Ilustração: T. Hanuka O sexo sempre esteve presente na literatura, embora nem sempre de maneira explícita. Há escritores que mergulharam em sua própria sexualidade como se a arte pudesse ser campo para um exercício psicanalítico e findaram por revelar a partir dessa intimidade o lado mais escuro sobre. Esta lista apresenta um conjunto de livros nos quais os escritores se desnudam, livros que dispensam o pudor para narrar cenas de elevado tom. Christine Angot, até o presente uma romancista francesa quase desconhecida no Brasil embora tenha sido autora de um livro chamado Pourquoi le Brésil ?, tem sido lida como uma das principais figuras que se filiam à tradição da qual faz parte nomes como o de Anaïs Nin. Em 1999, ela publica L’Inceste , a obra pela qual sempre tem sido lembrada, por se tratar de uma narrativa que recupera a relação incestuosa entre um pai e uma filha. Les Petits , outra obra sua, já inicia com uma felação sob o chuveiro que termina numa penetração anal an...
Por Pedro Belo Clara Afresco de uma jovem nomeada Safo. Pompeia, 55-79 d. C. Se passares por Creta 1 vem ao templo sagrado, onde mais grato é o pomar de macieiras e do altar sobe um perfume de incenso. Aqui, onde a sombra é a das rosas, no meio dos ramos escorre a água, e no rumor das folhas vem o sono. Aqui, no prado onde todas as flores da primavera abrem e os cavalos pastam, a brisa traz um aroma de mel. … Vem, Cípris 2 , a fronte cingida, e nas taças de oiro voluptuosamente entorna o claro vinho e a alegria. *** E de súbito a madrugada de sandálias de oiro. *** No ramo alto, alta no ramo mais alto, a maçã vermelha ali ficou esquecida. Esquecida? Não, em vão tentaram colhê-la. *** Vésper 3 , tu juntas tudo quanto dispersa a luminosa aurora, trazes a ovelha, trazes a cabra, só à mãe não trazes a filha. *** Desejo e ardo. *** ...
Por Pedro Belo Clara Konstantinos Kaváfis. Foto: Cavafy Archive Onassis Foundation A CIDADE (1910)¹ Disseste: “Vou pra outra terra, vou pra outro mar. Haverá por aí melhor cidade certamente. Será malogro, está escrito, tudo o que aqui tente e o meu coração — como morto — enterrado aqui jaz. Por quanto tempo há-de ficar minh’alma em podre paz? Pra todo o lado olhei, em todo o lado vi ruínas negras dessa vida que vivi, que tanto tempo aqui desperdicei a dissipar.” Novo lugar não vais achar, nem achar novos mares. A cidade vai-te seguir. Ruas vais percorrer, serão as mesmas, e nos mesmos bairros hás-de viver, nas mesmas casas ficará de neve o teu cabelo. Hás-de ir ter sempre ao mesmo sítio, sem qualquer apelo. Para outro lugar não há navio ou caminho e estragares a vida tu neste caminho é pois igual a nesse largo mundo a dissipares. ÍTACA (1911) Quando abalares, de ida para Ítaca, Faz votos por que seja longa a viag...
Com licença poética Quando nasci um anjo esbelto, desses que tocam trombeta, anunciou: vai carregar bandeira. Cargo muito pesado pra mulher, esta espécie ainda envergonhada. Aceito os subterfúgios que me cabem, sem precisar mentir. Não sou feia que não possa casar, acho o Rio de Janeiro uma beleza e ora sim, ora não, creio em parto sem dor. Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina. Inauguro linhagens, fundo reinos — dor não é amargura. Minha tristeza não tem pedigree, já a minha vontade de alegria, sua raiz vai ao meu mil avô. Vai ser coxo na vida é maldição pra homem. Mulher é desdobrável. Eu sou. “ Uma das mais remotas experiências poéticas que me ocorre é a de uma composição escolar no 3º ano primário, que eu terminava assim: Olhai os lírios do campo. Nem Salomão, com toda sua glória, se vestiu como um deles... A professora tinha lido este evangelho na hora do catecismo e fiquei atingida na minha alma pela sua beleza. Na primeira oportunidade aproveitei ...
DO EDITOR Na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a manter o Letras . Murilo Mendes. Foto: Eddy Navarro LANÇAMENTOS A obra poética completa de Murilo Mendes, um dos principais nomes da literatura brasileira do século XX, pela primeira vez reunida . “O poeta abre seu arquivo — o mundo —/ E vai retirando dele alegria e sofrimento/ Para que todas as coisas passando pelo seu coração/ Sejam reajustadas na unidade”, escreve Murilo Mendes em “Ofício humano”. Ao costurar referências à música, à pintura, à dança e ao cinema, o poeta não se deixa limitar pela moldura do verso e busca unir todas as artes em um projeto poético radical e ambicioso. Para além das alusões ao universo cultural, sua produção estabelece um diálogo constante com as marcas do seu próprio tempo. Há desejo, erotismo, vida, morte, terra e céu, carne e espírito — mas há também conflitos sociais, guerra, miséria. Nessa profusão...
DO EDITOR Na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a manter o Letras . Joan Didion. Foto: Tyler Anderson LANÇAMENTOS Livro póstumo de Joan Didion . Em novembro de 1999, Joan Didion começou a frequentar um psiquiatra e, por vários meses, descreveu suas sessões em um diário destinado a seu marido, John Gregory Dunne, que não podia estar presente. Didion gravou cada detalhe de suas conversas, que abordavam temas como alcoolismo, adoção, depressão, ansiedade, culpa, e as complexidades do relacionamento com a filha, Quintana. E, em meio a tudo isso, também relatava como esses assuntos estavam inevitavelmente interligados a duas grandes questões que permearam sua vida: o trabalho e o legado que deixaria para trás. Um relato visceral que revela facetas pouco conhecidas de uma das maiores autoras e jornalistas do século XXI, Para John convida o leitor a mergulhar em uma jornada íntima ― construí...
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