Debaixo de algum céu, de Nuno Camarneiro
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Por Pedro Fernandes “O escuro serve-nos para esconder o que não queremos ver, esperamos o dia e depois lavamo-nos com água e luz na esperança de alguma coisa nova. Mas não somos diurnos como queremos ser, Manuela, fundeamos a noite, e do pescoço para baixo somos só mistério.” Este excerto é parte de um diálogo entre Daniel e sua vizinha, depois que ela toma a decisão de voltar ao apartamento do padre e reaver o tabuleiro deixado com restos de assado num dia anterior quando os dois se envolveram sexualmente. Esclarecido o contexto da fala, a expressão recobre por via indireta sobre os que dois têm vergonha de falar abertamente a fim de estabelecer uma compreensão ou justificativa que seja para o ato impensado ou guiado apenas pela força do desejo carnal. Mas, sua expressão pode de maneira bastante acertada oferecer uma compreensão sobre o romance de Nuno Camarneiro. Debaixo de algum céu se filia ao que talvez ingenuamente poderíamos definir como uma tradição romanesca