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Análise de “O Falcão”, de Luis Fernando Verissimo

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  Por Davi Lopes Villaça   A crônica, e de maneira mais surpreendente a crônica humorística, acaba sendo, pela sua aparência de coisa cotidiana, pelo seu tom descontraído e despretensioso, um lugar de profundezas inesperadas, como demonstrou Antonio Candido em “A vida ao rés do chão”. Pode ser também um lugar de grande sofisticação formal, de árduas conquistas estilísticas, cujo resultado muitas vezes é, ironicamente, a impressão de uma escrita fácil e espontânea. Há vários exemplos disso na obra de Luis Fernando Verissimo. Proponho-me a analisar sua crônica, “O Falcão”, cujas primeiras linhas dão-nos já uma amostra do poder de síntese desse autor.   “Só uma palavra descrevia a vida de Antônio. Foi a palavra que ele usou quando viu o tamanho da fila do ônibus. ― Que merda!”   Antônio leva, portanto, uma vida “de merda” ― ou seja de pouco valor, muito ordinária, ruim. Mas essa palavra, ao ser reciclada da fala do próprio personagem, carrega ainda outro sentido, determinado pelo contexto