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Mostrando postagens de dezembro 31, 2020

Os melhores de 2020

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Ilustração: Ilya Milstein   Será repetir o óbvio ao dizer que este 2020 guardou o pior das expectativas que levantamos todo final ano para o tempo por vir. O mais doloroso, entretanto, é descobrir a esta altura, com quase todos os doze meses de reclusão, que pioramos um pouco mais como cidadão e como humanidade. Esses duros tempos podem ter produzido uma ou outra variação de ritmo em nós, mas, no geral, as perspectivas são nada animadoras. Não é um discurso fatalista, mas custa ser positivista numa ocasião quando assistimos a vigarice, o mau-caratismo, a desumanidade, o cinismo, o negacionismo gratuito, o medíocre, a parvoíce triunfarem. Ao mesmo tempo, toda a carestia desse tempo cobra o que mais nos falta: um desvio para a civilização e para o humano. Mas, este outro caminho se mostra, mais ou menos visível, não com expectativas e sim com atitude. O possível se realiza pela ação.   E, uma alternativa para melhor, consiste numa reeducação dos sentidos; aguçá-los para a crítica, para o

17 livros de 2020 na opinião dos nossos colunistas

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Ilustração: Ilya Milstein Minhas melhores leituras de 2020 Por Guilherme Mazzafera      –  The History of The Hobbit , de John D. Rateliff (HarperCollins) Um estudo exemplar e definitivo, em seu entremeio de filologia e crítica literária, sobre as origens, a composição textual e o alcance estético de um clássico já muito devassado.   –  Viagem com um burro pelas Cevenas , de Robert Louis Stevenson (Tradução de Cristian Clemente, Carambaia) Dos mais divertidos, sinceros e pungentes relatos de viagem já escritos, mesclando a verve de um ensaísta e conteur nato com o indevassável de uma das personagens não humanas mais inesquecíveis da literatura, a jumentinha Modestine.   –  O romancista ingênuo e o sentimental , de Orhan Pamuk (Tradução de Hildegard Feist; Companhia das Letras) Uma verdadeira poética da forma, destilada com vagar e profundidade por um de seus mais notáveis praticantes.   – Esta vida: poemas escolhidas , de Raymond Carver (Tradução de Cide Piquet, Editora 34) O Manuel Ba

Os melhores de 2020: cinema

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―  Paterson , de Jim Jarmusch Parece então que Paterson cobrar do seu espectador uma modificação dos sentidos para alcançar esse tempo outro que se perde na pressa do dia. A poesia nunca é mediada pelo tempo do relógio, mas não é puramente efeito contemplativo, tampouco superior ao rotineiro ou preso a uma dinâmica da qual tenhamos que abdicar do que somos. Essas qualidades, o filme parece inquirir, somam-se às vivências dos aspirantes à criação mas incapazes dela, tarefa que sobra na narrativa para os idealistas como companheira de Paterson. Leia mais aqui . ―  Suk Suk , de Ray Yeung A grandiosidade desse filme reside em parte no trabalho de equilíbrio entre as várias frentes assumidas pela narrativa. Todas as entregas passionais são determinadas pelo mesmo tom soturno que conduz os dois amantes. Para uns, isso pode se parecer uma integração aos modelos vigentes, mas não é. Retratar os sutis movimentos situados no bulício do mundo não é uma das tarefas mais fáceis. Requer certa maturi

Destaques em projetos editoriais de 2020

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  Uma peça no trabalho contra o esquecimento Há muito da nossa literatura preso nos escombros da memória ― do que dela restou. Nos últimos anos, assistimos algumas pequenas atividades de recuperação que são muito valiosas. Essas atividades se fazem pelo empenho silencioso e individual entre leitores valiosos que conseguem entre a vida acadêmica, o zelo pelo coletivo e uma responsabilidade nascida de uma aposta no melhor de nós contribuir para uma redução dos esquecimentos. A antologia O sino e o relógio é parte desse trabalho; organizada por Hélio de Seixas Guimarães e Vagner Camilo ao longo de mais de uma década, a publicação da editora Carambaia reúne raríssimos textos de autores também raros entre os leitores brasileiros, seja porque esquecidos, seja porque conhecidos noutras searas criativas. O conjunto de 25 textos abrange entre os anos de 1836 e 1879 e é apresentado em quatro seções: os contos de vertente fantástica, histórica, de intriga e aqueles com narrativas bem próximas ao

Os melhores de 2020: poesia

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― Para o meu coração num domingo , de Wislawa Szymborska. É certeira a escolha dos antologistas Regina Przybycien e Gabriel Borwski do poema-título desta reunião de poemas de Wislawa Szymborska. É esta uma ocasião, quando o eu-poético volta-se para o milagre da existência e confirma a singularidade do poder e da força de estar vivos, afinal, apenas assim, é possível buscar compreender os variados sentidos do mundo, incluindo o próprio ato de viver. Essa confirmação, aliás, pode ser tomada como uma síntese da poética de Szymborska. “Para o meu coração num domingo” guarda uma força excepcional; o eu-poético, despido de quaisquer transcendências, celebra a pulsão biológica da vida, esta que tanto se esforça para que possamos gozar os prazeres mais simples, como o descanso de domingo. Quer dizer, este livro amplia nosso contato com uma poeta que soube matizar as pequenas coisas no interior de uma complexidade própria e nada simples.   ― Batendo pasto , de Maria Lúcia Alvim. É difícil que a

Os melhores de 2020: prosa

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― Essa gente , de Chico Buarque. Este romance é produto de um embate de narrativas que tem produzido, para bem e para mal, certas fissuras fundamentais nos modelos ainda em vigência de nossa plastificada identidade. E, se por um lado o leitor encontra aí o duelo de classes, por outro, a expressão é validada por outro sentido: é um designativo que permite destacar entre as gentes, a gente do Brasil. É por isso, um daqueles livros que constitui o extenso caleidoscópio proposto pela literatura acerca do tema povo brasileiro e sua condição, entre os quais, figuram nas mais recentes criações obras como  Viva o povo brasileiro , de João Ubaldo Ribeiro,  Eles eram muitos cavalos , de Luiz Ruffato,  Outros cantos , de Maria Valéria Rezende, para citar alguns dos contemporâneos. Mas, poderíamos ampliar essa linha com obras mais antigas como  Memórias de um sargento de milícias , de Manuel Antônio de Almeida,  O cortiço , de Aluísio Azevedo ou  Triste fim de Policarpo Quaresma , de Lima Barreto.