Postagens

Mostrando postagens de maio, 2019

Os diários de aprendizagem como ferramenta de educação dialógica

Imagem
Por Rafael Kafka Ilustração: Miren Asiain Lora Tenho trabalhado com alguns alunos um gênero textual o qual aprendi na minha segunda graduação, em Letras com Habilitação em Língua Inglesa, e que me permite umas reflexões bem interessantes. Por mais que ainda me falta leitura sobre o dito gênero, já o tenho usado com base em aulas tidas em 2013/2014 na UFPA no sentido de promover com os alunos um instrumento de auto avaliação e de autonomia. Isso se deve pela defesa que defendo de que a reflexão crítica sobre nossos próprios atos é um meio dos mais importantes para conseguirmos romper barreiras acerca de nossa aprendizagem. Por mais que sempre tenha me incomodado um certo ar liberal, influência clara da escola nova, os diários de aprendizagem me permitem uma provocação no sentido da escola libertadora que almejo. Afinal, esta última nada mais é do que um ambiente onde o sujeito consegue refletir concretamente sobre problemáticas variadas e agir de maneira direta sobre

Desta terra nada vai sobrar, a não ser o vento que sopra sobre ela, de Ignácio de Loyola Brandão

Imagem
Por Pedro Fernandes Na fuga empreendida pelo protagonista de Desta terra nada vai sobrar, a não ser o vento que sopra sobre ela , há um diálogo entre ele e uma personagem acerca da dimensão do tempo; é uma ocasião quando lhe revelam que a história por ele vivida se passa num tempo depois de amanhã. Espantado com a possibilidade aparentemente impossível, reflete ainda que “As pessoas estão perdendo a razão” e se pergunta sobre o que está acontecendo: “Andam como zumbis, falando com ninguém, ou com alguém que não é visto. Mandam imagens para dizer onde estão e depois não sabem onde estiveram”. A retomada dessa passagem especificamente é uma maneira nossa de entrar no denso tecido dessa narrativa; sua função aqui é, portanto, a de servir como chave de acesso sobre a própria estrutura de um romance construído de forma perfeitamente ardilosa e, por isso, capaz de favorecer o leitor a uma experimentação sobre a contínua paranoia que tem se tornado as existências comuns desde a

Alfonsina Storni, a relevância artística de uma mulher que se recusou a ser uma

Imagem
Por Alberto López Alfonsina Storni teve uma vida tão dura quanto apaixonante. Viveu marcada pelas dificuldades econômicas desde uma infância vencida entre o alcoolismo de seu pai e a necessidade de se virar sozinha. Era uma menina tão à frente que sua mãe viu nela qualidades diferentes das de seus irmãos e foi a única a quem deu escolaridade. Storni, também conhecida pelos pseudônimos Tao-Lao e Alfonsina, sempre reconheceu ser uma mente masculina presa num corpo de mulher, por isso lhe doía ser mulher. Apesar dos desenganos amorosos, de considerar o sexo um estigma, de seu nervosismo até à paranoia e das depressões que padeceu, dedicou sua existência a lutar contra as desvantagens e discriminações das mulheres com uma prolífica obra como escritora e como jornalista. Ela nasceu em Capriasca, Suíça, no dia 29 de maio de 1892, embora não poucos situem essa data em 22 de maio. Filha de pais ítalo-suíços, nasceu naquele país quase por acidente, já que a sua mã

Raymond Carver, o sujo

Imagem
Por Pablo Retamal N. Entre os “Conselhos para escrever contos” (que se encontram no livro Entre parêntesis ), Roberto Bolaño disse que precisava ler Anton Tchekhov e Raymond Carver porque “um deles é o melhor contista que este século nos deu”*. Como a maioria de suas análises literárias, o autor de Estrela distante não se equivocava. O escritor nascido em Clatskanie, Oregon (1938), destacou-se no território do conto e nunca escreveu um romance. Consultado numa entrevista com Claude Grimal, em 1987, sobre por que escolheu escrever contos – e poesia – ao invés de romances, Carver respondeu: “Eu era muito jovem. Casei-me aos dezoito anos. Minha companheira tinha dezessete; estava grávida. Eu não tinha dinheiro para nada e tínhamos que trabalhar todo o tempo para dar de comer a dois filhos. Também era necessário que eu fosse à universidade para aprender a escrever e era simplesmente impossível começar algo que me tomaria dois ou três anos. Foi assim que comecei a e

A obra literária de Simone de Beauvoir

Imagem
Por Ana María Moix Simone de Beauvoir, 1957. Foto: Jack Nisberg / Roger-Viollet. Deixando de lado os livros dedicados ao ensaio político, ao ensaio feminista e os volumes que recolhem sua peculiar experiência como viajante atenta e incansável, a obra literária de Simone de Beauvoir (1908-1986) se inscreve em dois gêneros – as memórias e o romance – que na nossa opinião são inseparáveis uma vez que são obras que se completam e mesmo constituem um só universo se não linguístico, ideológico, anedótico e humano. “Escrever sempre foi a grande preocupação de minha vida”, repetiu Simone de Beauvoir em várias ocasiões. Ao concluir seus estudos, enquanto preparava notas e dizia começar a escrever, anotou em seu diário: “Minha vida seria uma bela história que se tornaria verdadeira à proporção que a contasse a mim mesma.” E, de fato, não fez outra coisa mais que narrar a si própria e narrar sua vida e seu pensamento: de um modo objetivo, dirigindo-se ao leitor aberta e

Boletim Letras 360º #324

Imagem
Amiga e amigo leitor, estas foram as notícias que passaram pelo mural do blog Letras in.verso e re.verso no Facebook durante a semana. Em destaque, a grata surpresa do Prêmio Camões atribuído a Chico Buarque. Boas leituras! Segunda-feira, 20 de maio Terror e modernidade , de Donatella Di Cesare, o novo livro do catálogo da  Editora Âyiné Somos propensos a ver os ataques terroristas como uma aberração, uma incursão violenta em nossas vidas que não teriam relação intrínseca com as características fundamentais das sociedades modernas. Mas seria essa visão uma interpretação errônea da relação entre o terror e a modernidade? Neste livro, a filósofa Donatella Di Cesare adotando uma abordagem histórica argumenta que o terror não é um fenômeno novo, mas sim parte fundante da modernidade. Em seu nível mais básico, o terrorismo é sobre a luta pelo poder e pela soberania. A crescente concentração de poder nas mãos do Estado, elemento constitutivo das sociedades modernas, prepar