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Boletim Letras 360º #644

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DO EDITOR   Na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a manter o Letras . Thomas Mann.  Foto: Thea Goldmann LANÇAMENTOS   Chega o primeiro volume da tetralogia José e seus irmãos , obra-prima de Thomas Mann que, inspirada num breve episódio bíblico do Livro dos livros , ocupa posição singular na literatura do século XX .   Através das centenas de páginas da tetralogia José e seus irmãos , vemos o espraiar de uma jubilosa festa da narrativa, conforme enfatiza o “prelúdio” às “Histórias de Jacó”, abertura dos quatro livros — a serem publicados em três volumes pela Companhia das Letras — que acompanhariam Thomas Mann durante os longos anos de exílio. Expandindo o relato do livro de Gênesis, Mann criou uma das maravilhas da literatura moderna, um romance de formação ambientado na Palestina bíblica e no Egito faraônico. Refletindo em suas profundezas simbólicas a ascensão do fascismo, assim como as forças d...

Sylvio Floreal de trás para a frente — uma nota imprevista da alma

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Por Lucas Paolillo   Nesse saco de gatos que é a filosofia, Nietzsche foi o gato que mais miou, arranhou, revolucionou e depois saiu airosamente com uma porção de unhas desses felinos cravadas no crânio, o que lhe proporcionou a maior apoteose que um espírito como o seu poderia ambicionar — a loucura!     — Sylvio Floreal.   Sylvio Floreal. Foto: A Cigarra , 1927.   Sylvio Floreal é um personagem de difícil enquadramento. Acertar na medida para apreciar os seus escritos é tão desafiador quanto compreender a sua figura. Conforme veremos, ambas não são muito dissociáveis. No entanto, se essa dificuldade se faz visível, é apenas porque a invenção que ele fez de si mesmo cumpriu, de um modo ou de outro, seus propósitos. Observação, é bom que se diga, devida à jornada de Floreal ser movida por muita invencionice e imaginação caudalosa. De início, suas intervenções na vida literária se fizeram sobretudo pela via da performance verbal, teatral, disseminadora de ornamen...

Pensar a morte, escrever o abismo: leituras de Emil Cioran

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Por Amanda Fievet Marques Emil Cioran. Foto: Arnaud Baumann    O filósofo romeno de expressão francesa, Emil Cioran, construiu uma obra marcada por um pensamento sem sistema, um pensamento deliberadamente fragmentário centrado nos limites da existência, na irremediabilidade da morte e na falência das construções metafísicas. Sua escrita, aforismática e corrosiva, recusa a retórica e rejeita qualquer lenitivo. Este ensaio propõe-se examinar algumas de suas reflexões sobre a morte, as vicissitudes da vida e a escrita, a partir de quatro obras: Lágrimas e santos (1937), Breviário de decomposição (1949), Silogismos da amargura (1952) e Esboços de vertigem (1979). A leitura parte da hipótese de que, em Cioran, a morte não é apenas um tema, mas uma força formal: ela estrutura a linguagem, impõe ritmo ao pensamento, corrompe a esperança e funda um estilo. Pensar a morte, para ele, é escrever contra a ilusão, e escrever, portanto, no abismo. Trata-se de um gesto que recusa a trans...

The End: que o fim do mundo nos pegue dançando

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Por Cristina Aparicio   Fim. O fim. Aqui termina a história. Com um “The End”, essas palavras icônicas agora obsoletas, os filmes costumavam terminar. E foi assim que Joshua Oppenheimer intitulou seu mais recente longa-metragem, com uma referência a uma era já clássica do cinema, mas optando por começar onde ela termina. A primeira incursão do cineasta na ficção (após dois documentários poderosos e inovadores que exploraram as convenções do gênero e borraram os limites entre realidade e performance) está intimamente ligada às origens da sétima arte.   Nos compassos iniciais do filme, o letreiro de Hollywood ocupa uma posição privilegiada dentro do plano, situado acima da maquete que Hijo (George MacKay) está construindo. É o momento antes do jovem começar a cantar em um número que intercala diálogos e canções, uma cena em que todos os personagens aparecem em uma espécie de abertura, típica de qualquer obra musical. Embora “típica” talvez não seja um termo apropriado para se r...

Walter Benjamin: fragmentos de uma biblioteca

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Por Georgina Cebey   Certa tarde de 1933, a fotógrafa judia Gisèle Freund deixou sua casa na Alemanha. Pegou um trem com destino à França; entre os seus poucos pertences, os dois mais importantes eram sua câmera e uma carta de aceite da Sorbonne, onde continuaria seus estudos em sociologia. Apesar de ter conhecidos na cidade, Freund passava as tardes na Biblioteca Nacional de Paris, um lugar que se tornou o seu predileto para estudar, mas também uma espécie de suposto lar. Desse lugar, a fotógrafa relembrava em Le Monde et ma caméra (trad. livre O mundo na minha câmera ):   “A sala de leitura, muito maior, era coberta por uma cúpula de vidro através da qual se filtrava uma luz difusa e acinzentada. A maioria dos leitores eram frequentadores assíduos de longa data. Cientistas, pesquisadores, jornalistas e monges eruditos compartilhavam mesa com deputados que ali iam preparar seus discursos. O ar exalava a poeira e a um desinfetante adocicado que um guarda ocasionalmente borrifa...

O estranho caso dos poemas de Gullar que não chegaram à URSS

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Por Rafael Bonavina   Ferreira Gullar, 1965. Foto: França. Arquivo Correio da Manhã (Reprodução) O grande poeta maranhense Ferreira Gullar é um daqueles escritores que, apesar de sua obra importantíssima, ainda se encontra praticamente não traduzida; só aqui e ali encontramos algumas traduções de excelente qualidade. Porém, é preciso chamar a atenção para um caso bastante peculiar em que alguns de seus poemas poderiam ter alcançado outro idioma, mas morreram na praia, ou melhor, na neve. Para isso, começaremos por uma breve explicação de como Gullar foi parar na União Soviética em plenos anos 1970.   Como sabemos, o poeta maranhense era bastante incômodo para a Ditadura Militar por causa da sua atuação política, tanto poética quanto militante; diga-se de passagem, que não se tratava de um ator de segunda categoria, e sim de importância fundamental naquele momento. Por exemplo, sua voz grave e impactante era muito requisitada para a narração de filmes do Cinema Novo, como Maior...