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Mostrando postagens de agosto 2, 2019

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Por Guilherme Mazzafera Há algo de instigante na saborosa percepção de Otto Maria Carpeaux (1999) sobre o grande poeta francês François Villon: dono de uma vida das mais desregradas, na qual se misturam toda uma variedade de petit crimes , impropérios e violações (pode um assassino escrever um bom poema?), sua lavra de versos é uma das poesias mais ordenadas e conscientes de que se tem notícia. Haveria, em tal fenômeno, um secreto jogo de compensações em que, à vida fragmentada, contrapõe-se a ordenação possível da arte. Separados por um século, a escrita de Montaigne talha caminho semelhante, embora oposto – o retiro determinado para sua biblioteca para pensar, refletir e escrever constitui um prolongado memento mori que, em diálogo profundo com as vozes do passado, encontra seu caminho pela expressão sincera e cuidadosa de uma verdade pessoal que, mediada pelo critério da razão, se expõe como inédita perspectiva autorizada. A dimensão ordenadora da escrita, que para alg