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Mostrando postagens de abril 8, 2011

Miacontear - O cesto

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Por Pedro Fernanades Pela milésima vez me preparo para ir visitar meu marido ao hospital. Passo uma água pela cara, penteio-me com os dedos, endireito o eterno vestido. Há muito que não me detenho no espelho. Sei que, se me olhar, não reconhecerei os olhos que me olham. Tanta vez já fui em visita hospitalar, que eu mesma adoeci. Não foi doença cardíaca, que coração, esse já não o tenho. Nem mal de cabeça porque há muito que embaciei o juízo. Vivo num rio sem fundo, meus pés de noite se levantam da cama e vagueiam para fora do meu corpo. Como se, afinal, o meu marido continuasse dormindo a meu lado e eu, como sempre fiz, me estirasse para outro quarto no meio da noite. Tínhamos não camas separas, mas sonos apartados.¹ Assim inicia um dos contos mais densos, que eu acho, desse livro do Mia Couto. O narrador é uma mulher presa à rotina de levar, diariamente, atenção ao marido que está em coma no hospital. Entregue a esse movimento de ir-e-vir casa-hospital-casa ela é um sujeito