelo romance autobiográfico e pela atitude de complacência perante o sentimentalismo para com o sofrimento de alguns escritores japoneses, que disso se utilizam como tema dos seus romances, seja o que o leva a ser muito parcimonioso quando se trata de falar sobre si mesmo. De qualquer maneira, pode ser interessante reunir as poucas informações que temos sobre a sua vida e tentar, com elas, moldar algo que se assemelhe a uma biografia. 1   Kobo Abe nasceu em Tóquio em 1924, mas passou a primeira infância em Kyushu, embora por sua família ser de Hokkaido (perto da cidade de Asahikawa), segundo o costume japonês, é onde ele está registrado. Ele próprio observa: “Como o local de registro, o local de nascimento e o local onde cresci são diferente...

Boletim Letras 360º #570

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DO EDITOR   Olá, leitores! Antes de chegar às notícias recolhidas nesta edição do Boletim Letras 360.º, preciso registrar duas outras novidades:   - o blog regressa com sua programação normal na segunda-feira, 22 de janeiro de 2024, abrindo oficialmente nosso 17.º ano online;   - nos próximos dias, será lançada a chamada para a seleção de novos colunistas para o blog. Assim, se você escreve sobre livros, arrume seus textos para sua candidatura.   A partir do próximo sábado, as edições deste Boletim também regressam ao seu formato completo, trazendo as demais seções que passaram a existir há algum tempo. Espero que todos estejam bem. Seguimos de mãos dadas por aqui. Karl Ove Knausgård. Foto: Magnus Liam Karlsson .   LANÇAMENTOS   Primeiro romance de Karl Ove Knausgård desde a consagrada série autobiográfica Minha luta é um impressionante relato da vida de nove pessoas durante dois dias de agosto, enquanto uma estrela gigantesca e inexplicável surge no cé...

A desesperança e os malditos dias revolucionários de Ivan Búnin

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Por Marcelo Jungle   Entre os estereótipos que lhe foram atribuídos, o escritor russo Ivan Búnin (1870-1953) ganhou fama como o autor da Rússia esquecida. No entanto, ele é muito mais do que um simples tipógrafo do passado. Búnin é também o registrador da alma e do amor. Seus contos falam geralmente sobre desespero e mal-entendidos em relacionamentos, cujo cenário é a inevitável decepção ou separação forçada, seja pela morte, seja por um marido traído ou uma mãe ciumenta, pelo suicídio ou abandono. Uma superfície que esconde aspectos profundos da vida e dos destinos das pessoas, afetadas por decisões com consequências duradouras. Não há expectativa de encontrar felicidade para quem lê seus contos. Mas aprenderá muito sobre a vida interior.   Dias Malditos , seu diário relativo aos anos de 1918 e 1919, chega ao Brasil 87 anos após sua publicação. Traduzido pela pesquisadora Márcia Vinha (que também assina o excelente posfácio) e lançado pela Editora Carambaia, o leitor brasilei...