Boletim Letras 360º #523

DO EDITOR
 
1. Olá, leitores, tudo bem desse lado? Desde 2012, nossa página no Facebook divulga conteúdo próprio sobre o universo dos livros, como reedições, pré-vendas, e esses e outros assuntos são selecionados e organizados nesta publicação semanal.
 
2. No meio do caminho, este Boletim ganhou novas seções, sempre interessado em contribuir para a aproximação do leitor a conhecidos e desconhecidos autores, a circulação dos livros e o fomento da leitura.
 
3. Lembramos sobre as possibilidades de apoio ao Letras. Nosso projeto é feito e distribuído gratuitamente, mas precisamos pagar despesas mínimas para a manutenção do blog online, como domínio e hospedagem. Sua ajuda é importante. Para descobrir todas as formas de colaborar, basta ir aqui.
 
4. Entre essas formas de apoio, está a aquisição de qualquer um dos livros apresentados aqui pelos links ofertados neste Boletim ou mesmo qualquer produto adquirido online usando este link.  
 
5. Tenham um excelente e proveitoso fim de semana!

Italo Calvino. Foto: Ulf Andersen


 
LANÇAMENTOS
 
Dois livros de Italo Calvino publicados em maio pela Companhia das Letras abrem o ano do centenário do escritor italiano no Brasil.
 
1. Um otimista na América — 1959-1960. Ao retornar de sua primeira passagem longa pelos Estados Unidos, que durou de novembro de 1959 a maio de 1960, Italo Calvino decidiu retrabalhar seu diário de viagem para transformá-lo em uma obra ao estilo de As aventuras de Gulliver. A jornada começa e acaba em Nova York, uma cidade que conquista o autor “como uma planta carnívora absorve uma mosca”, mas também inclui a visita a lugares como Cleveland, Detroit, Chicago, Montgomery, Savannah e Las Vegas. O livro relata encontros, impressões, observações e reflexões que jogam luz sobre o mito americano, sobretudo a respeito da mentalidade dos indivíduos e da sociedade que estão construindo. É um testemunho valioso de um homem de seu tempo, imerso em um momento repleto de transformações econômicas, sociais e culturais. A tradução é de Federico Carotti. Você pode comprar o livro aqui.
 
2. A entrada na guerra. O livro reúne três histórias ambientadas no ano de 1940 e inspiradas nas lembranças de Italo Calvino da Segunda Guerra Mundial, quando era muito jovem para precisar lutar no exército de Mussolini, mas com idade o suficiente para ser recrutado pelas brigadas jovens italianas. O narrador desses contos observa o desconforto crescente de uma cidade se preparando para a guerra, o saque de uma cidade francesa ocupada e as festas noturnas durante um blecaute. Nas palavras do autor, este é um livro que “trata tanto da transição da adolescência para a juventude quanto da passagem da paz para a guerra: como para muitas outras pessoas, para o protagonista deste livro ‘entrada na vida’ e ‘entrada na guerra’ coincidem.” A tradução é de Maurício Santana Dias. Você pode comprar o livro aqui.
 
Chegada da escritora colombiana Vanessa Londoño ao Brasil.
 
No vilarejo de Hukuméiji, no norte da Colômbia, a chuva torrencial leva lama, casas e cadáveres, enquanto desperta a memória das pessoas. O corpo humano, que experimenta prazer e desejo, também conhece o horror da violência mais brutal e permanente, porque lá — como aqui — todos têm algo arrancado de si: familiares, partes do corpo, terra, afetos. No entanto, a lembrança do passado incita outras formas de se comunicar, de amar, de continuar vivendo. Com uma escrita tão visceral quanto poética, Vanessa Londoño faz do corpo mutilado não só um sistema de explicação para a perda, mas também uma forma de evocar a empatia, a fim de compreender a ausência, a morte, a injustiça e a brutalidade com que o poder procura administrar as existências, as dores e os desejos, hoje, na América Latina. Com tradução de René Duarte, Cerco animal é publicado pela editora Peabiru. Você pode comprar o livro aqui.
 
Livro reúne cinco contos de Katherine Mansfield.
 
Adorada por Virginia Woolf, Clarice Lispector, Ana Cristina Cesar, entre tantas outras, Katherine Mansfield tem sido uma grande referência para escritoras desde as primeiras publicações. Sua escrita habita o intervalo — investiga a complexidade dos detalhes. Ao retratar pessoas comuns em situações cotidianas, Mansfield nos mostra nesta coletânea de cinco contos que, mesmo na superfície dos acontecimentos, se escondem conflitos sociais e psicológicos profundos. Em “Êxtase”, conto mais aclamado da autora, vemos de perto o descompasso entre o desejo intenso e a realidade, entre vivência e projeção. Também em “Aula de canto” a realidade é capaz de interromper a vida interior da protagonista, cuja emoção é modulada pelo ritmo da música, alternando tons e vibrações. Já em “As filhas do falecido coronel” e “A vida de Ma Parker”, as protagonistas têm de lidar com o luto — no primeiro, duas jovens herdam neuroses familiares e, no último, uma senhora enlutada é confrontada com a necessidade de manter-se impassível — e lhe resta desabafar com um literato para quem trabalha como diarista. Por fim, “Festa no jardim” encena um contraste da existência humana: enquanto uns dão festas extravagantes, outros conduzem funerais. A edição da Antofágica reúne cinco dos principais contos de Katherine Mansfield, com artes de Giulia Bianchi em giz pastel e pinturas, óleo sobre tela. Os contos foram selecionados e traduzidos pela escritora Nara Vidal, que também assina um posfácio. O livro inclui apresentação de Taize Odelli e textos de Talissa Ancona Lopez e Clarice Paulon. Você pode comprar o livro aqui.
 
Ottessa Moshfeh e uma história sobre as histórias que contamos a nós mesmos para suportar o mundo.
 
Vesta Gul fez o que pôde para viver dias de calmaria. Exausta e abatida após ter acompanhado a agonia final de seu marido, vítima de um câncer, ela decide encerrar o período de sofrimento com uma mudança de ares. Para isso, vende a residência do casal e passa a viver em uma cabana à beira de um lago. O cotidiano pacato é interrompido abruptamente quando ela encontra um bilhete revelando a morte de uma garota chamada Magda. Embora não conheça ninguém com esse nome, ela não consegue evitar as perguntas óbvias. Quem foi Magda? Por que, e por quem, foi assassinada? Foi mesmo um assassinato, ou ela morreu por acidente? Por que seu corpo foi abandonado? Como é possível que ninguém tenha percebido seu desaparecimento? O mistério de Magda lançará Vesta em uma jornada investigativa, na qual ela irá se guiar pelo conhecimento acumulado de romances policiais e filmes baseados em obras de Agatha Christie. Todavia, enquanto ela tenta recriar a vida e os passos de uma Magda hipotética, as fronteiras entre ficção e realidade começam a ruir, trazendo à tona os fantasmas e enigmas da própria Vesta. Tão imprevisível quanto sua protagonista, este romance de Ottessa Moshfegh apresenta uma rara combinação de suspense, comédia e horror. Morte em suas mãos é uma história também sobre identidade, e sobre as histórias que contamos a nós mesmos para suportar o mundo. Com tradução de Bruno Cobalchini Mattos, o livro sai pela editora Todavia. Você pode comprar o livro aqui.
 
Sacerdotisas voduns e rainhas do Rosário: mulheres africanas e Inquisição em Minas Gerais (século XVIII) reúne transcrições de documentos inéditos sobre a vida e as crenças de mulheres africanas perseguidas no Brasil por forças militares e pela Inquisição.
 
Essas mulheres pertenciam a grupos étnicos que habitavam a região da África ocidental chamada pelos portugueses de Costa da Mina. Escravizadas e trazidas para o Brasil, algumas se tornaram lideranças de comunidades negras na posição de sacerdotisas voduns (vodúnsis), ao mesmo tempo que exerciam cargos de juízas e rainhas da irmandade católica de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos — a principal confraria negra mineira. Os manuscritos dos processos contra as sacerdotisas foram localizados em Portugal no Arquivo da Torre do Tombo, entre os códices do Tribunal da Inquisição de Lisboa. O primeiro, de 1747, descreve um complexo culto em Paracatu (mg) dedicado ao “Deus da Terra de Courá”. O segundo e o terceiro referem-se a Ângela Gomes, “mestra” de práticas rituais africanas na comarca de Ouro Preto, coroada como rainha do Rosário. O quarto, datado de 1759, oferece detalhes sobre as práticas de Teresa Rodrigues e Manoel mina na comarca de Sabará. Sacerdotisas voduns e rainhas do Rosário inclui também papéis preservados nos arquivos históricos de Minas Gerais. Embora registrados por agentes do Império português, os depoimentos reproduzidos nos processos desvelam a multiplicidade de vozes e das trajetórias de vida das mulheres africanas, evidenciando a ideologia e a violência do racismo religioso. Organizado por Aldair Rodrigues e Moacir Maia, o livro é publicado pela Chão Editora. Você pode comprar o livro aqui.
 
A chegada ao Brasil da escritora argentina Inés Garland.
 
Em um fim de semana chuvoso, numa ilha de ambientes inundados, onde “árvores pareciam flutuar” e casas lembravam “animais aquáticos”, Alma conhece Carmen e Marito, irmãos que acabam de chegar ali para morar na casa de sua avó, Dona Ángela. Dali em diante, as três crianças passam a conviver aos finais de semana até a adolescência. À medida que crescem, as brincadeiras na casa da árvore dão lugar às perigosas confissões de intimidades e de paixões secretas. Certo dia, porém, acontece uma ruptura entre eles, algo que ultrapassa a vida dos três jovens amigos. Alma é então tomada por um sentimento de solidão e inquietude. Esse estranho sentimento que domina a protagonista encontra relação com a realidade: uma violenta ditadura se instaura na Argentina naquele exato momento. Assim, o universo seguro e acolhedor da juventude de Alma se desfaz em meio ao distanciamento de seus amigos, à violência, aos abismos sociais e às repressões. Alma, Carmen e Marito, que experimentam diferentes prismas da nova realidade, voltam mais tarde a se aproximar; mas, agora, quase adultos, tudo é diferente. Pedra, papel, tesoura, da argentina Inés Garland, narra a trajetória de Alma em direção à vida adulta. Eis uma trilha repleta de ausências e silêncios, e marcada profundamente por uma constante busca — do amor, da identidade e da esperança. Com tradução de Laura Jahn Scotte, o livro é publicado pela editora Roça Nova. Você pode comprar o livro aqui.

Em romance autobiográfico impactante, João Silvério Trevisan aborda a intensa amizade entre ele e seu irmão, compondo um quadro de impressionante veracidade sobre a perda.

Com uma narrativa poderosa e expressiva, Meu irmão, eu mesmo já nasce um livro fundamental de nossa literatura. Aqui, João Silvério Trevisan partilha com o público a experiência de amar e sobreviver até a última gota. Filho mais velho de uma família de baixa classe média do interior de São Paulo, João era um outsider, o irmão “que veio trazer o abalo”, a "implosão de certezas”. Seus laços familiares com Cláudio, o irmão do meio, tido como o mais progressista, o mais bonito, o mais querido, foram se estreitando. “Quando lhe contei pela primeira vez da minha homossexualidade, tornou-se meu admirador e um amigo incondicional”, escreve Trevisan. Cláudio foi um dos seus esteios psicológicos, afetivos, políticos e financeiros. Sobretudo nos infortúnios. “Era 1992 quando descobri que entrara na fila da morte, contaminado que estava pelo vírus HIV”, conta Trevisan. De modo inesperado, no entanto, a tragédia se abate sobre Cláudio, vítima de um câncer linfático fulminante, que se complica em pouco tempo — e ele falece em 1996. Com franqueza incomum, Trevisan fala do amor incondicional pelo irmão e da dor de compartilhar seus instantes finais. Revela muito de si, de sua vida intelectual e de suas relações amorosas. Como pano de fundo, aborda as lutas da comunidade LGBT nos anos 1990, suas conquistas e o pânico frente a uma doença então desconhecida. O livro é publicado pela editora Alfaguara. Você pode comprar o livro aqui

Romance de formação, thriller histórico, monumento literário pelos direitos indígenas.
 
Em Os homens mais altos, Fabián Martínez Siccardi dá vida à Manuel Palacios, nascido na Patagônia no início do século XX, mestiço de mãe tehuelche e pai espanhol e que, ao se deparar com seu destino, se vê diante de uma façanha inesperada: provar que os tehuelches são um povo eleito. A jornada vital e mística de Manuel, que termina com uma épica incursão nas entranhas dos Andes, nos leva a percorrer a história mais sombria e ignorada desse território mítico chamado Patagônia — e que é, em larga medida, a história mais sombria e ignorada de toda a América. Com tradução de René Duarte, o livro é publicado pela editora Peabiru. Você pode comprar o livro aqui.
 
RAPIDINHAS

Mais Calvino 1. A editora Companhia das Letras parece que não dormirá no ponto celebrar o centenário de Italo Calvino. Até o final do ano deve sair o primeiro livro de contos do escritor italiano, Por último vem o corvo. E...

Mais Calvino 2. As edições especiais de Se um viajante numa noite de inverno, Por que ler os clássicos e Todas cosmicômicas. Este último com ilustrações do artista plástico Marcelo Cipis.

REEDIÇÕES
 
Reedição do romance que consolidou Antonio Skármeta como um dos mais representativos autores da nova literatura latino-americana.
 
Tempestuoso, engraçado e apaixonante, O carteiro e o poeta conta a história do amor platônico de um carteiro por uma bela garçonete, incendiado pela poesia de Pablo Neruda. O que mais pode querer um homem apaixonado que ter um dos maiores poetas latinos como conselheiro sentimental? Mario Jiménez é um afortunado carteiro responsável pela correspondência de certo senhor que poderia ser apenas um simples ancião experiente e bem-falante sobre as coisas do amor, não fosse ele Pablo Neruda. A cada nova remessa de cartas, o humilde funcionário do serviço de correios chileno e o poeta consolidam uma relação inusitada: Mario vê no escritor e diplomata o cúmplice ideal nas considerações sobre a propriedade das metáforas e o mestre supremo na arte do amor. Em meio à efervescência política do Chile na virada da década de 1960 para 1970, a improvável amizade floresce. É do prêmio Nobel de Literatura que o carteiro busca conselhos sobre como conquistar o coração da garçonete Beatriz. E é do simples Mario que Neruda recebe os sons de sua casa, quando, doente, pede ao rapaz que grave os ruídos que encontrar pela Ilha Negra. Tal encontro, tão fictício quanto as figuras do carteiro e de sua amada, é promovido por Antonio Skármeta neste tempestuoso, engraçado e apaixonante romance. Uma inesquecível homenagem a Neruda, ao amor e à poesia. A tradução de Beatriz Sidou é reeditada em novo projeto gráfico pela editora Record. Você pode comprar o livro aqui

A quinta edição de um dos livros centrais de Geir Campos — um dos mais importantes nomes da Geração de 45.
 
São 640 verbetes ilustrados com centenas de exemplos poéticos cuidadosamente selecionados. Em outras palavras, além da parte conceitual propriamente dita, as páginas deste Dicionário reúnem exemplos da poesia de autores como Gil Vicente, Camões, Fernando Pessoa, Castro Alves, Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo, Mário de Andrade, Augusto dos Anjos, Manuel Bandeira, Cecília Meirelles, Murilo Mendes e Drummond, entre outros. Lançado em 1960, o Pequeno Dicionário da Arte Poética mostrou como o leitor brasileiro daquela época tinha interesse por poesia — a primeira edição teve tiragem de 10 mil exemplares. Sucederam-se edições nas décadas de 70 e 80, com revisões e acréscimos do autor, até que a obra chegou aos 640 verbetes. Uma lacuna, contudo, só agora foi preenchida. Ao final do volume, esta edição traz pequena biografia do poeta Geir Campos e três exemplos de sua poesia — “Da profissão de poeta”, “Tarefa” e “Metanáutica”.
 
OBITUÁRIO
 
Morreu Dubravka Ugrešić.
 
Dubravka Ugrešić nasceu na antiga Iugoslávia. Fez estudos em Literatura Comparada e Língua Russa na Universidade de Zagreb. Paralela às atividades como escritora construiu uma carreira acadêmica, atuando em diversas universidades da Europa e nos Estados Unidos. Com estopim da guerra de 1991, Ugrešić precisou deixar o país depois de sofrer dura repressão ao se posicionar contra o belicismo e o nacionalismo. Sua obra, de feições pós-modernas, sempre em trânsito entre a alta literatura e as formas mais triviais, organiza-se em torno do romance, conto e ensaio. Ainda praticamente desconhecida no Brasil, sua obra, entre as mais importantes da literatura contemporânea, encontra várias traduções em nosso idioma: A idade da pele, Raposa, O museu da rendição incondicional e Baba Yaga pôs um ovo são alguns dos títulos. Em 2009 foi nomeada no International Booker Prize e entre os vários prêmios que recebeu estão o Prêmio Heinrich Mann (2000) e o Prêmio Internacional Neustadt de Literatura (2016). A escritora morreu em Amsterdã, na Holanda, no dia 17 de março de 2023.
 
Morreu Jorge Edwards.
 
Jorge Edwards nasceu em Santiago em 29 de julho de 1931. Formado em Direito pela Universidade do Chile, sua presença no universo da literatura coincide com o período imediatamente posterior ao golpe militar de 1973, quando, exilado em Barcelona, trabalha como diretor da editora Difusora Internacional e colaborador da Editora Seix Barral. Anos antes, exerce atividade diplomática em Paris, Lima e Havana. Nos anos oitenta atua na criação do Comitê para Defesa da Liberdade de Expressão. Uma década à frente atua como embaixador da Unesco em Paris, e exerce nessa mesma instituição cargos no conselho executivo e no Comitê de Convenções e Recomendações. Escreveu romance, conto e ensaio. Alguns dos seus livros foram traduzidos e publicados no Brasil; são títulos como A mulher imaginária (Rocco, 1988), a biografia de Pablo Neruda Adeus, poeta (Siciliano, 1993) e A origem do mundo (Cosac Naify, 2014). Entre o seu vasto interesse, encontra-se a obra de Machado de Assis, escritor sobre o qual dedicou um extenso ensaio editado em livro em 2002. Acumulou vários prêmios, entre eles, o Prêmio Nacional de Literatura (1994) e o Prêmio Cervantes (1999). O escritor morreu em Madri, na Espanha, em 17 de março de 2023.
 
Morreu Kenzaburō Ōe.
 
Kenzaburō Ōe nasceu a 31 de janeiro de 1935, no vilarejo de Uchiko, na província de Ehime, Japão. Sua educação literária principia desde a infância com a avó e a mãe, quem o colocou em contato com a cultura ocidental fosse pela leitura de obras estadunidenses ou europeias. Na Universidade de Tóquio, estudou Literatura Francesa. É deste período a publicação de seus primeiros contos e novelas, incluindo “Dezessete” e “A morte de jovem político”, nunca mais reeditadas depois de passarem pela acusação de pactuar com a admiração à extrema direita; os textos foram inspirados no jovem Yamaguchi Otoya, assassino do presidente do Partido Socialista Japonês em 1960. A literatura de Ōe sempre se interessou pelas figuras e pelos acontecimentos históricos de grande peso para o seu país, mas também pela matéria da própria vida. Vários de seus livros estão publicados no Brasil: O grito silencioso (1986); A captura (1995); Uma questão pessoal (2003), tido pela crítica com sua obra mais importante; Jovens de um novo tempo, despertai! (2006); a coletânea 14 Contos de Kenzaburō Ōe (2006); Morte na água (2021); A substituição ou as regras do Tagame (2022); Adeus, meu livro! (2023). O mais importante reconhecimento da sua obra viria em 1994, quando recebe da Academia Sueca o Prêmio Nobel de Literatura. Kenzaburō Ōe morreu no dia 3 de março de 2023, fato confirmado pela editora Kodansha no dia 13.
 
DICAS DE LEITURA
 
Neste domingo, 19 de março de 2023, Philip Roth faria 90 anos. Neste blog, já o leitor encontra uma post listando dez livros fundamentais para conhecer a obra do escritor estadunidense. Para não cairmos em repetições, aproveitamos para recomendar três livros que podem servir ao leitor interessado em conhecer melhor o escritor, sua obra e outras frentes perpendiculares à literatura. Na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a manter o Letras.
 
1. Roth libertado, de Claudia Roth Pierpont (Trad. Afonso Malferrari, Companhia das Letras, 480 p.) Enquanto a mesma casa editorial deste livro se recusa a publicar a bem recebida biografia escrita por Blake Bailey, este é o livro sobre o escritor e sua obra mais acessível aos leitores brasileiros. Sem o critério da biografia ou da pesquisa acadêmica, Pierpont busca examinar a partir de várias direções a literatura do escritor e entender alguns dos seus convívios, como as amizades com Saul Bellow e John Updike. Você pode comprar o livro aqui
 
2. Entre nós, de Philip Roth (Trad. Paulo Henriques Britto, Companhia das Letras, 176 p.) Aprendemos muito sobre um escritor e sua obra por meio do que conversa com seus pares ou do que escreve sobre a obra deles. Neste livro, estão reunidas algumas entrevistas conduzidas por Roth e ensaios de sua própria autoria. Você pode comprar o livro aqui

3. Por que escrever? de Philip Roth (Trad. Jorio Dauster, Companhia das Letras, 568 p.) Em trinta ensaios, mais entrevistas e discursos passamos em revista alguns dos interesses e ou o ponto de vista de Roth sobre temas e situações caras ao seu pensamento e à sua literatura. Você pode comprar o livro aqui
 
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
 
Em 2010 o caderno Sabático, do jornal Estadão, esteve com Philip Roth para uma conversa em que o escritor discorre sobre a escrita e a preocupação com a morte. Vídeo disponível aqui.
 
BAÚ DE LETRAS
 
Kenzaburō Ōe foi um dos mestres na contínua interseção cultural entre o oriente e ocidente; sua vida não se pautou apenas pela criação literária, mas por uma luta contra a indústria bélica. Em 2008, o Letras editou essas notas biobibliográficas para um perfil do escritor japonês.  
 
A presença de Philip Roth no blog é significativa. Ainda pelas celebrações dos 90 anos do escritor, recordamos algumas das publicações que passaram por aqui, deixando o leitor com a curiosidade de acessar o Letras na segunda-feira, 20:
 
a) Neste texto, algumas das várias adaptações da obra de Roth para o cinema.

b) Aqui um comentário sobre a censurada biografia de Blake Bailey.

c) A referida lista com dez recomendações de leitura para conhecer seu universo literário é esta

d) Entre as resenhas sobre sua obra, destacamos esses dois textos: sobre A marca humana e sobre O complexo de Portnoy.
 
DUAS PALAVRINHAS
 
O romance pode ser comparado com um puzzle. As pequenas peças são o que ficou da destruição, são os restos. E um puzzle é um trabalho de reconstrução, quase uma luta contra o esquecimento da peça original.
 
— Dubravka Ugrešić
 
 
O principal incentivo que encontrei na minha vida para escrever é a leitura. Sempre fui um leitor. Comecei a ler muito quando criança e de repente me vi escrevendo.
 
— Jorge Edwards


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