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Mostrando postagens de fevereiro 10, 2021

O último cânone de Harold Bloom

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  Por Eduardo Lago Harold Bloom. Foto: Richard Avedon Há uma cena que ilustra perfeitamente a maneira como Harold Bloom (1930-2019) teve de se relacionar com a literatura ao decorrer de sua longa existência: sua forma de lecionar durante seus últimos anos de vida. Com a mobilidade gravemente afetada, permanentemente conectado a um cilindro portátil de oxigênio e afligido por inúmeras enfermidades que tornavam seu dia a dia indescritivelmente difícil, o velho professor precisava estar em contato direto com seus alunos.   Para satisfazê-lo, a Universidade de Yale fretava micro-ônibus que transportavam pequenos grupos de jovens em cuja presença o sábio se transfigurava. O espetáculo tinha uma espécie de ritual sagrado. Dependendo do livro em questão, o exegeta sempre podia irromper numa declamação de uma circulação de centenas de versos de poetas das mais diversas épocas: Homero, Dante, Milton, Whitman, Emily Dickinson, Wallace Stevens, John Ashbery... (E Shakespeare, claro, o bardo era