Mito e História no vórtice dos tempos: O dia dos prodígios, de Lídia Jorge
Por Guilherme Mazzafera A leitura de O dia dos prodígios (1979), primeiro romance da escritora portuguesa Lídia Jorge, leva-nos à percepção de um tempo expectante, no qual as camadas mítica e histórica resvalam-se sem mútua compreensão. Os portentosos acontecimentos que tomam corpo na narrativa não encontram interpretação possível na exclusividade do mito ou da história, ecoando nas consciências individuais dos personagens, cuja compreensão de si mesmos enquanto sujeitos está profundamente atrelada ao entendimento da temporalidade que os cerca. O romance nos apresenta o povoado de Vilamaninhos, local de acontecimentos singulares e exegetas limitados. Centrado em três domicílios principais, o reino encastelado de Carmen Rosa e Carminha, o lar de José Jorge Jr e Esperancinha, e a casa de Branca e José Pássaro Volante, a obra discorre sobre a convivência entre esses personagens e com outros habitantes do povoado diante das ocorrências inusitadas – o aparecimento da cobra voadora e ...