Livro do Desassossego: o romance possível (var.: impossível)
![Imagem](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgUKFddIoGo6wgPQvK94_Y5SPczc8nPVCaxXtT1cK0FUN-lUerYwgyp0oMOxZfX5T_xorsCIqfoJoL6eEQEf5TdodgSWpkvVROmm2mYvoK5COo0uQgbmXhjFm14RAmguoIABb1nNTFnC5Y/s640/desassossego1.jpg)
Por Richard Zenith Cena do Filme do desassossego . Citamos o Livro do Desassossego como se fosse um tesouro de frases geniais, um compêndio de ideias, ora mais ora menos desenvolvidas, uma miscelânea de fragmentos avulsos. E é natural que o encaremos desta maneira, pois corresponde ao estado em que efectivamente foi deixado. Em boa verdade, mesmo que Pessoa tivesse revisto e organizado o Livro , e por mais que o tivesse domado e domesticado, seria sempre uma obra constituída por fragmentos. Isso nada tem a ver com um projecto putativamente modernista de pôr em causa o livro enquanto formato literário. Muito menos se deve à impossibilidade de encontrar uma forma adequada para ele. Pessoa encontrou-a logo no início. O fragmento – aliás, umas centenas de textos de variado tamanho e relativa autonomia a que chamamos fragmentos – é precisamente a forma que lhe convinha, dado o livro ser narrado por alguém cujo estado de alma é um devaneio permanente. Não é que o narrador