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Duas palavras sobre as imagens (ou vice-versa:) duas imagens sobre as palavras

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Por José Carlos Avellar Cena de São Bernardo . Os amigos discutiam a precariedade do Grêmio Literário e Recreativo, queriam abrir uma biblioteca, “a instrução é indispensável, a instrução é uma chave, a senhora não concorda, D. Madalena?”. Paulo não concorda, “biblioteca num lugar como este! Para quê?”. Acha que não se deve confundir “instrução com literatura de papel impresso”. Madalena concorda com ele: “Assisti um dia destes a uma fita no cinema, e creio que aprendi mais do que se visse aquilo escrito. Sem contar que se perde menos tempo”. No quarto de pensão, grudadas na janela, as moças espiam o capítulo da novela na televisão da casa em frente. Num canto, alguém lê um romance e a todo instante fecha o livro. Interrompe a leitura, olha a capa, abre o livro, lê algumas linhas, volta a ver a capa. Gostava de livros com figuras, e aquele só tinha uma figura na capa. O menino ainda não tem nome nem aprendeu a ler, mas ganhou um livro e está encantado com o presente. ...

Passagens de Graciliano Ramos na Maceió dos anos 30

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Por Simone Cavalcante* Maceió dos anos 30 e o movimento dos intelectuais. Na imagem, da esquerda para a direita: Graciliano Ramos, Aluisio Branco, Théo Brandão, José Auto, Rachel de Queiroz e Waldemar Cavalcante. A passagem de Graciliano Ramos por Maceió durou seis anos e, nesse período, muitos episódios podem ser alinhavados para revelar o mosaico cultural dos anos 30. Os trilhos dos bondes, os itinerários dos canais e das lagoas e os automóveis conduziam uma população, com pouco mais de cem mil habitantes, revelando seus costumes de época – os bate-papos nos cafés e nas praças, os banhos e mar e de bica, as matinês dramáticas e dos folguedos natalinos. É nesse ambiente, em plena ebulição, que o escritor se estabelece com a família. Maceió dos anos 30 começava a assistir à vitória do meio urbano sobre o rural e ainda enfrentava problemas antigos: funcionamento precário da educação e da saúde pública, abastecimento deficiente de água e fornecimento de luz elétrica, amontoam...

A coerência na literatura infantil de Graciliano Ramos

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Por Maria Heloisa Melo de Moraes Folha de rosto da 1ª edição. Desenho de Nelson Boeira Faedrich. Referido sempre como um escritor de linguagem enxuta, despojada, Graciliano Ramos representa para a literatura brasileira uma literatura adulta, voltada para a temática da condição humana, universalizando-se a partir de personagens e cenários regionais. O autor de romances como Vidas secas , Angústia , São Bernardo , com personagens densos e marcantes, é, no entanto, pouco citado como autor de histórias para crianças. Suas produções voltadas para o público infanto-juvenil, porém, apresentam uma proposta ideológica que em anda difere do que caracteriza sua literatura para adultos: a opção por temas universais, questões sociais, a apresentação do ser humano com suas verdades, suas mazelas, seus medos. Em 1937, logo que sai da prisão, Graciliano escreve A terra dos meninos pelados , que recebe neste mesmo ano o prêmio de literatura infantil do Ministério da Educação (MEC). É publicad...

“Luciana” e “Minsk”: contos exemplares do mestre Graciliano Ramos

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Por Enaura Quixabeira Rosa e Silva 1ª edição de Insônia , de Graciliano Ramos. Graciliano Ramos inicia a carreira literária escrevendo sonetos, publicados sob o pseudônimo de Feliciano de Olivença. Em 1915, no Rio de Janeiro, trabalhava como revisor em três jornais: Correio da manhã , A tarde , e O século . Nesse mesmo ano, incursiona pela narrativa por meio de vários contos inéditos. De volta a Alagoas, evolui a literatura brasileira com textos romanescos extraordinários como São Bernardo (1934), Angústia (1936) e Vidas secas (1938). Na obra Insônia (1947), composta por treze narrativas curtas, destacam-se dois contos, “Luciana” e “Minsk” que revelam um narrador carregado de ternura e compreensão  pelo humano. Colocados um na sequência do outro, os contos trazem como personagem principal uma criança, uma menininha de tenra idade, que ainda não sabe ler, nem alcança o ferrolho da porta, mas que, segundo o tio Severino, “sabe onde o diabo dorme”. E a palavra de tio...

Boletim Letras 360º #19

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Ontem realizamos em nossa página no Facebook mais um sorteio. Por ocasião do 125º aniversário do poeta Fernando Pessoa. Depois desses dois exemplares chegamos à marca de catorze livros entregues, só neste ano. Já colocamos em circulação títulos de Pedro Fernandes, Vernaide Wanderley, Fred Spada, Jane Austen, Paulo Leminski, Marcos Bagno, F. Scott Fitzgerald, Inês Pedrosa, Mia Couto, Carlos Drummond de Andrade, entre outros. No próximo mês, aguardem, que teremos mais novidades. Antes que as novidades cheguem, vamos conferir o que se passou nesta semana no nosso Facebook? Câmeras com chapeuzinho na Holanda. Não, não se trata de nenhuma manifestação; é  somente a ideia de grupo para lembrar os 110 anos de George Orwell, o escritor que previu o  modelo de sociedade vigiada que temos hoje. Segunda-feira, 24/06 >>> Brasil: A morte do pai , de Karl Ove Knausgård nas livrarias O autor vem para a mesa “Ficção e confissão”, na Festa Literária Internacional de...

Crônica de um leitor de O jogo da amarelinha (1)

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por Juan Cruz Ruíz Julio Cortázar na Ponte Neuf sobre o Sena, em Paris. Foto: Antonio Gálvez Estive escutando em Madrid uma ilustre leitora de O jogo da amarelinha , a professora cubana Ana María Hernández del Castillo, que desde há muito tempo vive e trabalha em Nova York. Ela disse, nesse ato que foi celebrado no Centro de Arte Moderna, que o livro de Cortázar salvou-lhe a vida quando o leu. Todos os leitores de O jogo da amarelinha , e eu sou um deles, temos uma circunstância que nos une ao livro, que nos une também a Cortázar como tivéssemos o conhecido, como se devêssemos a ele uma aspiração ou uma esperança. Naquela sexta-feira era a primeira vez que escutava alguém dizer que este livro lhe havia salvado a vida. Não me estranhou. Até então, a cada Ano, Ana María, uma mulher razoavelmente jovem e ativa, que leva em seu rosto e seu olhar vislumbres atlânticos de sua ascendência canária, havia pensado em suicidar-se, e a cada ano adiava essa decisão. Até que leu o mais...