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Mostrando postagens de fevereiro, 2010

Aquela ida indevida ao cinema

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Por Pedro Fernandes Muita beleza para nada. Idas e vindas do amor , um símbolo de pura perda de tempo no cinema.  São muitos os filmes que assistimos; mas os que marcam de verdade são poucos. No meu estágio de leigo na sétima arte sempre digo que filme bom é o que de alguma forma incita-nos a pensar por outro ângulo o que é tido como supostamente corriqueiro. Isso é algo que tem sido pouco valorizado ultimamente na arte de contar histórias com imagens. As telas estão preocupadas, e mais agora com a ascensão do 3D, com filmes de muitos efeitos visuais e pouco ou quase nada de enredo. Apenas interessado no entretenimento para a vista. Além do rol desses filmes pobres de enredo e rico em efeitos visuais há ainda um outro: o dos filmes ricos em bestialidade mas que ainda assim por motivo desconhecido escapa com um bonzinho ; são divertimentos para dias quando estamos interessados pelo banal, afinal, qual mortal não já terá se dado ao desfrute de queimar algumas horas caras da ex

Jorge Fernandes: o viajante do tempo modernista, de Maria Lúcia de Amorim Garcia

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Por Pedro Fernandes O poeta Jorge Fernandes. Imagem: Arquivo do jornal Tribuna do norte . Jorge Fernandes: o viajante do tempo modernista  é para ser lido como o resultado de um esforço ou de uma paixão por uma obra ainda colocada à margem do cânone literário potiguar. Muito embora, o nome do poeta seja sempre lembrado quando o assunto é tratar do Rio Grande do Norte no contexto literário advindo da Semana de Arte Moderna, em São Paulo; contexto, aliás, que terá produzido seus abalos sísmicos em todas as regiões do Brasil. Basta que se diga sobre a quantidade de periódicos dedicados à poesia e à prosa surgidos quase a um só tempo que espaços como as revistas Antropofagia  e  Klaxon , para citar dois títulos que ficaram mais conhecidos. A tarefa de Maria Lúcia de Amorim Garcia, professora aposentada da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), é magistral porque grande parte da obra de Jorge Fernandes encontrava-se dispersa em periódicos como os da cena modernist

James Joyce in amostra fotográfica (caderno em PDF) e o Selo Letras in.verso e re.verso

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Entre os dias 05 e 10 de agosto de 2008, este blog manteve uma exposição virtual intitulada  Um retrato de Joyce in amostra fotográfica . O material foi elaborado na passagem do centenário da estreia literária do autor de  Ulisses. Foi em 1907 que James Joyce publicou  Chamber Music , um livro com trinta e seis poemas desenvolvidos à medida de progressão do amor entre o eu-poético e sua amada num tratamento de simulação de estilo à elisabetana com utilização de muitos arcaísmos linguísticos. Ora, esse tratamento referido por Ezra Pound, grande incentivador e primeiro leitor da obra de Joyce, como uma inovação derivada do simbolismo pelo ritmo, seria algo no qual o escritor trabalharia toda uma vida até alcançar sua síntese máxima em trabalhos como o já referido Ulisses ou mesmo Finnegans Wake , considerada sua obra mais radical.  Agora, quando se passam dois anos daquele evento (chamemos assim) acontecido nestas páginas, decidimos, a título de preservação da ideia, recolher o material

Sherlock Holmes, de Guy Ritchie

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Por Pedro Fernandes Ele é a personagem mais famosa das mais famosas da literatura britânica; criada pelo médico e escritor Arthur Conan Doyle, Sherlock Holmes é um investigador do final do século XIX e início do século XX que aparece pela primeira vez no romance A Study in Scarlet ( Um estudo em vermelho ) editado e publicado originalmente pela revista Beeton's Christmas Annual , em novembro de 1887.  Pois, tantos anos mais tarde a personagem deixa novamente as páginas dos livros para ganhar cor e forma nas telas. Em 1922, isso já acontecera em filme; depois em 1970, no filme The private life of Sherlock Holmes ; e depois, em 1985, Young Sherlock Holmes . O Sherlock Holmes de 2010, do diretor Guy Ritchie, é leve, sem aquele peso sisudo e macilento ou sem aquele humor bestial e desleixado de outros filmes do gênero. Tudo isso preservando o perfil (até onde pude ler sobre, afinal nunca li a obra de Doyle) da personagem literária: o da dedução para o desfecho dos cas

O estágio em que ainda estamos

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Por Pedro Fernandes Em toda força militar (ou qualquer outro grupo social) há gays. Cena do filme Yossi & Jagger: delicada relação . As duas personagens  que dão título ao filme  são jovens soldados que atuam na fronteira entre Israel e o Líbano e  vivem uma história de amor proibida. Se casos como esses são comuns e naturais, há quem peça punição aos envolvidos. Essa semana, nas idas e vindas   pela internet, topo com uma constatação daquelas que vem sujar a cara pobre do Brasil. O portal de notícias Nominuto motivado pela declaração descabida do general Raymundo Nonato de Cerqueira Filho fez aos internautas o seguinte questionamento: Você concorda com a presença de gays nas Forças Armadas?  O Raymundão, indicado para uma vaga no Superior Tribunal Militar durante sabatina, na Comissão de Constituição e Justiça afirmara que a homossexualidade era um "desvio de comportamento" e que os gays deveriam "procurar outro ramo de atividade".  Os internautas fo

O princípio da desconfiança

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Por Pedro Fernandes Se queres prolongar o amor não permitas que a desconfiança te domine em relação à pessoa amada. Ovídio Esta post de hoje não teria vez neste espaço se o mantenedor dele não tivesse passando em sua vida pessoal por uma situação se não complicada, mas no minimo desconfortável. Não devo relatá-la porque isso, creio, é de meu interesse próprio e não deve ser ou vir-a-ser matéria de conversas alheias e creio que ao longo do texto claro ficará do que se trate a referida situação. Quero refletir acerca desse princípio que tem tomado dos pés à cabeça muita gente quando se trata da construção de uma nova cadeia de relacionamento amoroso. Todo mundo já deve, em algum momento da vida, ter se envolvido o suficiente com uma pessoa a ponto de esquecer-se de si para dar lugar ao outro. Isso não é doença. É um sentimento a que se denominou paixão e que tem data de fabricação e validade por tempo determinado. Também creio que essa mesma pessoa em algum momento de sua

Amor sem escalas, de Jason Reitman

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Por Pedro Fernandes Recente fui ao cinema ver esse que tem sido o trabalho de Jason Reitman mais comentado desde Juno . Baseado no livro de Walter Kirn, a trama é simples e diríamos envolver apenas três personagens, com destaque para a figura interpretada por Clooney, Ryan Bingham, um sujeito com uma profissão no mínimo peculiar; Ryan é pago para viajar pelos Estados Unidos fazendo aquilo que sempre fez Donald Trump no seu programa The Apprentice, feito no Brasil pelo publicitário Roberto Justus: despedindo funcionários de empresas em crise (a única diferença dos dois Reality shows - empresas em crise). De cara o filme se faz mais que atual ao por em tela - ainda mais quando a trama é interceptada por histórias reais de pessoas que foram sendo despedidas - as dimensões da crise econômica que tem abatido o mercado estadunidense e o resto do mundo. Ryan faz parte daquele grupo que se diz desapegado de tudo e de todos; passa a maior parte do tempo entre aeroportos e hotéi

O iPad

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Por Pedro Fernandes 1.  Uma nova onda tem balançado e muito as opiniões de quem tem uma relação mais íntima com a escrita e a leitura - principalmente essa última. O motivo para tanto veio da Apple que lançou no último dia 27 de janeiro de 2010 uma espécie de iPhone gigante, gentilmente batizado de iPad. A relação com a leitura será uma das abaladas com a invenção, dizem os inventores, porque dentre todas as praticidades que estão atreladas ao aparelho uma delas é a que visa ser um leitor de livros eletrônicos. 2.  Parte dessa balbúrdia, entretanto, deve ser controlada. Não vivi o tempo do surgimento da máquina de escrever e quando do surgimento dos computadores e dos notebooks ainda tinha minha cabeça enfiada noutro mundo - mas creio que, essas tecnologias tenham também elas causado algum mal entendido entre os tais sujeitos da escrita e da leitura na época. Mas, se dizem que nos acostumamos a tudo - a ambas tecnologias nos adaptamos e com ela só tivemos a enriquecer escrit

Antonio Callado

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Se no futuro for produzida uma lista com os mais significativos romances da literatura brasileira, um livro é indispensável não ficar ausente nela: Quarup , de Antônio Callado. Publicado em 1967, além de ser o mais famoso dos trabalhos do jornalista, romancista, biógrafo e dramaturgo brasileiro, não necessariamente nessa ordem, este livro, uma reapropriação de narrativas históricas e míticas se apropria, antes das reapropriações, de um pensamento que tem movido a literatura nacional desde José de Alencar, o da identidade nacional. Está aí o Brasil dos preguiçosos, dos doentes, a nação bricolada do que melhor e do que ruim há nos outros países, numa síntese que não quer renovar estereótipos, mas pensar a nação, pelos ângulos da contradição como um país que constantemente se reiventa. No entanto, se a lista fosse feita já hoje, duvido que este romance aí estivesse; seja por nossa amnésia literária, seja porque, a olho nu, este não parece ser um livro tão conhecido como já

Solidão interrompida

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Por Maria Betânia Monteiro Certamente a nova geração de leitores desconhece a obra de Walflan de Queiroz, um dos mais significativos poetas potiguares. O fato se deve principalmente a circulação restrita de seus livros nas bibliotecas do Estado. Para tentar mudar esse vácuo do destino, estudiosos buscam incentivo financeiro para divulgar a obra do poeta e escritor Walflan de Queiroz. Agora em 2010 completam-se 15 anos da morte do potiguar que nasceu em 1930, publicou oito livros de poesia e cerca de noventa trabalhos entre artigos, crônicas e pequenos ensaios impressos nos jornais de maior circulação no Estado. Para facilitar o acesso aos novos leitores, uma coletânea dos livros do poeta, organizada por Márcio Simões, deverá ser lançada pela editora Escrituras, em São Paulo. Além deste, outros dois livros estão a caminho: Biografia de Walflan de Queiroz e Obra em Prosa de Walflan de Queiroz , ambos do pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, João Antô

A lista de filmes da década pela Cahiers du cinèma

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Cena de Vincere A revista francesa Cahiers du cinèma é uma das mais conceituadas quando o assunto é a sétima arte - prestígio adquirido por uma "oposição" clara ao mass movie  de Hollywood. Nela já passaram os nomes conceituados de François Truffaut, Jean-Luc Godard, Eric Rohmer, entre outros. Seguindo a tradição das listas de fim de ano, em fins de 2009, a revista publicou uma lista  com os dez maiores filmes da década. Não há nenhum filme em brasileiro no top 10 da lista geral, contudo os títulos apresentados são, certamente, interessante sugestão para um bom programa em casa para os que não são de folia nesse carnaval.  A seguir a lista com uma sinopse de cada um dos eleitos: 1.  Ervas Daninhas , de Alain Resnais (2008): Marguerite Muir  é uma dentista solteira, que tem sua bolsa roubada ao sair de uma loja. Sem que ela perceba, sua carteira é largada no chão do estacionamento. Quem a encontra é Georges Palet, casado e pai de dois filhos. Curioso, ele vasculha a ca

O novo livro de José Saramago

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Por Pedro Fernandes 1. Aconteceu o que eu previ numa sondagem sobre o novo romance de José Saramago publicada certa vez por aqui. Saiu pela Fundação José Saramago e pela editora responsável pela obra do escritor português em Portugal, a Caminho, uma continuidade de O caderno . 2.   O segundo volume é uma continuidade do primeiro que reunia textos escritos para o blog de Saramago.  O caderno 2 , que traz um texto de Umberto Eco sobre o primeiro volume, acrescentado aí como um prefácio à obra que reúne o material publicado de setembro de 2008 às últimas entradas para o blog, em novembro de 2009. 3. A exemplo do primeiro volume é uma antologia de textos que representam as reflexões, as opiniões, as sugestões, as críticas aos mais diversos assuntos e sobre as mais diversas questões costuradas pelo olhar atento de um escritor sempre inquieto com o que lhe rodeia. Inquieto e ativo nas discussões sobre as idas e vindas da comunidade humana. 4.  Até agora só dispomos da edição po

Kaos, dos Irmãos Taviani

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Reunião de histórias sicilianas recria em imagens e sons o universo e o espírito de Luigi Pirandello A singularidade dos Irmãos Taviani (Paolo e Vittorio) já era uma marca desde o documentário A Itália Não é um País Pobre , longa que marcou a estréia da dupla em 1960. A trajetória dos Taviani se insere no registro do cinema político italiano, gênero constante ao longo das décadas de 1960 e 1970. Com o declínio dos temas e das questões que fizeram a fama do gênero, os filmes de dupla migraram para um registro mais poético, sem nunca esquecer uma atenção especial às injustiças sociais. A busca de uma grife literária torna-se mais consistente a partir de Pai Patrão  (de 1977, adaptação de um romance do italiano Gavino Ledda) e de Kaos  (que reúne histórias extraídas de contos de Luigi Pirandello). Em seguida, firma-se como referência de qualidade e respeito aos textos originalmente literários, com Noites com Sol  (de 1990, que adaptada uma história de Tolstói), As Afinidade

Conferência sobre a obra de José Saramago

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A obra produzida por José Saramago (1922 - ) está dividida em poesia, teatro, crônica, conto e romance. Boa parte dela não é apenas uma renovação estética, assim como fez com o romance, por exemplo, já definido pela crítica como um modo peculiar de narrar, assinaladamente marcado pela ressignificação da pontuação e da sintaxe gramatical. Sua obra, sobretudo a produção cronística e romanesca, é marcada pelo interesse de ser uma intervenção no atual modo de vida que vimos, enquanto Ocidente, construindo. Quando não, o escritor quer levar seu leitor a uma reflexão sobre isso; se nos conquista, alcança aquilo que é seu interesse maior - deixar de ser o que somos para ser outro tipo de humanidade. É evidente que, uma abordagem completa de sua bibliografia merece não uma conferência, mas um curso de longa duração no qual os espectadores pudessem como o pesquisador ler pausadamente o conjunto da obra e assinalar temas, formas e obsessões do autor. Mas, numa conjuntura em que ainda sã

Franz Kafka

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Os leitores iniciantes devem conhecer o nome de Franz Kafka através de duas obras das mais conhecidas:  A metamorfose  e  O processo . São dois títulos indispensáveis a todo aquele que busca conhecer sua obra e integram, pela forma e pelo tema, o rol dos clássicos de seu século. Basta dizer que, sensível ao seu tempo, o escritor tcheco terá sido um dos primeiros a compreender pela literatura sobre a angústia do homem moderno, sentido pelo qual todo leitor há de passar diante dos títulos antes citados. Se a questão poderia ser apenas um vulto no seu tempo, não há nada mais contemporâneo que esse sentimento tratado de maneira diversa pela psicologia, pela filosofia e outros campos do saber. Dizemos isso, pensando, sobretudo, no amplo estudo da corrente existencialista cujo tema designado por Jean-Paul Sartre de náusea  constitui-se para a psicologia no mal estar do homem moderno. Também Kafka soube modelar pela literatura outro mal da contemporaneidade: esse misto de sonho-realid

José Saramago, por João Marques Lopes

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edição portuguesa da Biografia de José Saramago Numa homenagem à vida e obra do escritor e Prêmio Nobel José Saramago, João Marques Lopes se lança com uma leitura da vida de um dos mais importantes autores do panorama literário mundial, revelando pormenores da vida de Saramago. O lançamento de Biografia José Saramago  foi feito no dia 21 de janeiro de 2010, pela editora Guerra e Paz. Sobre o livro, Saramago reagiu positivamente, dizendo que se trata de um trabalho honesto, sério e sem especulações gratuitas; entretanto, parece ter a obra alguns lapsos que o próprio escritor, na mesma nota de reação ao livro esclarece: "Aspectos desconhecidos, não os encontrei. Por exemplo, da morte de meu irmão Francisco falei nos Cadernos de Lanzarote . E não é certo que uma produtora norte-americana me tenha feito uma oferta milionária pela adaptação do Memorial do Convento. Recebi realmente uma proposta da brasileira  TV Globo para negociar a cessão de direitos para uma série. A minha r