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Mostrando postagens de julho, 2022

Doze tanka de Wakayama Bokusui¹

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Por Pedro Belo Clara (Seleção e versões) ²   Wakayama Bokusui   I.   pergunto-me: quantas montanhas e rios terei ainda de atravessar até atingir o lugar onde a solidão enfim termina? a viagem recomeça     II.   encontrarei alguma paz de espírito respirando os ares do oceano assim pensei então, desejoso de mar, aqui cheguei — mas o que busco está ainda por descobrir     III.   um solitário pássaro branco permanece no alto sem se evolar no imenso azul do céu ou do mar e não deixo de me perguntar quão profunda será a sua tristeza       IV.   contra o vento marítimo pássaros flutuam em linha recta subitamente um deles desvia-se e os restantes seguem-lhe o destino     V.   as cerejeiras florescem sob a melancolia dos pálidos céus do começo de verão mas quão terríveis parecem ser desde que a morte cerrou os olhos do meu amigo 3     VI.   a uma certa distância trovões rugem como deuses porém, a chuva não chega aqui debaixo das nuvens carmesins do poente continuo só, aquecendo sake 4  

Boletim Letras 360º #490

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DO EDITOR   1. Caro leitor, no passado dia 28 de julho soltamos uma nota em todas as nossas redes sociais e aqui no blog suspendendo o sorteio de um exemplar da edição especial de Ensaio sobre cegueira . Leia a nota aqui .   2. Se você está entre os apoiadores do trabalho do Letras in.verso e re.verso , esteja atento: em breve divulgamos novos livros para sorteio.   3. Se você ainda não enviou seu ao apoio e gostaria de fazê-lo e concorrer a livros, basta ler as informações aqui— é rápido e prático .   4. Relembro ainda que na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você ganha desconto e ainda ajuda ao Letras sem pagar nada mais por isso .   5. Agradeço a todos pela companhia e ao apoio que dão a este projeto. Oswald de Andrade. Foto: Jorge de Castro. Acervo Brasiliana Fotográfica .   LANÇAMENTOS   Oswald de Andrade e a Semana de Arte Moderna de 1922 .   Arte do Centenário e outros escritos  reúne dezoito textos escritos por Oswald de Andrade entre

A viagem incessante de Octavio Paz

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Por Alberto Ruy Sánchez Octavio Paz em Nova Deli, Índia, 1962. Arquivo: Rodolfo Jurado Guzmán   Para entender o tipo de aventura que cada tradução de um poema chinês, japonês ou indiano significava para Octavio Paz, eu tentava conversar com ele sobre a viagem a cada um desses países, quando existiu uma, ou sobre o momento de sua vida ou a emoção que estava naquele estranho impulso de transformar poemas de línguas que ele não conhecia em poemas vivos na sua.   Eu já sabia que a própria ideia da viagem despertava nele uma enorme curiosidade. Toda vez que eu voltava de uma, ele me pedia para lhe contar detalhes, impressões, histórias, descrições de pessoas e paisagens. Mas acima de tudo sempre queria descobrir chaves para outras culturas. Ou testar os que havia vivido ou lido. Alguns anos depois escreveria que se nasce com o desejo de viajar e que “quem não o sentiu em algum momento não é inteiramente humano”. Mas ao mesmo tempo elogiava as viagens que são feitas “com o corpo parado, olho

Caderno proibido, de Alba de Céspedes

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Por Pedro Fernandes Alba de Céspedes. Foto: Marisa Rastellini   É a partir da aquisição de um caderno, cumprindo a materialização de um desejo irrompido ao acaso enquanto compra cigarros para o companheiro, que Valeria Cossati mergulha numa variedade de impasses. Entre eles, está a relutância com a escrita iniciada dias mais tarde depois de forjar um tempo essencial para esse passatempo. O périplo, aliás, para conseguir manter atualizado o que vingará como um diário é um outro aparte importante; encontramos Valeria em vários lugares da casa, quase sempre disfarçando-se entre os afazeres domésticos ou atravessando noites, no silêncio do sono alheio para continuar com seu feito.     Entre continuar ou não a escrever e escrevendo mesmo assim até encontrar o limite de suspensão da escrita, esse tratamento funciona como um jogo que consegue pelo menos dois feitos interessantes: o primeiro se materializa no desenvolvimento do diário, uma vez que os prolongamentos do assunto por sua autora s

A história sonora de “Nosferatu”, um clássico do cinema mudo

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Por Silvia Cruz Lapeña   Quando criança, Friedrich Wilhelm Murnau sonhava em ser como Gustav Mahler. Em Nosferatu , o clássico do cinema mudo que marcou o caminho dos filmes de vampiros e que este ano marca o centenário de sua estreia, é possível ver essa vocação até no subtítulo: Sinfonia do horror . Não foi a única vez. Em sua outra grande beleza cinematográfica, Amanhecer (1927), Murnau optou por completar o título de forma semelhante : Sinfonia de duas pessoas . E de acordo com Edgar G. Ulmer, que trabalhou para ele como cenógrafo e depois se tornou diretor de cinema, ambos foram filmados por seu mestre com um metrônomo na mão, dispositivo usado para medir o ritmo de composições musicais.   Por isso, embora o filme seja mudo, teve uma paisagem sonora que se perdeu, mas ainda pode ser ouvida prestando atenção nos detalhes do filme, lendo os diários de pessoas ligadas ao filme, as crônicas da estreia e alguns dos livros dedicados à obra de Murnau.   Para começar, o filme era mudo, m