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Mostrando postagens de julho 13, 2018

Ler para ver

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Por Justo Navarro De dentro do carro não entende o que vê: em Bab el Khemis, Marraquexe, um camelo corre sobre três patas com a quarta atada ao corpo. Elias Canetti olha os camelos. Pela cara, todos parecem o mesmo e todos são diferentes. Parecem velhas damas inglesas entediadas em torno do chã e Canetti descobre alguém que lembra um parente próximo. As cidades que não são estranhas se tornam em situações de encontros imprevistos. Estou em 1954, em Vozes de Marraquexe , que Canetti publicou em 1968: ler é um modo sedentário de visitar outros lugares e outros tempos, inclusive do futuro.  Quando o viajante não sabe o idioma do lugar, necessita, desemparado, de um mediador, um guia. Olha sem entender os mendigos cegos que murmuram à sua comum litania de pedinte. Não deixa dinheiro ao catador de esmolas, e logo se dá conta de que é o mais observado dos presentes na cena, “criatura assombrosa a quem havia que explicar tudo”. Mas lhe atraem sem necessidade de intermediários