Água viva, de Clarice Lispector
Por Pedro Fernandes A maior das obsessões da literatura, sobretudo as dotadas do princípio da representação, é a de perfazer o mundo que é, a um só tempo, dentro e fora da palavra. Essa constatação não é vã nem para os artistas que negam veementemente a força das influências externas na realização do objeto artístico. Obviamente que este responde por sua autonomia no mundo, mas não está dissociado dele. Há entre um e outro um conjunto de forças dialéticas que atuam mutuamente e neles operam transformações. Dentre os interesses em dizer o mundo em sua inteireza reside o desejo de agarrar o presente em sua totalidade expressiva. Mas este é só continuidade e nos escapa. Possivelmente, a maior possibilidade de aproximação dessa representação resida na pintura: aquela que se realiza no instante-mesmo em que o pintor transfere para a tela o ímpeto que lhe nasce de alguma força do inconsciente. Possivelmente, porque entre a força inconsciente e o objeto artístico...