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Mostrando postagens de dezembro 20, 2024

Corrigir até doer

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Por Alejandro Zambra Adolfo Couve   Nas narrativas de Adolfo Couve abundam os meninos silenciosos, as famílias discordantes e os artistas temperamentais desaparecidos na “deterioração infinita” de uma paisagem outrora esplendorosa e agora decadente que, justamente por isso, mostra-se encantadora, literária.   Desdenhando sua inegável destreza como pintor, o autor optou pelo desafio da escrita e por fim se transformou, como disse César Aira, em um eterno principiante da literatura que preferia polir infinitamente os traços e corrigir o texto até que ficasse reduzido a sua expressão mínima.   Talvez o próprio Couve, que se suicidou em 1998, teria se surpreendido com o fato de que os brevíssimos volumes que foi publicando em intervalos irregulares — precisava anexar prólogos e aumentar a letra para que pudessem ter lombada — agora totalizem as quase quinhentas páginas da sua Narrativa completa .   A despeito das notórias mudanças de perspectiva existentes de Alamiro (1...