Pão de Açúcar, de Afonso Reis Cabral
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Por Pedro Fernandes Afonso Reis Cabral. Foto: Elisa Trusso. São muitas a convenções estabelecidas para designar o papel, as tarefas e as funções da literatura. Muitas insustentáveis, outras impertinentes, todas questionáveis. O romance de Afonso Reis Cabral se situa em algumas dessas encruzilhadas. Para agora, é possível citar pelo menos duas delas: desobrigada da verdade factual, a literatura, por sua natureza imaginativa pode corrigir determinadas lacunas da história; estabelecida em relação com os múltiplos constituintes do seu contexto, a obra literária possibilita denunciar aquelas circunstâncias que afastam o homem de seu ideal civilizatório — também um projeto, diga-se, jamais terminável. Quando Pão de Açúcar foi publicado, mais de uma década sobre o episódio desencadeador da narrativa e do romance havia se passado: um bárbaro crime levado a cabo por um grupo de adolescentes no Porto. O rosário de violências que estabeleceu um terrível calvário para a morte prematura de uma