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Boletim Letras 360º #581

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César Aira. Foto: Jaime Foto. LANÇAMENTOS   A editora Fósforo publicará dezesseis títulos da obra de César Aira. Os quatro primeiros já estão disponíveis em dois formatos: numa caixa ou separadamente. A tradução a quatro mãos de Joca Wolff e Paloma Vidal .   1. A prova . Marcia tem dezesseis anos e é infeliz. Um dia, voltando da escola imersa nos torpores vespertinos do bairro de Flores, em Buenos Aires, ela é afrontada por uma pergunta-convite brusca: “Quer foder?”. Pega de surpresa, Marcia até tenta resistir, mas se vê rapidamente enredada por duas garotas punks, Lenin e Mao, que a seduzem com seu jeito transgressor e seu discurso sobre o amor. As duas, porém, não têm muito tempo para discussões filosóficas: elas precisam de provas. Com um final apoteótico e de alta voltagem sexual, esta novelita pode ser lida como uma metáfora do primeiro encontro com a literatura de César Aira. Em uma lufada de poucas páginas, ela arranca todas as certezas de quem a lê. Mas para aqueles q...

O Neorregionalismo na Literatura Brasileira Contemporânea

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Por Herasmo Braga John Graz. As baianas . Óleo sobre tela, 1930.   Superando as discussões que desqualificam as produções literárias tidas como regionalistas, adentramos no universo contemporâneo, sob a presença do Neorregionalismo Literário Brasileiro. Destacamos, para maior aprofundamento da questão, a sugestão da obra Neorregionalismo literário: análise de uma nova tendência na literatura brasileira , de nossa autoria. Nela, analisamos como se dá a configuração da estética literária nas produções correntes, dos anos 1960 aos dias atuais.   Em linhas gerais, a estética neorregionalista apresenta, entre as suas caraterísticas, aspectos como autonomia das personagens femininas. No tocante ao espaço, este se desenvolve nas narrativas, nas saídas das zonas rurais para os espaços urbanos, como também, não mais constitui apenas um elemento de ornamentação para situar as personagens num determinado lugar; o espaço acaba atuando na subjetividade das personagens e até mesmo como pers...

Palmeiras selvagens, de William Faulkner

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Por Pedro Fernandes William Faulkner. Foto: Henri Cartier-Bresson Palmeiras selvagens foi como ficou conhecido o livro que William Faulkner pretendeu intitular If I Forget Thee, Jerusalem e chegou a ser publicado mais tarde com esse designativo numa tentativa meio atabalhoada, comum entre os editores, de reparação do acontecido. A partir dos anos 2000 uma solução conseguiu resolver o impasse: ao The Wild Palms acrescentou-se o título original como um subtítulo. No Brasil, essa sutileza é desconsiderada porque a tradução segue como a obra aparece em Novels 1936-1940 .   A decisão da Random House pela modificação do manuscrito parece confirmar que nem sempre as soluções propostas (nesse caso, imposta) por um editor parecem adequadas. É verdade que o título original soa pouco atrativo e isso do ponto de vista comercial tem sua importância; desde há muito essa tem sido uma das funções dessa figura que mete a mão no trabalho dos escritores. Agora, para um escritor como Faulkner, par...

A besta, de Bertrand Bonello: uma história das emoções a partir de Henry James

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Por Javier Yuste A obra do escritor nova-iorquino Henry James (1843-1916), mestre do ponto de vista e célebre por mergulhar na profundidade psicológica de seus personagens, seduziu grandes cineastas, que levaram seus romances e contos para a grande tela, desde William Wyler ( The Heiress , 1949) a Jane Campion ( The Portrait of a Lady , 1996), passando por Jack Clayton ( The Innocents , 1961), Peter Bogdanovich ( Daisy Miller , 1974), François Truffaut ( La Chambre verte , 1978), James Ivory ( The Europeans , 1979, e The Bostonians , 1984) …   Nos últimos tempos, foi o seu romance fantasmagórico A outra volta do parafuso que manteve viva a chama do escritor no campo audiovisual, com duas produções em 2020 que exploravam os elementos mais sinistros da narrativa: o filme homônimo de Floria Sigismondi, em que os astros de séries de TV MacKenzie Davis ( Halt and Catch Fire ) e Finn Wolfhard ( Stranger Things ) se entregavam aos sustos, e A maldição da mansão Bly , série de Mike Flana...

Liberdade e trauma em The Underground Railroad e O reformatório Nickel

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Por Vinícius de Silva e Souza Colson Whitehead. Foto: Sophie Palmier. Mesmo que as narrativas de The Underground Railroad: os caminhos para a liberdade e O reformatório Nickel , romances de Colson Whitehead, estejam situadas em tão diferente período temporal, tratam do mesmo tema: o trauma e a liberdade. Essas formam duas conjunturas marcantes na existência de seus protagonistas.   No primeiro, Cora, escrava abandonada pela mãe que há muito fugiu e a abandonou, é convidada por Caesar, escravo recém-chegado, a fugir com ele. A partir daí, Ridgeway, caçador de escravos que fracassou em recapturar a mãe da protagonista, parte em seu encalço e assim se constrói parte substancial do enredo romanesco.   Já em O reformatório Nickel , Elwood, promissor adolescente negro, estudioso e ambicionando ingressar na universidade, tem sua vida inteira alterada quando é enviado por um engano para Nickel, antigo reformatório para jovens infratores. Uma vez no lugar, conhece Turner, amigo que ...

Jorge Semprún. A ilusão lírica

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Por José Andrés Rojo Jorge Semprún. Foto:  Frederic Maligne.   A vida de Jorge Semprún é uma espécie de compêndio do que foi o século XX, ou melhor, do que a esquerda quis ser no século XX, das suas idas e vindas, dos seus projetos e fracassos. Mas nunca como ideia, ou não apenas como ideia, e sim como vida. Semprún encarna a história da esquerda, torna-a viva, real. Quando se trata de sua trajetória não importam tanto o laboratório de ideias ou o peso das organizações que, sim, também importam: o que vem à tona é a peripécia. A ação.   Ele tem cerca de vinte anos quando participa da Resistência contra os nazistas na França, vai parar em Buchenwald e consegue sobreviver ao pesadelo do campo de concentração. Depois é Federico Sánchez, o revolucionário profissional que arrisca a vida na Espanha de Franco para combater a ditadura, aquele que organiza as células comunistas, que trabalha na clandestinidade, sempre à beira de ser apanhado pela polícia e ser jogado na prisão, e...