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Mostrando postagens de setembro, 2023

Boletim Letras 360º #551

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Nelson Rodrigues. Foto: Arquivo O Globo LANÇAMENTOS   Livro reúne 25 histórias inéditas de A vida como ela é... , de Nelson Rodrigues . O escritor brasileiro estreou a coluna A vida como ela é... nos anos 1950 já com grande sucesso. Essas histórias de ciúme, obsessão, dilemas morais, inveja, desejos desgovernados, adultério e morte fascinaram os leitores da época e continuaram fazendo sucesso durante mais de setenta anos, provando ser um verdadeiro clássico. A popularidade dos textos é tamanha que sofreu inúmeras adaptações, passando das páginas do jornal a programa de rádio, fotonovela, filme, peça de teatro e até seriado para a televisão. A Nova Fronteira reuniu numa coletânea 25 histórias que permaneceram inéditas em livro.  Você pode comprar o livro aqui .   Colm Tóibín elabora um retrato ficcional da vida de Thomas Mann .   Crescendo entre os privilégios burgueses da Alemanha do início do século XX, o jovem Thomas Mann começa, não sem dificuldades, a embarcar na carreira liter

Notas sobre um estilo e uma visão do mundo

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Por Israel Paredes Graham Greene. Foto: Armstrong Jones Graham Greene formou-se como escritor na década de 1930 em um mundo literário permeado pelas novas formas do modernismo literário, que ele conheceu e admirou, mas do qual gradualmente se afastou em direção a um realismo metafórico mais existencial e ligado às emoções, menos maneirista, para seu gosto, do que os modos modernistas da época. Antes da Segunda Guerra Mundial, Greene já delineia nos seus romances o seu próprio mundo que antecipa, tanto em termos de estilo e temáticas, a sua produção literária pós-guerra e, sobretudo, estabelece uma visão do mundo que a partir de meados dos anos quarenta se intensificará e se aperfeiçoará. Desde cedo, o escritor diferencia sua obra entre entretenimento e romances sérios, obtendo sempre mais sucesso com os primeiros e conseguindo, ao longo dos anos, que esses adquirissem uma seriedade perfeitamente inserida nos parâmetros do romance popular em que trabalhava. Entre as margens da construçã

Confissões de uma máscara, de Yukio Mishima

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Por Sérgio Linard Recentemente a Companhia das Letras anunciou em suas redes sociais que este livro estava retornando para as prateleiras depois de um bom tempo indisponível. Não há uma justificativa por parte da editora para essa decisão agora, nem mesmo uma explicação sobre o porquê de um dia o material ter parado de ser vendido. De todo modo, ganhamos com a oportunidade de conhecermos um dos textos mais elogiados da literatura japonesa, que é repleto de bastante vigor e pujança ainda que possua momentos monotônicos, mas que são muito bem-vindos exatamente por ajudarem a perceber a constância do sentimento de opressão enfrentado. Aquilo que poderia ser uma grande falha ou motivo para abandono da leitura, por exemplo, torna-se fôlego pertinente para a história.   Inicialmente, importa que eu faça aqui o destaque de que não considero a monotonia algo necessariamente ruim. Por muito tempo em nossas vidas é um ritmo único e constante que procuramos, é a estabilidade que almejamos. Ótimo.

Viena, Paris e Grécia: algumas horas caminhando com Jesse e Céline

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Por Andrea Calamari Uma melodia doce e barroca na tela escura: Ethan Hawke, Julie Delpy. É a abertura de Dido e Enéias , de Henry Purcell, e os violinos entram urgentes com a imagem das avenidas, o som da máquina acrescenta intensidade. De dentro avista-se o verde do campo, as casas isoladas, as árvores de verão, uma ponte, o rio azul, até que os últimos acordes nos deixam dentro do trem. Vamos ver uma história. Paris   Em O sentido de um fim , Frank Kermode diz que as pessoas, assim como a poesia, rapidamente param a meio do caminho: in medias res . Para que tudo, ou pelo menos alguma coisa, faça sentido, precisamos de uma ordenação temporal, de um antes e depois, de correlações fictícias com as origens e os fins. E para isso servimo-nos da narrativa. A vida flui sem pausas ou interrupções, nunca começa nem termina, é um amálgama de histórias que se cruzam. A vida não se importa com personagens, a ficção sim. É o simulacro narrativo que dá ordem e, portanto, sentido a essa desordem da

Marrocos através dos livros

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Por Berna González Harbour Mahi Binebine © Fouad Maazouz   Viajar pelos livros pode ser tão ou mais enriquecedor do que percorrer os seus lugares; e as novas gerações de escritores colocaram o Marrocos num novo mapa literário essencial para conhecer o país. Em geral, já colocaram seus pés noutros mundos, no da emigração, no do exílio ou simplesmente no da fuga à opressão que ainda respiram em sua casa, desafiando o estandardizado modo de vida. Mas o país continua a ser um material literário dos autores. O mundo deles. Tal como o canário na mina 1 ou o alerta antecipado de tsunami, há muito que eles pintam o universo de enorme desigualdade que acaba de se tornar novamente evidente com o terremoto que atingiu a terra de Atlas. 2   Ver as casas de adobe destruídas pelos movimentos das tectônicas, ver a população indefesa lutando sozinha contra os infortúnios como se fossem desígnios divinos, a ajuda chegando em lombo de burros e o Rei Mohamed VI visitando dias depois algumas vítimas esco

Tolstói versus Shakespeare com Stendhal como testemunha

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Por Christopher Domínguez Michael   Finalmente consegui obter um exemplar do livreto Tolstói on Shakespeare , publicado pela The Free Age Press, em Londres, em 1906, por um admirador estadunidense do conde russo, Ernest Howard Crosby. Mas antes de ler qualquer coisa de Tolstói sobre Shakespeare , vale a pena lembrar que a fortuna de Shakespeare, como a de qualquer outro clássico, nunca foi estática. Tudo começou da pior maneira para aqueles governantes de gosto que eram os franceses até que, da outra margem do rio Reno, apareceu o romantismo, rejeitando-os com tudo e ao seu imperador Napoleão e à sua Revolução de 1789. Voltaire, depois de alguma hesitação, já tinha condenado Shakespeare por sua vulgaridade e mau gosto. Considerava-o típico dos “selvagens britânicos”, apresentando-o sempre em desvantagem face aos autores dramáticos do Grande Século. Mas Tolstói observa que foi G. G. Gervinus (1805-1871), um historiador que os russos acusam de ser um “livre-pensador”, que acabou reivindi

Seis poemas de “Numa folha, leve e livre”, de António Ramos Rosa

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Por Pedro Belo Clara António Ramos Rosa. Foto: Nuno Ferreira Santos.   Lúcido rosto de uma haste cálida de frementes veias tão meu como o espaço em que vogava entre nuvens e árvores   Era uma folha que entre folhas flutuava respirando a maresia viva de um mar que estava longe e perto e em voluptuosa leveza o peito abria-se   Que adolescência aérea partilhada em júbilo fresquíssimo com o deus dos elementos vivos na sua glória actual embriagadamente efémera como se nascêssemos continuamente em transparente plenitude     ***     Amar as palavras é inventar o vento através da noite em pleno dia   Se desapareço grão por entre grãos é porque um deus adormece como um astro imóvel polvilhado de pólen   Onde estiver serei o sono do amor num claro jardim e como se estivesse morto as ervas hão-de romper das minhas unhas verdes e a minha boca terá a ébria frescura da plenitude do espaço     ***     Creio nas palavras transparentes que pertencem ao vento ao sal à latitude pura   Aqui no meu red