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“Me mataron los murmullos”: um comentário acerca da tensão entre o real e o insólito no conto “Paso del Norte”, de Juan Rulfo

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Por Felipe de Moraes   — O cassaco de engenho quando o carregam, morto: — É um caixão vazio metido dentro de outro.   João Cabral de Melo Neto, Dois parlamentos (1958-1960) Juan Rulfo em Nevado de Toluca. Autorretrato, anos 1940.      Meu objetivo neste pequeno ensaio será o de analisar, através de uma leitura cerrada dos aspectos formais, a tensão existente entre um “resíduo histórico”, portanto realista, da realidade e o insólito (ou “fantasmagórico”, nos dizeres do crítico Davi Arrigucci Jr.)  no conto “Paso del Norte”, do mexicano Juan Rulfo. Desentranhar os significados profundos contidos no relato através de sua sonoridade expressiva, sua estrutura dinâmica na forma de falas diretas, e sua divisão em três partes, são os aspectos aos quais pretendo dar mais ênfase. Sempre tendo em mente, contudo, que para um autor como Rulfo, qualquer que seja a abordagem utilizada, será sempre parcial frente a uma obra que nasceu clássica, como diz Borges, no sentido em que as gerações dos homens