Boletim Letras 360º #665
DO EDITOR
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| Cristovão Tezza. Foto: Guilherme Pupo |
LANÇAMENTOS
O novo romance de Cristovão Tezza é uma reflexão terna e audaciosa sobre um pai e um filho, um relato de dupla formação, uma investigação franca do passado familiar, da política do país — e dos afetos que nos constituem.
João Batista Tezza, pouco letrado, começou a fazer anotações num caderno de capa dura em fevereiro de 1931, quando entrou no exército como soldado em Florianópolis, aos vinte anos. E manteve o hábito até a semana em que morreu, precocemente, já professor e advogado, em julho de 1959, em decorrência de um acidente de lambreta. O escritor Cristovão Tezza sempre soube da existência dos cadernos de seu pai, mas nunca havia se interessado por eles até que, em 2021, durante a pandemia, o autor decidiu lê-los. Naquela espécie de buraco negro da memória familiar onde havia caído, Cristovão notou que o pai transcrevia obsessiva e sistematicamente cartas, telegramas, bilhetes, o conteúdo de documentos como certidões e atestados, dedicatórias de livros e fotografias, e basicamente tudo o que lhe acontecia.
Entremeando narrativa factual a reflexões sobre a formação do pai e sua própria trajetória, e colocando em cena dois momentos cruciais da vida social brasileira (um dominado pelo governo de Getúlio Vargas, o outro sob a ditadura militar), Visita ao pai é uma das experiências mais surpreendentes da nova literatura do país. Uma obra formalmente ousada de um dos mais importantes e premiados autores em atividade. Publicação da Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
Este livro trata de um aspecto pouco conhecido da produção literária de José de Alencar: sua poesia.
Poemas dispersos e alguns inéditos de José de Alencar articula-se em duas partes: um ensaio introdutório e uma antologia. O ensaio introdutório traz uma visada panorâmica sobre o itinerário poético do autor, apresentando os poemas e problematizando os caminhos de sua relação com a poesia. Em seguida, a antologia reproduz os poemas dispersos, publicados uma única vez em 1960, e também são apresentados alguns poemas inéditos, retirados do caderno de anotações de José de Alencar e de periódicos e de outros livros. Wilton Marques os estuda com sensibilidade, agrupando-os de acordo com os temas que abordam: a vida amorosa, a arte do canto lírico e o indianismo, resgatando essa faceta literária de Alencar e permitindo que alcance seus leitores. Publicação da Edusp. Você pode comprar o livro aqui.
Romance de uma das mais importantes escritoras do Japão desmistifica o estereótipo nipônico da mãe altruísta, da filha devotada e da submissão feminina.
MitsukiKatsura tem cinquenta e poucos anos, dá aulas em uma universidade em Tóquio e, de um dia para outro, vê-se diante de duas situações incontornáveis. Descobre que o marido, um professor que conheceu quando morou em Paris, está tendo um caso com uma mulher mais jovem. Ao mesmo tempo, se vê obrigada a cuidar da mãe, uma mulher egocêntrica e exigente, cuja saúde frágil exige acompanhamento constante. Lançado como romance-folhetim no jornal de maior circulação no Japão, A herança da mãe retoma esse gênero literário de sucesso no século XIX para discutir a complexidade e os paradoxos da cultura japonesa contemporânea. MinaeMizumura, uma das mais importantes escritoras e ensaístas do Japão hoje, cria, a partir da crise familiar de Mitsuki, um retrato de uma classe média que vive entre os resquícios da sociedade tradicional e o contato com culturas ocidentais, abordando de maneira profunda e delicada temas universais como as relações entre mãe e filha, casamento e fidelidade, envelhecimento e resiliência, sobretudo feminina. Publicação da editora Carambaia; a tradução é de Lídia Ivasa. Você pode comprar o livro aqui.
A chegada ao Brasil da literatura de Liliana Blum.
De uma idosa que adota um alienígena, uma esposa traída que recorre à magia vodu como prática terapêutica, uma idosa solitária que brinca com um tabuleiro Ouija, a um vampiro cujas vítimas são homens violentos e assediadores, as oito histórias reunidas neste livro apresentam indivíduos comuns que encontram o fantástico, pessoas com pretensões convencionais e aspirações legítimas que os levam por caminhos sombrios e desconcertantes. Repleto de humor negro, um tratamento sórdido e singular da violência, complementado por elementos de suspense, terror e até ficção científica, Um descuido cósmico reúne um elenco de personagens perturbadores, com sonhos desfeitos e esperanças perdidas, que mostram que não há demônio mais sedutor e criativo do que o espírito de vingança. Com tradução de Ellen Maria Vasconcellos, o livro sai pela editora Moinhos. Você pode comprar o livro aqui.
Os aforismos de Baltasar Gracián para leitores de língua portuguesa, inglesa e espanhola em edição de luxo.
Baltasar Gracián foi contemporâneo de Tirso de Molina, Velázquez, Lope de Vega, Góngora, Quevedo, Zurbarán, Calderón de La Barca e Murillo. Esses artistas testemunharam a crise que assolava o tempo histórico e usaram a expressão artística como uma espécie de superfície, em que a encruzilhada ética e estética vivida pelo homem do século seiscentista ganha a boca de cena, ao expor uma humanidade dividida entre os valores legados de um passado — primeiro medieval e depois renascentista — e um presente que já anunciava o seu próprio desmoronamento. Tal qual Cervantes, Baltasar Gracián cedo entendeu que um mundo novo se construía, destruindo os valores do passado, abalando com isso não só o poder eclesiástico como também a centralidade das monarquias absolutas, que teimavam em negligenciar a pobreza enraivecida de um povo já atento às futuras promessas de uma burguesia insurgente. Publicado originalmente em 1647, A arte da sabedoria mundana reúne trezentos aforismos do pensador jesuíta Baltasar Gracián — pequenas pérolas de pensamento que atravessam séculos, abordando os dilemas, as virtudes e as fragilidades humanas. Cada fragmento convida à leitura pausada, como já aconselhava Nietzsche, para que se possa absorver, com calma, a prudência e o equilíbrio necessários à difícil arte de conviver. Nesta edição, as palavras barrocas de Gracián encontram, pela primeira vez, a força visual do artista Pojucan, cujas ilustrações dialogam de forma surpreendente com o texto. O encontro entre escritos de quase quatrocentos anos e imagens do século XXI cria uma obra de beleza inesperada, em que a pena e o tinteiro se harmonizam com o design contemporâneo. Um convite para que cada leitor participe desse raro colóquio entre passado e presente, palavra e imagem, sabedoria e arte. A edição trilíngue (espanhol, português, inglês) sai pela Relicário Edições; edição de luxo e limitada. A tradução é de Patrícia Silva de Barros e Elvyn Laura Marshall; inclui-se textos de Monica Figueiredo, Maria de la Concepción Piñero Valverde, Pojucan, Ricardo Leite, Mauricio Planel e Guto Lacaz. Você pode comprar o livro aqui.
A romancista Hèlène Cixous estreia em língua portuguesa a partir do Brasil.
Neste primeiro romance de Hélène Cixous traduzido para o português, a autora borra as fronteiras entre a autobiografia e a ficção ao revisitar a cidade natal de sua mãe, Osnabrück, na Alemanha, e explorar os vestígios e as memórias fragmentadas do trauma que atravessam seus espaços e habitantes. Ao recriar o sofrimento de bruxas, parteiras, judeus, prisioneiros e, sobretudo, de sua mãe Ève, Cixous desestabiliza os lugares onde o trauma foi vivido e entrelaça as vítimas em uma mesma tessitura. Osnabrück por vezes se confunde com Argel. E o Terceiro Reich alemão com o Império colonial francês. Os julgamentos de bruxas do século XVI se repetem em cada mulher suspeita, e esse trauma, refletido nas ruínas da sinagoga de Osnabrück incendiada em 1938, projeta-se também no futuro. Ruínas bem comportadas sai pela Relicário Edições; tradução e posfácio de Marcelo Jacques de Moraes. Você pode comprar o livro aqui.
Daniel Rieff reencontra pela palavra sua mãe, a escritora Susan Sontag.
Um mar de morte é ao mesmo tempo uma memória pessoal e uma investigação. O livro é a comovente homenagem de David Rieff à sua mãe, a escritora Susan Sontag, e à sua batalha final contra o câncer. Com coragem e franqueza, Rieff relata os últimos nove meses de sua vida, do diagnóstico à morte, oferecendo não apenas um retrato íntimo da relação entre mãe e filho, mas também uma reflexão sobre o que significa tentar ajudar alguém gravemente doente a continuar vivendo e, quando chega o momento, morrer com dignidade. Sem respostas fáceis, Rieff constrói uma meditação profunda sobre o enfrentamento da morte em nossa cultura. É sua obra mais pessoal, marcada pela dor do sobrevivente — a culpa, a autocrítica, a sensação de não ter feito o suficiente. Inspirado na luta incansável de sua mãe e no trabalho dedicado de seus médicos, ele busca compreender o que significa desejar, como Sontag desejou até o fim, tentar quase qualquer coisa para seguir vivendo. Ao narrar essa experiência, Rieff oferece lições sutis e universais que podem ajudar outros a atravessar situações semelhantes. Tradução de Pedro Fonseca; publicação da editora Âyiné. Você pode comprar o livro aqui.
Alberto Moravia, o viajante e autor de relato de viagens.
Alberto Moravia é o autor dos célebres romances O desprezo (1954) e O conformista (1951) — adaptados ao cinema por Jean-Luc Godard e Bernardo Bertolucci. Com apenas 23 anos, foi convidado a trabalhar no jornal La Stampa, de Turim, no qual passa a escrever diversos relatos de viagens. Para driblar o regime fascista, que o perseguia por sua ascendência judaica e por sua oposição política ao totalitarismo, ele deixa de usar o sobrenome verdadeiro, Pincherle, e adota o pseudônimo Moravia — alusão à região de origem eslava de sua avó paterna —, por meio do qual se tornaria conhecido.
Sua sede de viajar — e narrar — era imensa, como se ansiasse recuperar nove anos de imobilidade imposta por uma tuberculose óssea descoberta na infância. Em 1930, com a nova identidade e cansado de respirar a atmosfera pesada do autoritarismo, aceita um convite para ir à Inglaterra, país que inspira seus primeiros relatos de viagem. É o início de uma longa trajetória, que o levaria a percorrer exaustivamente a Europa, o Oriente Médio, a Ásia e as Américas. O livro publicado pela Cosac Edições inclui extensa cronologia de vida e obra do escritor e quarenta textos de uma prosa saborosa sobre as três Américas, com impressões marcantes tanto de culturas e paisagens ancestrais como de países que ainda consolidavam a própria identidade político-social. Escritos entre 1938 e 1970, os textos vieram à luz a partir de visitas aos Estados Unidos, México, Brasil, Cuba, Guatemala e Bolívia, percorridos pelo escritor nessa ordem. Américas: relatos de viagens foi traduzido por Adriana Marcolini. Você pode comprar o livro aqui.
REEDIÇÕES
REEDIÇÕES
Neste livro original e fascinante, que incursiona pela literatura, pelas artes plásticas, pela medicina e pela política, Moacyr Scliar traça um panorama abrangente da história da melancolia e de suas repercussões na cultura brasileira.
Tudo isso numa narrativa em que erudição e estilo se combinam de forma espirituosa e fluente. A modernidade nasce melancólica. Uma melancolia que já aparecia em personagens bíblicos e nos textos clássicos da medicina grega, mas que se torna verdadeiro clima de época na passagem da Idade Média para o Renascimento, quando, paradoxalmente, novos horizontes são abertos nas ciências e na arte. Aquela era também a época da Peste Negra, da caça às bruxas, da reclusão dos loucos — uma conjuntura de sombria ameaça, neutralizada pela euforia maníaca da caça às riquezas e da especulação comercial. É então que, cruzando o Atlântico, as naus europeias chegam ao Novo Mundo trazendo consigo as sementes da melancolia. Para contar essa história, com erudição e clareza, Moacyr Scliar reúne conhecimento médico e talento de escritor. A narrativa se desdobra em três momentos: a Antiguidade clássica, a Renascença e o Brasil na transição para a modernidade. Saturno nos trópicos é reeditado pela Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
RAPIDINHAS
O primeiro livro de Alfred Jarry. Com tradução de Alvaro Silveira Faleiros, a Cobalto Livros publica o primeiro livro do escritor que ficou celebrizado pela peça Ubu rei. Minutos de areia imemorial, de 1894, reúne poemas, contos breves, reflexões, gravuras e três pequenas peças teatrais.
Miró da Muribeca biografado. O futebol, a descoberta da poesia, da perfomance e do recital, mas aquilo que o público não viu e/ ou não soube estão na biografia de Wellington de Melo que a CEPE Editora publica.
O elixir do pajé. A edição organizada por Duda Machado que reúne os poemas satíricos e eróticos de Bernardo Guimarães ganha nova tiragem, agora pelo Grupo Editorial Quixote.
A mulher e o estranho. É o novo título preparado por Braulio Tavares para a editora Bandeirola. O livro reúne oito contos no estilo quarto fechado escritos por Emília Freitas, Emilia Pardo Bazán, Kate Chopin, Katherine Mansfield, Madeline Yale Wynne, May Sinclair, Vernon Lee e Virginia Woolf. A publicação sairá com apoio via Catarse.
DICAS DE LEITURA
1. Alves & Cia., de Eça de Queirós (Grua Livros, 128p.) Uma novela póstuma em que o escritor português regressou ao modelo da narrativa de adultério para desconstruí-lo de maneira audaciosa para o seu tempo. Você pode comprar o livro aqui.
2. O cavaleiro de bronze e outros contos em versos, de Aleksandr Púchkin (Trad. Rubens Figueiredo, Penguin/Companhia, 144p.) Da articulação entre o afiado ouvido para as histórias populares e a elaboração de uma poesia de rara fineza, os cinco contos reunidos nesta antologia é uma boa maneira de conhecer o que fez do seu autor um dos nomes centrais da literatura russa. Você pode comprar o livro aqui.
3. Os mímicos, de V. S. Naipaul (Trad. Paulo Henriques Brito, Companhia das Letras, 320p.) Um ex-ministro caribenho caído em desgraça e exilado em um subúrbio de Londres decide escrever suas memórias entre o desencanto e o humor ácido acerca das sociedades mal-acabadas. Você pode comprar o livro aqui.
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
Há dois anos, o Entrelinhas propôs uma sequência especial do programa dedicada a explorar um pouco mais a obra de alguns nomes que se firmam como importantes para a literatura brasileira em curso; este foi com Cristovão Tezza. Ao lado do jornalista e crítico Manuel da Costa Pinto, o escritor passa em revista sua vida na literatura, pontuando alguns dos seus principais livros.
BAÚ DE LETRAS
No domingo, 16 de novembro, celebramos o Dia do Desassossego. É a data de nascimento de José Saramago, autor que, pela variedade de aparições nesta página, se assume como um nosso patrono, conforme dissemos tantas outras vezes. Neste endereço, o leitor encontrará um pouco do que dizemos: é mais de uma centena de textos, entre resenhas, ensaios, crônicas, matérias etc. Aproveite.
DUAS PALAVRINHAS
é importante que escutemos, que desenvolvamos a capacidade de escutar os fracos, não apenas em África mas mesmo na nossa própria sociedade. Os fortes devem ouvir os fracos.
— Chinua Achebe
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