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Mostrando postagens de agosto, 2012

sem título

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Schiele,  Embrace  (1912) vale-me o corpo a carne que arde profana meu corpo enquanto vivo tudo o que ainda não tenho vale-me o corpo o nervo que pulsa profana meu corpo enquanto existo que depois disso tudo será vão * Acesse  o e-book  Palavras de pedra e cal  e leia outros poemas de Pedro Fernandes.

Toni Morrison, Nora Ephron e dezenas de conselhos sobre escrita

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Houve um tempo em que escrever – um dos desafios caros, tanto quanto subir o Everest ou ir a Lua – era tarefa dada ao silêncio de alguém que nutria basicamente o interesse pela luta com as palavras. Depois o gesto, como tudo, midiatizou-se e tornou-se mais que um desafio, uma espetacularização. Digo, antes se escrevia sem pretensões à fama. Hoje, tem fama para a escrita. É moda nesse cenário os cursos de escrita criativa. Hoje também se fabricam escritores como se fabricam roupas e acessórios. Os cursos, que devem gerar uma receita razoável, afinal todos hoje têm as pretensões de aparecer, em grande parte das vezes, foram responsáveis pela artificialização do processo literário. Paralelo a eventos com esses cursos construímos ainda um verdadeiro arsenal tecnológico em torno do gesto da escrita. através dele espreitamos sob todos os ângulos a intimidade da palavra e de quem se utiliza dela como trabalho. Se pensarmos as campanhas publicitárias que as editoras engendram para

17 músicas a partir da poesia de e. e. cummings e um texto raro de Virginia Woolf

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O poeta e. e. cummings. Espero não ter de abrir mais uma coluna por aqui com o título de literatura e música, tanto tem sido os encontros louváveis entre as duas formas artísticas. Recentemente, apareceu na web uma publicação dando contas de 17 canções que tomam como base a poesia do estadunidense e. e. cummings, compostas pela violinista Carla Kihlstedt, autora também do trabalho Literary Jukebox , inspirado em vários escritores, como T. S. Eliot, Dostoievski, Susan Sontag, Balzac, entre outros (que pode ser ouvido indo aqui ). O trabalho agora publicado intitula-se Tin hat: the rain is a handsome animal . Maria Popova do site Brain Pinckings, de onde pesquei a novidade, garante que este é o trabalho musical mais bem acabado desde o de Natalie Merchant's e o seu Leave your sleep , baseado em poemas para crianças. É possível ouvir algumas amostras de Tin hat  indo por aqui , onde também é possível comprar as músicas e ouvi-las integralmente. A escritora Virginia Woo

Adeus Berthe ou o enterro da vovó, de Bruno Podalydès

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Por Pedro Fernandes O que é a morte? Um ‘pif’, ‘paf’, ‘psit’. A resposta bem humorada é a encontrada por Armand quando sabe da morte de sua avó e vai até o asilo onde ela viveu por bom tempo em busca da causa mortis . Não apenas disso, mas em redescobrir quem era mesmo Berthe. A morte talvez seja o acontecimento que mais leve as pessoas a refazerem seus trajetos de vida, afinal, a dor da perda, ainda que ela esteja camuflada, como parece ser o caso neste filme, é capaz de propiciar um repensar sobre o que foi feito e o que estão fazendo com a própria existência que, no virar da próxima esquina pode também está desfeita. O significado da perda de um parente próximo é talvez o instante maior de se questionar sobre a vida e, em boa parte dos casos, um reencontro com a sorte de viver. O filme é uma divertida comédia com um tema sério e caro de se pensar, mesmo sabendo que é um estágio pelo qual todas as criaturas viventes um dia passarão. Não apenas o desenvolvimento do

Duas revisões de retratos

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Em edições recentes o Flavorwire publicou duas séries de revisões (assim achamos por bem chamar) de retratos de escritores famosos. A primeira delas feitas pela artista inglesa Shoey Nam e a mais interessante   retrata alguns de seus escritores favoritos através de desenhos delicados. Até aí nenhuma novidade. Mas, Nam intercala vários retratos numa mesma imagem dando contas de várias fases da vida do escritor ou mesmo as suas várias expressões faciais numa mesma imagem. Abaixo uma curta amostra (clique sobre as imagens para ampliar) e que pode ser ampliada indo ver outros trabalhos por aqui . Albert Camus Aldous Huxley Jack Kerouac A segunda delas vem de Michael Daye que num dia qualquer de posse de cartões postais com 100 escritores famosos e sem nada para fazer decidiu pela atividade a que todos já devem ter tido o prazer em fazer com os santinhos que nos entregam nessa época de campanha política: inventar outras faces sobre o retrato. Evidente, que no caso de

William Faulkner e o cinema

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Para William Faulkner a visão sobre o mundo do cinema foi dolorosa, chata e, finalmente, acabou cansada. Ele até tentou usar o cinema como uma forma de ganhar seu sustento (afinal no começo nunca logrou muitos louros como escritor), mas a sétima arte quase o devorou entre os anos 1930 e 1940. E desde então, sempre lutou contra sua maquinaria. É lendária a história sobre o encontro do escritor com um executivo da 20th Century Fox. O escritor passeava pelos arredores do escritório dos diretores no campus central quando o executivo se cruzou em seu caminho e lhe perguntou o que fazia. Nada. Não tens ideias? “Sim”, respondeu o escritor, “mas as escreveria melhor em mina casa que num escritório de direção”. O executivo contentou-se com a resposta e o permitiu ir... sem suspeitar que Faulkner não se referia à sua casa em Hollywood, mas ao seu lugar em Oxford, Mississípi. Outra anedota que contam é a do encontro entre o escritor e o ator Clark Gable, indiscutivelmente o galã da

Retratos para a construção do feminino na prosa de José Saramago

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Está aí o título de meu primeiro livro já anunciado noutras ocasiões. Há outros inéditos, esperando a boa vontade dos editores. Por enquanto é este. O que teve a sorte de ser escolhido por uma equipe editorial competente que, aos trancos e barrancos (por culpa minha, é claro, que tenho mania de perfeições) conduziu as coisas tudo nos conformes. O livro está em pré-venda. Quem adquiri-lo levará para casa o produto sem o frete, apenas pelo seu valor de comercialização. O que o leitor terá em mãos é o resultado de meu trabalho de dissertação de mestrado. Sempre tive decidido, desde que me pus a elaborar o texto que este seria transformado em livro. Por uma razão: tanto esforço e tempo de pesquisa não servem para ser engavetado ou posto numa estante de uma biblioteca setorial para consulta aleatória. Não. Se mofar e tomar poeira será nas estantes das livrarias, dos sebos, das estantes dos que levarem o resultado do esforço e tempo para casa. É resultado de minha dissert

Os 100 anos de Nelson Rodrigues

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Fecha-se hoje o primeiro centenário de Nelson Rodrigues. Autor de uma leitura das mais coerentes do Brasil contemporâneo, também foi ele, segundo a professora Bárbara Heliodora, uma das maiores autoridades no país na do dramaturgo inglês William Shakespeare, o inventor do teatro moderno brasileiro. Nelson foi ao centro nervoso da nação, descreveu como ninguém a família brasileira e soube ver todos os colapsos não como uma patologia, mas como uma macabra necessidade humana ou ainda como aquilo que nos define enquanto humanos.  Pela passagem da data recuperamos aqui dois vídeos que melhor dizem de Nelson. O primeiro, que está dividido em três partes, é a clássica entrevista concedida a Otto Lara Resende para a TV Globo em 1977. Embora seja uma das entrevistas mais citadas nas conversas de blog, é justo recuperá-la por duas razões: antes, Otto é um gentleman  das perguntas. Não se perde nas deambulações dos entrevistadores de hoje que querem mais chamar atenção com seus questionament

Goethe e a psicologia das cores

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prisma de cores desenhado por Goethe. “Colour itself is a degree of darkness”, setença de Goethe, que traduzida diz mais ou menos “A cor em si é um grau de escuridão” Todos talvez não tenham reparado, mas a cor é uma parte essencial de como sentimos o mundo tanto biologicamente quanto culturalmente. Já imaginaram ver o mundo totalmente sem ela? Um dos primeiros pesquisadores que levaram adiante a ideia de formular uma teoria da cor vem, e isso quase ninguém sabe, pela cabeça de um poeta alemão, que chegou ainda a figurar no espaço da política, Johann Wolfgang Von Goethe. Isso mesmo.  O autor do Fausto , em 1810 publicou um tratado sobre a natureza, função e psicologia das cores. Sob o título de A teoria das cores , o trabalho foi rejeitado por grande parte da comunidade científica; não para outra parte de filósofos e físicos, como Schopenhauer, Gödel e Wittgenstein. O tratado, que terá levado, trinta anos para ser elaborado tinha por ponto central a re

Um evento feliz, de Rémi Benzançon

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Por Pedro Fernandes “Ele me estimulou, me fez ultrapassar meus limites, me confrontou ao absoluto: do amor, do sacrifício, da ternura, do abandono. Ela me deslocou, me transformou. Por que ninguém me disse nada? Por que não se fala nisso?” A fala é da personagem principal de Um evento feliz , uma aproximação masculina porque o filme é dirigido por um homem de um evento eminentemente feminino: a maternidade. Não que o homem esteja ausente da experiência. Pelo menos no filme não, ele está muito presente. Mas que, disso já sabíamos, ter um filho é um dos fenômenos naturais mais completos e complexos. Ainda mais quando se incorporam às transformações corporais da mulher um lastro de outras questões, externas, mas que contribuem para aquela ideia de independência tão almejada, nos dias de hoje, por todos. Além de acompanhar de perto a chegada de Léa num casal principiante no mundo da maternidade, Rémi Benzançon quer pensar os novos parâmetros para esse lugar chamado fam

A arte de ilustrar Jorge Amado (Parte II)

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Quem disse que só se fala de um escritor em datas importantes? Se assim acontece com alguns, bem, há alguma coisa errada. Fala-se sempre. E, hoje, já uma semana depois do centenário do brasileiro Jorge Amado, certamente o fato literário mais comentado dentro e fora do país, vamos finalizar a mostra com ilustrações e ilustradores da sua obra. Na primeira parte dispomos 11 nomes ( aqui ), agora vamos conhecer outro tanto dando ênfase a duas frentes de trabalhos: os feitos por artistas plásticos de renome, como Carybé e Floriano Teixeira, os que aliás, mais ilustraram trabalhos de Jorge Amado, e os nomes contemporâneos que foram para o texto amadiano e ilustraram para as edições recentes. 1. Carybé: ilustrou obras como Jubiabá , O compadre Ogum , O sumiço da Santa , O gato malhado e a andorinha Sinhá  e A morte e a morte de Quincas Berro d'água . Carybé. Ilustração para Jubiabá Carybé. Ilustração para O gato malhado e andorinha sinhá 2. Clóvis Graciano: ilustrou 

Para ler "Rol da feira", de Márcio de Lima Dantas

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Por Pedro Fernandes Ainda se escrevem róis. E as qualidades do gênero têm suas proximidades com as da poesia. Até chegar a esta observação, ler Rol da feira , o novo livro de Márcio de Lima Dantas, apesar de ponto de partida para as reflexões, não foi suficiente. É possível que, no instante, em que buscar essas aproximações, encontremos as razões pelas quais dão sustento ao poeta para assim denominar um feixe ímpar de vinte e três quartetos. Aponta a princípio a semelhança formal. Um rol não ocupa a dimensão total do papel. Mesmo que esse papel seja pequeno o bastante para não conter o escrito, imaginariamente, ficam os espaços em branco para as margens. Um rol geralmente agrupa uma sequência de elementos inventariados em série enumerativa assemelhada à disposição do verso; e, se olharmos as características da poesia contemporânea, nas de estágio surrealista, estamos pensando em Leo Spitzer, as “enumerações nominais”, sequenciando elementos, também é uma característica do po

Conhecimento do inferno, de António Lobo Antunes

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Por Pedro Fernandes Faz poucos dias que findei um ensaio que põe lado a lado a obra dos escritores José Saramago e António Lobo Antunes. A mídia que quer rivalizar tudo, esteve, enquanto o primeiro esteve vivo, criar caso entre ele e o segundo. E alguns estão mesmo crentes que o primeiro supera o segundo ou o segundo supera o primeiro, como se nesse território das letras as coisas fossem definidas como num ringue, o que já sabemos, velhos de longa data naquilo que lemos, que não é tão simples assim, nem tão fácil de apontar com o dedo em riste alguém melhor do fulano, cicrano ou beltrano. A exceção dos literatos de comércio, escritores que tem o trabalho literário como modelagem artística, não são melhores ou piores do que outros. Sabemos todos que cada um tem a literatura que tem e, no fim, todos têm uma parcela significativa no panteão da literatura. O resto? Bem, o resto, é fofoca, coisa que tem andado no auge nos dias de hoje, quando reparamos, por exemplo, que o sujeito sem

Um inventário imparcial dos bens de Gustave Flaubert

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Por Joanna Neborsky Cartaz por Joanna Neborsky com objetos de Flaubert. Catalogado por M. Lemoel em 20 de Maio de 1880, doze dias após a morte do escritor. No quarto do primeiro andar: chapéu panamá chapéu alto lenço vermelho de seda  5 pares de luvas 19 camisas 2 robes 5 waistcoasts  7 bengalas tabaco jar dois pares de botas Na sala de jantar: 35 taças de champanhe 48 pratos de jantar em porcelana jantar uma pintura representando Napoleão um relógio de bolso com detalhes em ouro e gravado com as iniciais 'GF' uma corrente de ouro um anel de sinete de ouro com pedra quadrada uma colher de prata e duas forquilhas marcado 'N flaubert' 5 oyster- facas com punhos pretos e lâminas de prata No quarto de estudo no primeiro andar: Gravura em quadro madeira de carvalho representando A tentação de Santo Antão  por Callot relógio de mármore com figuras de bronze, o nome do fabricante 'Destigny' gravado na ligação repro

103 anos de uma tragédia

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Em 1905, Euclides da Cunha sai em viagem para a Amazônia como chefe da Comissão Brasileira de Reconhecimento do Alto Purus. Lá, permanece pelo menos um ano, enfrentando todas as circunstâncias perigosas numa região totalmente inóspita.  Filha de major e de um dos principais propagandistas da República, Anna conheceu Euclides da Cunha numa das visitas que escritor fez ao seu pai. Casou-se e viveram 18 anos. Foto publicada na Wikipédia. No Rio de Janeiro, sua mulher Anna Emílio Ribeiro, com quem se casou em 1890, lhe trai com um jovem militar, dezessete anos mais jovem. O escritor teve com ela cinco filhos, sendo que, o quinto deu-lhe para ter suspeitas de que Anna já o traía: o menino era louro, louro filho de duas pessoas morenas. No ano seguinte, o escritor volta da empreitada no Norte, muito debilitado pelos efeitos da malária.  Dilermando de Assis. Ainda aos 17 anos quando morava na Escola Militar conhece Anna com quem passa a ter um caso que se alimenta nas longas au

Ainda há centenários em 2012

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O escritor Lúcio Cardoso e a atriz Maria Fernanda. Registro de provavelmente 1949, quando o escritor fazia filmagens em Niterói, Rio de Janeiro, para um filme que ficou incompleto, mas foi recuperado agora pelo cineasta Luiz Carlos Lacerda. Foto: Ruy Santos. Passado os 100 anos de Jorge Amado feitos no último dia 10 e muito bem servido de comemorações, diga-se, e ainda haverá muitas outras ainda. Veja uma prévia por aqui . Ainda há e neste mês de agosto, dois outros escritores que estão também fechando um século. Lúcio Cardoso e Nelson Rodrigues. O primeiro está perfazendo a data hoje. Num ano de tantas celebrações em torno de nomes muito bem conhecidos, o de Lúcio ainda é pouco lembrado pelos brasileiros. Mas uma campanha encabeçada na cidade em que escritor nasceu, Curvelo, Minas Gerais, quer torná-lo figura que seja lembrada por lá e pelo Brasil, já que as atividades em torno do nome de Lúcio não se restringirão apenas à cidade mineira. E é merecido. Exemplo disso é a apr