Dois mestres franceses: Patrick Modiano e Emmanuel Bove
Por Matías Serra Bradford Patrick Modiano. Foto: Baptiste Giroudon É sabido: precisa-se desaparecer para que outro possa nos transformar em figura de romance. Patrick Modiano dedicou-se a essas frágeis tarefas por mais de meio século. Em sua recorrente tentativa de restaurar dias distantes, repetindo-se despudoramente e sem necessidade de ser diferente de si mesmo, o autor de Dora Bruder tem sustentado que, se os segredos perduram durante toda a vida (estão inscritos em tinta invisível), serão como linhas de fuga, e isso significa o oposto da morte. O romance Tinta simpática (tradução livre) é a prova mais recente de suas investigações retrospectivas, seu ritornello é justamente “há espaços em branco nesta vida”, e não pretende resolver todos os mistérios: “Temo que uma vez que você tenha todas as respostas, sua vida se feche sobre si mesmo como uma armadilha, com o ruído de fundo das celas de uma prisão.” Não que confie em quantas evidências surjam. Prolife...