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Mostrando postagens de março, 2017

A arquitetura da cidade como mediadora de leitura

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Por Rafael Kafka Lembro-me de quando era criança e na tentativa de ler algo eu me detinha a ler os textos que vinham em meus livros didáticos. Isso fazia com que eu sempre estivesse adiantado em relação ao conteúdo ministrado pelos professores de então, mesmo eu estando em clara desvantagem no tocante a solucionar a cartilha de alfabetização ou a tabuada – lembro que dificilmente eu passava da tabuada do quatro. A leitura em casa me ajudava a entender muito da realidade ao meu redor, mesmo que anos depois eu percebendo que aqueles textos vinham picotados. Aquele era o ponto de minha vida onde eu tinha alguma forma de expansão da realidade, sendo complementado pelos programas que via na TV Cultura ou mesmo na Globo, a qual sempre possuiu bons programas educacionais em horários ruins. Conforme cresci, meu interesse pela leitura foi se ampliando e vi no mundo exterior o apoio de algumas pessoas o suporte necessário para não me afastar do hábito da leitura. Minhas tias me em

A duquesa, de Saul Dibb

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Por Maria Vaz A duquesa é um filme britânico de 2008, baseado em um best-seller de Amanda Foreman sobre Georgiana: uma mulher que, antes de completar 18 anos de idade, casou com o duque de Devonshire, tornando-se duquesa. Na trama, o papel de Georgiana caiu como uma luva na interpretação bem conseguida de Keira Knightley: de uma mulher simpática, sensível e forte ao mesmo tempo, inteligente, artística e espirituosa. O filme histórico conseguiu o óscar de melhor figurino. Segundo uma visão tradicionalista – e historicamente situada –, todas as meninas nascidas em famílias abastadas sonhavam casar com alguém que lhes pudesse proporcionar uma vida confortável e a ostentação de títulos nobiliárquicos banhados na aparência do status, de pretensa superioridade e do poder de intervenção isso lhes garantia. A educação dessas mulheres era bastante ecléctica, muito embora não pudessem ir além do ‘papel possível’ de mães e zeladoras da casa, encarregadas de dar à luz um filho do

Viagem ao fim da noite, o grande romance escrito pela fúria

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Por John Banville Céline em Nova York, anos 1930. Voyage au bout de la nuit , ou Viagem ao fim da noite , publicado originalmente em 1932, é um dos grandes romances do século XX, além de ser o melhor romance escrito por um simpatizante da ultradireita política, como depois os críticos literários do pós-guerra classificaram o autor. Outros romances escritos por autores de extrema direita – como Nos penhascos de mármore , de Ernst Jünger ou Kaputt , de Curzio Malaparte – são, no mínimo, interessantes, mas a exuberante misantropia desta obra-prima, que não coloca em evidência afiliação política alguma nem expressa ideias antissemitas, é única, sobretudo como obra de arte revolucionária, e exerceu uma profunda influência em autores tão díspares como Samuel Beckett e William S. Burroughs, Jean Genet e Günter Grass. Poderia dizer inclusive que sem Céline não haveria existido Henry Miller, nem Jack Kerouac, nem Charles Bukowski, nem os poetas beat. Louis-Ferdin

Obras-primas perdidas e felizmente recuperadas

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Walt Whitman: nos últimos anos, dois textos resgatados A história da literatura está cheia de casos de obras destruídas, censuradas ou extraviadas. Por exemplo, Huckleberry Finn , de Mark Twain, foi objeto de repetidas proibições nas escolas estadunidenses devido ao uso da palavra nigger (negrada), vocábulo que nos Estados Unidos adquiriu um peso semelhante ao que começa a se trilhar nas discussões sobre racismo no Brasil dos últimos anos. Além da censura, outra pilha de milhões de livros serviu de alimento para o fogo. Nem mesmo nós, de história tão recente, deixamos de ter nosso Fahrenheit 451. Foi assim, no nosso país naqueles anos infernais da Ditadura com obras de Jorge Amado. Mais de mil exemplares de livros seus foram queimados em praça pública pela polícia do regime, em Salvador, enquanto o escritor era levado para a cadeia. Mas é sobre outra lista igualmente extensa que este texto precisa citar: a de obras que nunca foram sequer publicadas porque foram perdidas

Baudelaire & Poe, Ltda.

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Por Rafael Ruiz Pleguezuelos ilustração: Falk Nordmann Leia-me e saberás me amar. Assim adverte Baudelaire seus leitores. E faz, além disso, num dos melhores livros da história da literatura: As flores do mal . Isto de leia-me e saberás me amar sempre me pareceu um convite mágico, desafiante e até corajoso, mas sobretudo triste. Baudelaire foi acima de tudo um necessitado de amor. Desde seu sentimento de dândi, desde seus poemas retorcidos, desde sua fama de depreciar tudo e todos, dá continuamente a impressão de buscar amor no artifício das letras, no jogo de inteligências da palavra escrita. O mesmo ocorre com Poe, um que alguém aprende a amá-lo como pessoa lendo-o. Não leia sua biografia, nem mergulhe em seu anedotário e muito menos no que os seus contemporâneos afirmam que fez ou deixou de fazer. Apenas leia-o e saberá amá-lo. Baudelaire e Poe forjaram um tipo de leitor que poderia entendê-los e estavam seguros de que se alguém os lessem adequadamente os amariam de mane

Boletim Letras 360º #211

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Bertolt Brecht: ganha edição um texto inédito do escritor no Brasil Os leitores que acompanham o Letras desde tempos remotos sabem do nosso esforço por oferecer conteúdo de qualidade e a prova disso está no reconhecimento que silenciosamente galgamos dia após dia. Em 2017, marca-se a passagem de 10 anos online. E já agora apresentamos a primeira das novidades para marcar essa data: inauguramos uma nova interface. Ainda na construção dos ajustes, mas com conteúdo integralmente acessível (quer dizer, quase, que ainda há postagens em revisão). Breve anunciaremos a chegada de novos colaboradores. E assim seguimos – até quando formos possível seguir. Aproveitamos para assinalar duas outras boas notícias: sai hoje o resultado da promoção que sorteia um exemplar de A montanha mágica , de Thomas Mann (Companhia das Letras); e a nossa página no Facebook ultrapassou os 61 mil seguidores! Somos muito gratos. Segunda-feira, 20/03 >>> Brasil: Um livro, dois inéditos: edi

A situação humana, de Aldous Huxley

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Por Pedro Fernandes O livro mais conhecido de Aldous Huxley é, sem dúvidas, Admirável mundo novo , considerado nas listas das melhores narrativas distópicas de sempre. Mas, o inglês é autor de uma extensa e variada obra que inclui, entre outros textos, ensaios intervencionistas como os que estão reunidos em A situação humana . Os textos serviram a um conjunto de conferências oferecidas nos Estados Unidos entre fevereiro e dezembro de 1959 e são de extrema valia por vários aspectos: uma compreensão sobre o pensamento de Huxley sobre o homem e a sociedade; a revelação de uma consciência à frente de seu tempo ao se referir a temas que ainda são muito caros nas pautas políticas contemporâneas; um legado para as gerações futuras sobre novas maneiras de pensar o homem e a sociedade perfazendo o perfil necessário aos novos tempos do intelectual engajado, capaz de responder determinadas questões embaraçosas cujas respostas tratadas pelos especialistas parecem não alcançar um li