O pálido fogo da literatura é sua própria (possibilidade de) existência
![Imagem](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJcd5PIsetDXLzMLYf5RGtGSrmf5r7haIav1L4BravN0nvHz09Jm44IoKzGw_h9Yr-TzqfFEGbXgvSIXNt7DdrihtGMkxjRWkcewP8bqqNHNBBJYZyOH3tzwZW7qMY_puFik2jcbQGrw/s1600/large_HH-48658586.jpg)
Por Álvaro Arbonés Vladimir Naboko. Foto: Horst Tappe. 1 Fogo pálido: um poema em quatro cantos, por John Shade Pretender resumir toda uma vida sempre é um trabalho injusto que tende a se tornar absolutamente obsoleto sobretudo se estabelecê-la enquanto escrita. Sempre que pretendemos reduzir nossa existência a sequências parecerá que ficamos muito pequenos, que aqui ou ali sempre poderíamos dizer algo a mais, ou talvez certa situação poderia ter sido explícita ou mais obscura; ao descrever nossa própria vida sempre ficará honoráveis faltas que gostaríamos de não haver cometido. Por isso, escrever uma biografia, pior ainda se uma autobiografia, é uma tentativa de viver a vida em si mesma, esta que se produz sempre em trânsito e por isso inconclusa. Que é se não uma utopia pretender escrever a vida em si mesma em sua totalidade? O que John Shade, pouco antes de morrer, tenta é resumir sua vida em 999 versos – embora se diz que ficou um perdido, que