A escrita dos insetos
Por Mauricio Molina À memória de Roger Caillois e Severo Sarduy Ilustração: Jean-Michel Folon À primeira vista, você só pode ver um emaranhado de rabiscos distribuídos nas folhas de papel. Pode-se dizer que a escrita é uma selva em miniatura onde se esconde um animal mimético, metamórfico, confundido entre as letras, raramente percebido com clareza: o sentido. Ler palavra após palavra envolve seguir um rastro na paisagem em miniatura da página, como se o olho decifrasse, ao longo das fileiras de manchas, pontos e rabiscos, uma cadeia de formigas ou o contorno de uma borboleta confusa mais além, mimetizada na escrita. Um lugar comum faz do escritor um matador de insetos que ele esmaga na página em branco, mas milagrosamente, graças à percepção distante do olhar, essa série de manchas adquire significado. Ou pode-se dizer também que a escrita é o rastro de um inseto que escapou do frasco do tinteiro e laboriosamente escapa pela página. É um inseto invisível, que ...