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Mostrando postagens de setembro, 2022

On Empson, de Michael Wood: um grande crítico acerca de outro

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Por Stefan Collini Em uma época de nossas vidas, escreve Michael Wood sobre William Empson, “quando em nossa maior parte estamos tentando entender o que o sistema educacional quer de nós, ele estava reinventando a crítica literária.” Empson era graduando em Cambridge quando escreveu um ensaio para seu supervisor, I. A. Richards, mostrando como versos poéticos poderiam ser construídos de forma a produzir múltiplos sentidos até então despercebidos. Richards era um professor astuto o bastante para ver que não havia outra coisa a fazer senão dar carta branca a seu aluno escandalosamente original, então exortou-o a ir embora e trabalhar no ensaio de modo a expandi-lo um pouco. O resultado foi que, em 1930, com vinte e quatro anos, Empson publicou Seven Types of Ambiguity [Sete Tipos de Ambiguidade], um livro que efetivamente traz consigo certa reinvindicação plausível de ter “reinventado” a crítica literária.   É um livro estranho, sem propriamente introdução ou conclusão, e sem argumentaç

Electronica, de Enzo Maqueira

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Por Pedro Fernandes Enzo Maqueira. Foto: Pablo Monteiro   Cedo ou tarde, toda geração passa, de alguma maneira, por uma sua crise de significação. E pelo menos duas características formam parte de uma complexa rede de sintomas que não vem ao caso examiná-la agora: certa nostalgia seguida da contínua tentativa de recompor o tempo-limite quando, ao que parece, tudo se singularizava num presente eterno e aberto para um futuro mais vivo que o passado; e certo amainar das forças, como se por um instinto derivado da frustração obrigasse, consciente ou não, ao recrudescimento para conservação de um passado, algo que se verifica, no caso atual, na uniformização dos modelos.   De modo que, no curso do tempo da sociedade da alta técnica, os instantes para essa crise se tornaram cada vez mais precoces; e não seria exagero afirmar que atualmente formam um intervalo perene. Tornou-se a pedra de sustentação do metacapitalismo: segmentando indivíduos a partir das identidades, diversificam-se os prod

Stefan Zweig, pelo caminho de Tolstói

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Por Andrés Seoane   Filho ilustre e paradigmático de uma geração que fez da cultura, uma cultura destilada por gerações, sua maneira de se posicionar no mundo, Stefan Zweig (1881-1942) foi o intelectual ideal do início do século XX em cujas obras soam um eco de colapso paralelo à lenta ruína da Europa. O fim daquele sonho de progresso social e intelectual iniciado no século XVII, que prometia acabar com a subjugação religiosa e política, naufraga e assume a forma de um pesadelo totalitário que sacode os pensadores das primeiras décadas do século XX.   A ascensão imparável do nazismo faz de Zweig um proscrito, seus livros são proibidos, e progressivamente se vê obrigado a se distanciar de tudo o que ama e conhece até ser empurrado para um exílio errante e a convicção do fracasso do projeto iluminista, da futilidade da literatura para enfrentar o horror. É por isso que, além de seus romances e seu pessimista e póstumo epitáfio O mundo de ontem , a literatura de Zweig se voltou nesses ano

Mihály Babits. Entre a arte pela arte e o compromisso político

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    As letras húngaras têm uma importante tradição de poesia social e politicamente engajada. Um dos expoentes dessa poesia é um contemporâneo de Babits, Endre Ady, figura reverenciada da nação, além de personagem profundamente odiado por aqueles que nele viam como nada mais que a imagem de um traidor da pátria, de sua língua, de sua cultura e de suas tradições poéticas. Ady, personagem de destaque no círculo da revista Nyugat , órgão que representava uma estética progressista, ligada às tradições europeias, foi sem dúvida um poeta político e combatente que rompeu radicalmente com as tradições estéticas e morais petrificadas do passado. Babits, por sua vez, também ligado a Nyugat , iniciou sua carreira como poeta distante da política e das questões sociais, grande devedor e admirador das tradições e do espírito humanista. No entanto, as reviravoltas da história o forçaram a mudar de atitude.   Nascido em Szekszárd, Babits estudou Filologia Clássica e Francesa na Universidade de Budapes

Hilary Mantel, dama

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Por Lisa Allardice Hilary Mantel. Foto: David Vintiner   A Dama Hilary Mantel, que morreu aos 70 anos após sofrer um derrame, foi a primeira mulher a ganhar o prêmio Booker duas vezes, feito alcançado para os dois primeiros volumes da trilogia épica sobre a vida de Thomas Cromwell, Wolf Hall (2010) e Tragam os corpos (2012). Os romances, que ao todo possuem cerca de 2.000 páginas, venderam 5 milhões de cópias em todo o mundo, foram transformados numa aclamada série da BBC (2015) estrelada por Mark Rylance, e teve uma versão adaptada pela própria Mantel para o palco RSC (2014), um processo que ela amava. A trilogia culminou com O espelho e a luz (2020)¹ e a morte de Cromwell; acabou sendo seu último romance. Contados no tempo presente, esses romances constituem uma façanha da narrativa imersiva e um marco monumental na ficção contemporânea.   Antes da série Cromwell, Mantel havia escrito nove romances, incluindo A Place of Greater Safety (1992), sobre a Revolução Francesa;  Além da

Oito poemas de Mary Oliver em “Felicidade” (2015)

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Por Pedro Belo Clara   (Seleção e versões)  Mary Oliver. Foto: Rachel Giese Brown   ROSAS   Todos nós, uma vez por outra, questionámo-nos sobre aqueles assuntos para os quais não existe uma resposta pronta: primeiro, a existência de Deus, o que acontece quando a cortina cai sem que nada o impeça, nem um beijo, nem uma visita ao centro comercial, nem o Super Bowl .   “Rosas selvagens”, disse eu, uma manhã. “Vocês têm as respostas? Se sim, poderão dizer-mas?”   As rosas riram, suavemente. “Perdoa-nos”, disseram. “Mas, como vês, agora estamos absolutamente ocupadas em ser rosas.”       O MUNDO EM QUE VIVO   Recusei-me a viver fechada na bem-composta casa                 das razões e das provas. O mundo em que vivo e creio é mais amplo. De qualquer forma,                 o que há de errado com “Talvez”?   Não acreditarias no que, vez ou outra, tenho visto. Apenas                 isto direi: só se levares anjos no pensamento                 é que terás a hipótese de, um dia, os ver.    

Boletim Letras 360º #498

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    DO EDITOR   1. Caro leitor, a Editora Trajes Lunares apoia o trabalho do Letras disponibilizando dois Kits para sorteio entre os participantes do nosso clube. Este clube de apoios é uma das alternativas para ajudar este blog com o pagamento das despesas anuais de hospedagem na web e domínio.   2. O primeiro é formado pelos livros  Azul como um rottweiler , de Milton Rosendo (poemas),   Travessia e sopro  (poemas) , de Bruno Ribeiro; e   Diabolô , de Nilton Resende (contos). 3. E o segundo, reúne outros três livros  Eram os brutos os barcos , de Ana Maria Vasconcelos (poemas);   A mecânica das pontes , de Brisa Paim (romance); e   Fantasma , de Nilton Resende (romance).   4. Para participar dos sorteios é simples. Envia um PIX a partir de R$15 a blogletras@yahoo.com.br e depois utilizando este mesmo e-mail notifica-nos sobre o pagamento.  5. Para saber mais sobre outras formas de apoiar, visite aqui . E lembro que: a aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste B