O dia dos prodígios, de Lídia Jorge
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Por Gabriella Kelmer Lídia Jorge. Foto: Jean-Luc Bertini É o aceno involuntário de Carminha ao lavar as janelas de casa o ato que recepciona o leitor que toma às mãos O dia dos prodígios (1979), romance de estreia da escritora portuguesa Lídia Jorge. A narrativa, ao se iniciar com a pitoresca descrição da personagem, situando-a para lá do vidro, simboliza o isolamento em que vivem a jovem e sua mãe, apartadas dos outros habitantes do vilarejo por rejeição e anteparo próprio, devido ao escândalo eclesiástico que fora o nascimento da moça. A limpeza sugestiona a tentativa de dirimir as nódoas passadas; a transparência das janelas nega, ao olhar externo, a presença de mácula na vida íntima. O narrador, que alternadamente vê à distância a personagem e se entranha em sua subjetividade, apreende simultaneamente o gesto do corpo e seu desejo interrompido de liberdade. A saída às ruas é, à filha do padre, a manifestação da sentença perpétua a ela imposta. O caráter insular da vida da jov