Valter Hugo Mãe, o cantor

Por Pedro Fernandes



Foi através do Prêmio Literário José Saramago que conheci o nome Valter Hugo Mãe; e é uma pena que até agora só o remorso de baltazar serapião tenha chegado desse lado do Atlântico. Que a Editora 34, que publicou essa obra, ou outra editora que venha adotá-lo, cumpra em vencer essa lacuna de divulgação da obra do escritor no Brasil. Afinal, não tenho lido nada mais que elogios ao seu trabalho e a recepção do prêmio Saramago deve dizer alguma coisa.

Mas, não é sobre o escritor, que este registro quer falar: é que em janeiro deste ano, o periódico português Jornal de Letras trouxe uma nota breve de Manuel Halpern sobre outra face do nome Mãe: a do cantor. Isso mesmo: não temos cá um Chico Buarque (cantautor como chamam os patrícios)? Pois de lá vem o Mãe. Sabia já do José Luís Peixoto.

A nota "O escritor que canta com maiúsculas", termo colocado em oposição à grafia com que tem escrito sua obra e incorporado na escrita (tudo em minúsculas, aliás, valter hugo mãe), Halpern comenta que Valter Hugo Mãe "canta à séria, apostando no esplendor da voz, quase num acto de vaidosismo, que contradiz a sua aparente timidez".

No elogio, a nota ressalta ainda a explosão vocal do português e a complexidade da letra do primeiro sing "Meio bicho e fogo", descrito como "um labirinto de imagens, de mensagem difusa, porventura borgiano". Eu diria, com afluentes surrealistas, um pé do que certa linhagem dos poetas portugueses fizeram tão bem.  

A música, entretanto, não é do Valter Hugo Mãe e sim de Miguel Pedro. A peça integra o disco da banda Governo. O videoclipe está online e reproduzo logo abaixo; as imagens são de Esgar Acelerado.



Meio-bicho e fogo

parte o navio para o labirinto,
sai o navio no fio vermelho,
vai ardendo na linha da água
e o combustível vem do temporal...
e a fuga do amor que vier?
não há fuga,
eu sou tão impuro!
e segue o navio para o labirinto,
para mim...
que tonto e difícil
o mítico corpo,
meio bicho e fogo,
minotauro bomba
prestes a rebentar, já segue morto...
o navio a afundar sob o temporal!
não há fuga do amor que vier!
não há fuga,
eu sou tão impuro!
e segue o navio para o labirinto,
para mim.
para o labirinto,
para o fim...

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