Não escrever: breve ensaio sobre a impossibilidade
Por Matías Moscardi Em seu poema “Brisa marinha” Mallarmé condensa, numa imagem, o momento inaugural e vertiginoso da escrita moderna nesse “papel vazio com seu branco anseio”. Aí parece começar o ato criativo do poeta: no contraste entre o branco imaculado da folha e a gordurosa tinta negra que, num pequeno big-bang caligráfico, dá vida a um universo inteiro. Entende-se, então, que no imaginário romântico encontremos o mito da origem do famoso “bloqueio criativo do escritor”. Se o poeta é um “pequeno deus”, a folha em branco se converte no nada que enfrenta: um vórtice retangular de celulose que, de sua condição estática e impassível, ameaça em bloquear até mesmo o mínimo vislumbre de começo. César Vallejo começa um conhecido soneto com estes dois hendecassílabos: “Quero escrever, porém me sai espuma, / quero falar muitíssimo e me entalo”; no segundo quarteto, acrescenta: “Quero escrever, porém me sinto puma; / quero laurear-me, mas me cinjo de alho”. Algo nestes ver...