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A 18, encontro com José Saramago (VI)

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Pintura de José Santa-Bárbara para Memorial do convento . ...tudo quanto é nome de homem vai aqui, tudo quando é vida também, sobretudo se atribulada, principalmente se miserável, já que não podemos falar-lhes das vidas, por tantas serem, ao menos deixemos os nomes escritos, é essa a nossa obrigação, só para isso escrevemos, torná-los imortais, pois aí ficam, se de nós depende, Alcino, Brás, Cristóvão, Daniel, Egas, Firmino, Geraldo, Horácio, Isidro, Juvino, Luís, Marcolino, Nicanor, Onofre, Paulo, Quitério, Rufino, Sebastião, Tadeu, Ubaldo, Valério, Xavier, Zacarias, uma letra de cada um para ficarem todos representados, porventura nem todos estes nomes serão os próprios do tempo e do lugar, menos ainda da gente, mas, enquanto não se acabar quem trabalhe, não se acabarão os trabalhos, e alguns destes estarão no futuro de alguns daqueles, à espera de quem vier a ter o nome e a profissão. [José Saramago, Memorial do convento , p. 233] * Iniciativa posta na rede desde o dia 18 ...

Novamente, a escrita

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Por Pedro Fernandes "Mulher escrevendo uma carta". Frans van Mieris Já dizia o saudoso poeta Carlos Drummond de Andrade que a luta com palavras é coisa vã. E é. Surgida com o pretexto de traduzir e organizar a fala, o processo da escrita configura-se como um processo doloroso, dramático, infinito, solitário. Doloroso e dramático porque sempre que nos deparamos com um tema para desenvolvermos um texto qualquer, oscilamos e, não são poucas as vezes que até desistimos pelo simples fato de não conseguirmos colocar/expor no papel aquilo que poderia ser nossa fala, nossa opinião. E não apenas isso. Articular ideias e signos é mais complicado do que possa parecer ao mais entendido de fluxos verbais e gramaticais. Agora, infinito é tal processo porque, quando retomamos um texto nosso qualquer subtraímos ou adicionamos ideias. Encontramos absurdos. Coisas que supostamente não diríamos ontem se tivéssemos os olhos de hoje. E solitário porque para produzir temos, na ...

Junichiro Tanizaki

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Por Ednodio Quintero Se tivéssemos que eleger um autor emblemático e representativo do romance moderno japonês, aquele que melhor expressa mediante o uso estético da linguagem as diversas transformações que aconteceram no século XX em seu país e no mundo, muitas delas induzidas por razões históricas, econômicas, políticas e culturais, este seria, sem nenhuma dúvida, Junichiro Tanizaki (1886-1965). Embora no Japão se considere que o escritor clássico por excelência é Natsume Soseki (1867-1916), quem soube dar à língua falada um lugar próprio na literatura e que segue sendo lido com fervor e interesse, Tanizaki leva ainda algumas vantagens em razão da amplitude e variedade de sua obra, além dos atributos decididamente modernos, audazes, vanguardistas e em ocasiões geniais. Tanizaki, um escritor multifacetado e dotado de um talento excepcional, se manteve ativo durante quase seis décadas, realizando uma viagem vital – expressada numa obra vasta e inesgotável – em paralelo c...

Sobre prêmios, sobre valores

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Por Pedro Fernandes Escreve-se para preencher vazios, para fazer separações contra a realidade, contra as circunstâncias Mario Vargas Llosa É verdade que muito se tem falado acerca do poder da Literatura. Até hoje, entretanto, e isso eu já disse outras vezes, até hoje, repito, nunca ouvi dizer que algum texto literário, por mais importante que seja, tenha salvado a humanidade de algum rumo grotesco dos muitos que já passamos: das ditaduras, das guerras, da fome, da miséria... E digo isso porque entendo que a função da literatura reside noutra esfera. Se não tem um sentido de salvação daquilo que, enquanto humanos, forjamos, a literatura tem sim a capacidade de introduzir na humanidade o real sentido da comunidade a qual ela se diz fazer parte. Entendo a literatura com o poder de, ao fazermo-nos humanos, levar essa comunidade a um espaço mais habitável, ainda que por força da imaginação. E se assim faz, pela força da imaginação, já temos meio caminho andado, não? Afinal, aqui...

Rever Zila, sempre

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Por Pedro Fernandes No último dia 13 de dezembro, ontem, fez-se lembranças pela morte de Zila Mamede. Poeta potiguar, dona de uma obra literária singular. 25 anos de quando foi ao encontro do mar para mergulhar eternamente noutro mar - o da literatura. Sobre ela, a também poeta Marize Castro disse, com muita propriedade: “deixou uma obra para nortear, para servir de guia para quem escreve e lê.  Em Zila nada é excesso. Tudo é garimpo, concisão. Além, claro, sensibilidade”. Por ocasião da data, devo lembrar agora que, entre setembro e outubro de 2009, copiei um texto do poeta Paulo de Tarso Correia de Melo publicado como uma espécie de introdução à poética de Zila Mamede neste que foi a última edição do seu Navegos   (Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte); o título é uma antologia organizada e publicada ainda em vida pela poeta.  O texto reproduzido em várias entradas neste Letras  perfaz todo o conjunto da obra de Zila Mamede, livro a l...

Uma página para Ana C.

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Poeta normalmente associada à Geração Marginal, movimento dos anos 1970, Ana Cristina Cesar ou como se assinava Ana C. nasceu em 1952, no Rio de Janeiro. Filha de Waldo Aranha Lenz Cesar e de Maria Luiza Cezar, a poeta desenvolveu cedo o gosto pela leitura: aos quatro anos, segundo relato paterno incluído na cronologia de sua Correspondência Incompleta , publicada em 1999, já ditava versos para a mãe e, em 1959, então com sete anos, publicava poemas no Suplemento Literário , do Jornal Tribuna da Imprensa . Com o lançamento de edições dedicadas a escritora pelo Instituto Moreira Salles, a instituição dedicou-lhe uma página na internet, onde é possível acessar uma leva de informações sobre Ana C., desde sua vida e obra, a fotos (como a que ilustra esta post) e informações sobre a fortuna crítica da autora. Aqui .