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Mostrando postagens de setembro, 2015

Percorrendo Jorge de Sena

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Por Maria Vaz Jorge de Sena, 1949. Foto: Fernando Lemos Jorge de Sena foi poeta, ensaísta, crítico, ficcionista, dramaturgo e professor universitário. Todavia, neste texto, centrar-nos-emos em nuances da sua poesia. O poeta nasceu em Portugal mas, após ter visto o seu sonho de pertencer à Marinha frustrado, pelo facto de possuir poucas habilidades físicas, decidiu seguir aquilo que a alma não calava: as letras. Não obstante, não podemos dizer que isso tenha ocorrido com a linearidade quem tem o ‘destino’ daqueles que não encontram obstáculos: Jorge de Sena tinha-se licenciado em engenharia, muito embora fossem as letras a sua grande paixão, o que lhe valaria algum preconceito posterior na avaliação da sua obra, a engenharia ocupar-lhe-ia tempo e tornar-se-ia a sua primeira profissão. Na linha do supra mencionado, não podemos falar dele sem referir as circunstâncias que o rodearam e condicionaram de alguma forma: nascido em 2 de novembro de 1919 (ano em que nascia a

Sylvia Plath, uma (ou a única) no extenso catálogo de mulheres de Ted Hughes

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Sylvia Plath, verão de 1953. Sylvia Plath nasceu em Boston em 1932 e morreu em Londres em 1963. É, sem dúvidas, uma das figuras mais emblemáticas da poesia anglo-saxã do século XX, e autora de uma obra há muito conhecida do leitor brasileiro que dispõe de constante reedições de sua obra, seja os poemas, seja seu único romance, A redoma de vidro (Biblioteca Azul / Globo Livros). Poeta condicionada a se tornar mito devido sua torturada existência, a mesma que a levaria colocar um fim aos 30 anos introduzindo a cabeça no forno da cozinha. Filha de um entomólogo de origem alemã e de uma professora de alemão descendente de imigrantes austríacos foi educada num ambiente familiar austero, marcado pela morte repentina do pai, acontecimento tornado mais tarde uma constante em sua obra poética. E começou a escrever muito precoce: aos oito anos já mandava poemas para revistas literárias e dizia que sua futura vocação era conseguir bolsas de estudo para viajar e estudar na Europa, escr

O poeta maldito: conceitos científicos e filosóficos da pequenez humana

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Por Neiva Dutra Augusto dos Anjos (20 de abril de 1884 –  12 de novembro de 1914) é autor de um único livro:  Eu , publicado em 1912. Apesar de ter sido rejeitado pela elite literária e cultural de sua época, que considerou de mau gosto recitar sua poesia nos salões literários, seus sonetos foram apreciados prontamente pelo público e recitados em bares pela lira popular. Sua poesia, de extraordinária musicalidade, destaca jogos fonéticos e aliterações, combinados com o uso de palavras inusitadas, mas assim como foram as imagens fantásticas, o uso de superlativos e hipérboles que corresponderam ao gosto do público da época, essas características chegaram aos dias atuais com uma força ímpar, que transcende as predileções do tempo em que foi publicado. A obra  Eu  conta com mais de cinquenta reedições, expondo uma visão profundamente pessimista e lúgubre da existência humana e seu caráter hermético, servindo-se de complexos conceitos científicos. Tem sido objeto de de

Boletim Letras 360º #133

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Gabriel García Márquez e Pablo Neruda. O autor de Cem anos de solidão  entrevistou o poeta. A raridade desse encontro é melhor comentada no decorrer deste boletim. Toda semana um conjunto de informações sustenta o fluxo de nossa página no Facebook; aliás, é para isso que ela existe. Enquanto outros blogs usam a rede social para publicar apenas o conteúdo que circula no seus espaços ou material de entretenimento, nós combinamos as duas coisas mais a ideia da informação. Editamos em média de duas a três notícias diárias; cada uma tem um elo com nosso conteúdo. No final da semana, quando compilamos essas entradas individuais em nossa página para nova edição, notamos que somam para mais de quatro páginas de conteúdo. E, desde quando notamos o impeditivo do Facebook em mascarar as publicações sem permitir que todos alcancem ver nossas publicações (e também porque nem todo mundo vive grudado na vida virtual) as informações retrabalhadas são postadas nestes boletins. Veem? Aí está o co

A cidade, os cachorros, o militarismo e o tempo

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Por Rafael Kafka Em Conversa no catedral , Mario Vargas Llosa desenvolveu, por meio de uma narrativa brilhante, única, um processo de investigação existencial e estética do período fascista peruano. A ditadura de Odria foi muito bem representada nas idas e vindas temporais das conversas entre Ambrosio e Santiago em um bar com nome de local sagrado, por meio de uma narrativa a qual não se preocupa apenas em promover um enredo de forma meramente verbal, mas desde o começo se compromete em prender o leitor por todos os seus sentidos, e em todos os sentidos de leitura possíveis, em uma experiência arrebatadora de leitura. Já em A festa do bode , sem tanto atrevimento, mas ainda assim com genialidade, vemos a ditadura que tomou conta da República Dominicana por diversas décadas retratada com riqueza de detalhes em três planos narrativos os quais visam a dar conta da figura do ditador Trujillo, da tentativa de derrubá-lo do poder arquitetada por alguns civis insatisfeitos e da