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Mostrando postagens de agosto, 2020

Stefan Zweig, a estrela

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Por Karl Krispin Stefan Zweig, 1939. Foto: Bassano Ltd Petrópolis passa por um pequeno vilarejo de veraneio onde a temperatura se ajusta a uma média anual de 19 graus centígrados a uma altitude de 838 metros acima do nível do mar. Em 1955, os termômetros marcavam sete graus abaixo de zero e em 1996 estouraram, chegando aos 36 graus. Mas é um lugar onde se ia, no passado, veranear; principalmente os aristocratas da monarquia Bragança e sua corte portuguesa instalada e permanecida no Brasil graças aos caprichos de Bonaparte. Existem palacetes, mansões e uma certa condição bucólica que o torna atraente para aquele visitante de hoje uniformizado como turista. Um viajante errante e embaralhado chegou àquela cidade na década de 1940. Vinha com os passaportes amassados e uma ideia bastante duvidosa de onde pertencia. Teve tempo de escrever sobre o país, de datilografar a maravilha que era sua vida e depois tirá-la. Na pacífica e bragantina Petrópolis também vivia a professora G

Boletim Letras 360º #390

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DO EDITOR 1. Muita gente nova chegou às redes sociais do blog Letras in.verso e re.verso por esses dias. Continuo, desde 2007, a agradecer a atenção de todos. Sintam-se bem e em casa, unidos em torno do propósito principal: o amor à arte e ao literário. 2. Aproveito a ocasião para convidar aos novos amigos a acompanhar o trabalho do blog nas várias frentes com a presença nas reações, nos comentários e na partilha do nosso conteúdo. Tudo aqui é feito livremente e gratuitamente por gente atenta e amante do que faz. Então, tudo isso que peço é uma maneira de incentivá-la. 3. Este boletim é publicado a cada sábado desde há 390 semanas. Desde 2012, a página do blog no Facebook passou a veicular informações variadas em torno do nosso universo de interesse e, muitos meses depois, a baixa visibilidade de conteúdo pela segmentação nesta rede social levou a gente a criar um espaço aqui capaz de oportunizar um (re) encontro com o material divulgado. 4. Agradecemos a companhia

Et moriemur: do medo à morte

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Por Juan Claudio de Ramón Os seres humanos nem sempre tiveram medo da morte. Não, pelo menos, no grau superlativo em que sofre hoje. Se nossos ancestrais eram menos impressionáveis, era em parte porque todos no passado sabiam que podiam morrer a qualquer momento. Durante ou logo após o parto, se você fosse mulher ou criança; de um corte que infeccionou; de uma picada de pulga; atingido por uma flecha; durante um incêndio, resfriado pelo frio, pela fome ou pelo enforcamento. Isso não quer dizer que eram felizes por encarar a morte. No Canto IX da Odisseia , Ulisses é avisado por Aquiles, quando se encontram no Hades, que é preferível ser um servo entre os vivos do que o rei dos mortos. Mas, quando chegada a hora, sabiam aceitar com certa esportiva, de forma ritual e serena, de acordo com costumes bem estabelecidos e venerados. Os grandes medievalistas, como Huizinga ou Le Goff, insistem nessa familiaridade com a morte como uma das características mais marcantes na mentalid

Prazer em queimar, de Ray Bradbury

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Por Pedro Fernandes Há quem diga que a Magnum opus de um criador é produto de uma vida inteira de obsessões. Ou ainda, que todo trabalho criativo existe para culminar na grande obra. Embora as duas afirmativas não sejam gratuitas porque encontram respaldo em muitas situações, elas não constituem, como quase tudo na literatura, uma verdade absoluta. Um caso específico que a princípio pode reafirmá-las parece ser o de Ray Bradbury e sua distopia sobre um futuro sem livros. A prova material acaba de chegar a nós através dessa coletânea de textos publicada sob o título de Prazer em queimar . Organizado por Donn Albright, o livro segue o rastro indiciado pelo próprio escritor estadunidense num comentário sobre seu romance mais conhecido e reúne uma variedade de textos que antecipam o mundo e as situações de Fahrenheit 451 . No início dos anos 1950, Ray Bradbury escreveu cinco contos, chamados por ele de “cinco pulos breves” para “um grande salto”: “Fogueira”, “Fênix brilh

E então nós dançamos, de Levan Akin

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Por Pedro Fernandes É de compreensão popular que a melhor maneira de saber lidar com nossos rivais é mantê-los muito de perto. Poderia ser este um bom motivo norteador para o jovem Merab quando numa dessas radicais intervenções do acaso vê o seu possível futuro lugar na companhia de balé georgiano ameaçado devido a chegada de um bailarino com um pouco mais de atitude. Mas, se fosse dada a oportunidade de intervir no acaso, outro conselho seria vital: aproximar-se demais dos nossos rivais pode nos prender em definitivo numa contradança cujos passos tempo nenhum os desfaz. E então nós dançamos. A chegada de Irakli num ambiente feito de alta competição mesmo que o tradicionalíssimo balé georgiano atravesse uma decadência visível não apenas pela opinião de algumas das personagens ao longo da narrativa fílmica mas na composição cenográfica do estúdio onde estudam o grupo de rapazes e mulheres vem quase simultaneamente com uma história repassada entre os alunos sobre um bai