Boletim Letras 360º #499

 
 
DO EDITOR
 
1. Caro leitor, até o mês de novembro, lembrarei aqui sobre o sorteio que agora o blog realiza com o apoio da Editora Trajes Lunares. A casa disponibilizou dois Kits com três livros cada para sorteio entre os participantes do nosso clube. Este clube de apoios é uma das alternativas para ajudar este blog com o pagamento das despesas anuais de hospedagem na web e domínio.
 
2. Para participar dos sorteios é simples. Envia um PIX a partir de R$15 a blogletras@yahoo.com.br; para saber mais sobre os livros da Trajes Lunares disponíveis, sobre outras formas de apoiar, visite aqui. E lembro que: a aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste Boletim garante a você desconto e ajuda ao blog sem pagar nada mais por isso.
 
3. Um fim de semana com responsabilidade (dia 2 de outubro é dia de eleições) e boas leituras!

Peter Handke. Foto: Laura Stevens


 
LANÇAMENTOS
 
Chega ao Brasil a primeira obra de Peter Handke pós-Nobel.
 
A segunda espada: uma história de maio é a primeira publicação literária de Peter Handke após receber o Prêmio Nobel de Literatura 2019. Foi aguardada com grande expectativa, sobretudo porque a premiação do autor fez crescer a controvérsia envolvendo seu nome e a Guerra da Bósnia. O livro não trata dessa polêmica diretamente, mas, por ser a narração de uma vingança contra um jornalista, há quem diga que o texto é uma “alfinetada” da literatura em certo tipo de jornalismo que insiste em alimentar sensacionalismos. Com uma narrativa enigmática, em A segunda espada acompanhamos um “herói” que abre sua história reconhecendo no espelho diante de si a imagem de um vingador. Esse narrador em primeira pessoa, então, se propõe a executar um jornalista que havia acusado sua mãe, em um artigo de jornal, de ser nazista. No entanto, quanto mais perto do seu objetivo, mais suas intenções ficam em segundo plano. Feito com a maestria de um escritor que se orgulha em ser sucessor de nomes como Homero, Cervantes, Tolstói, todos estes também excelentes na arte da digressão. A segunda espada: uma história de maio, portanto, por meio de uma história bastante palpável, e até mesmo violenta, conta outra história — aliás com um final surpreendente — e, portanto, outra realidade, talvez ainda mais real do que a primeira, do que a mais aparente. Com tradução de Luis S. Krausz, o livro sai pela Editora Estação Liberdade. Você pode comprar o livro aqui.
 
Mary Del Piore constrói um retrato inédito da maior pintora brasileira: do apogeu ao esquecimento – e então ao reconhecimento, ao fim da vida, que sedimentou seu lugar nas fileiras da imortalidade.
 
A premiada historiadora Mary Del Priore apresenta aqui uma biografia breve de uma das artistas mais geniais do modernismo: Tarsila do Amaral. Criadora de pinturas icônicas, que se confundem com uma estética canônica da representação do Brasil — a paisagem, a gente, as festas, o trabalho e os costumes —, Tarsila é um dos nomes mais aclamados na história da arte brasileira e, ao mesmo tempo, um vulto cuja vida íntima é pouquíssimo conhecida. Criada em uma família conservadora, dona de terras no interior de São Paulo, Tarsila rompeu, no início do século XX, as barreiras do moralismo de sua época para se tornar uma artista mundialmente conhecida. Engana-se, porém, quem acha que ela teve uma vida apenas gloriosa. Desilusões amorosas e traições, ataques à sua arte e à sua honra, julgamentos reacionários à sua tentativa de romper com a vida burguesa e até mesmo acusações de que seria colaboradora da polícia política de Getúlio Vargas são indicações da coleção de infortúnios que a assombraram em vida. O estilo de escrita de Mary Del Priore nos aproxima de Tarsila de forma ímpar. A narração desta biografia alia o lirismo da contação de histórias ao rigor da pesquisa em arquivo, e vai trazendo, aos poucos, sabores que sustentam um perfil incomum da grande modernista — tanto na revolução iconográfica que suas imagens representaram quanto na invenção de uma nova posição para a mulher na sociedade paulistana. Tarsila: uma vida doce-amarga é uma oportunidade única de conhecer de perto uma das artistas mais queridas pelo público, em uma leitura prazerosa, repleta de revelações. E ricamente ilustrada por dois cadernos de imagens com fotos raras de Tarsila e os principais destaques na imprensa sobre sua produção. O livro é publicado pela José Olympio. Você pode comprar o livro aqui.
 
Uma visita aos cadernos de Paul Valéry.
 
Conta-se que Paul Valéry acordava diariamente às 5 horas da manhã e se colocava a escrever, em pé. Durante mais de 50 anos (entre 1894 a 1945), o poeta madrugador preencheu 27 mil páginas de cerca de 260 cadernos, registrando reflexões sobre temas os mais variados, até mesmo das ciências ditas “duras”, entrecruzando formulações lapidares com anotações laterais, desenhos, gráficos, indicações textuais diversas. O volume e a complexidade desse material explicam a bem conhecida dificuldade de edição dos Cadernos, que apenas na década de 1970 ganhou uma versão não especializada (em certo sentido, simplificada), na prestigiada coleção Pléiade, da Gallimard. O lembrete é importante pois ajuda a perceber quão precioso é o presente trabalho de “tradução” da seção temática “Poiética” dos cadernos de Paul Valéry. Retomando o texto base da Pléiade, Roberto Zular e Fábio Roberto Lucas “corrigem” exclusões e decisões editoriais pouco sustentáveis, valorizando justamente as virtualidades de sentido dos Cadernos. Ao invés de “limpar” as supostas impurezas, optaram, ao contrário, por um procedimento “genético” que busca respeitar as relações de sentido inscritas em cada página, com o auxílio de diferentes edições e do fac-símile dos originais. Resulta disso uma “edição aumentada”, que nada mais é do que um trabalho inédito de edição de parte dos cadernos de Valéry, com “afinamento” filológico talvez mais convincente aos ouvidos atuais. É ao leitor de hoje, mais familiarizado com a ideia de inacabamento, mais sensível ao aspecto visual do texto, mais aberto à “hesitação” do pensamento, que se dirige a edição brasileira da Poiética de Valéry. Ao evidenciar outra leitura (não exatamente romântica) da estética do fragmento, os organizadores também nos mostram que há muito a ser redescoberto nesse autor cuja fama de “formalista” promoveu, mas também limitou, ao longo do tempo, o interesse por sua extensa e variada produção. O excelente posfácio que fecha o trabalho reúne elementos dessa historicidade, abordando não apenas o pensador da complexa reversibilidade entre forma e fundo, mas igualmente o intelectual atento a dilemas institucionais que abalaram a Europa no período que compreende as duas guerras mundiais. Paul Valéry (1871-1945) foi um dos mais importantes escritores franceses do século XX. Poeta amplamente reconhecido, fez da poesia um microcosmo que lhe permitiu entrecruzar os mais diversos campos do saber (poética, linguística, psicologia, política, física, biologia) e os mais variados meios de escrita (poemas, ensaios, traduções, peças, diálogos). Sua obra secreta, os cadernos, são o testemunho das dores e alegrias de uma vida que recusou a banalidade e a violência do mundo, partindo em busca de outras formas de pensamento e de outros modos de existência. O livro é publicado pela Editora Iluminuras. Você pode comprar o livro aqui.
 
Um livro sobre a inesgotável capacidade humana de se adaptar.
 
“Um dia, numa família, nasceu um menino inadaptado”. Assim começa a história do menino de olhos negros que flutuam para o nada, eternamente deitado, e dos seus três irmãos. Em meio à natureza poderosa das montanhas, são as pedras do muro da velha casa da família que testemunham suas trajetórias. O amor absoluto e protetor do mais velho, a rebeldia que a do meio assume para rejeitar a dor, a chegada do mais novo que cresce à sombra das memórias. Um livro magnífico e luminoso, sobre o laço infinito entre irmãos e a inesgotável capacidade humana de se adaptar. Se adaptar, de Clara Dupont-Monod, chega ao Brasil pela Editora Dublinense com tradução de Diego Grando. Você pode comprar o livro aqui.
 
Voltar ao Brasil Colônia pelas letras.
 
O título deste livro singular promete muito menos do que oferece. O estudo d’A Vida Literária no Brasil Colônia é também chave-mestra para descerrar alguns dos aspectos mais contraditórios da formação brasileira, o nascimento da sociabilidade, o desabrochar da civilidade, a germinação do nativismo, primeiro grito de amor do homem à terra. Num estilo leve e envolvente, o autor acompanha os três primeiros séculos de nossa formação histórica através da gestação e afirmação da vida literária em um país áspero, bruto, sem autoestima e sem identidade, apoiado no escravismo e de analfabetismo opressor. O processo se inicia sob a batuta dos jesuítas, com seus colégios, elaborando o primeiro projeto educativo do país e implantando e lapidando hábitos e procedimentos pioneiros de vida literária até o surgimento das academias, no século XVIII, nas quais se imitava descaradamente padrões culturais europeus. Nesta trajetória foram fundamentais o surgimento das bibliotecas, públicas e particulares, as declamações, as encenações teatrais, o debate ao vivo sobre temas literários e (mais tarde e em sigilo) políticos, os saraus literários domésticos e em palácios, os intelectuais da terra confraternizando com os governantes, e desenvolvendo uma cordialidade de salão, que se derramava por toda a sociedade culta. E, enredada a ela, os primeiros sonhos de independência. Sem ninguém perceber, começava a palpitar uma nação chamada Brasil. O livro é publicado pela Editora Ateliê. Você pode comprar o livro aqui.
 
Um retorno à problematização das relações autor-obra.
 
A obra da socióloga francesa Gisèle Sapiro vai, aos poucos e ainda bem, sendo traduzida no Brasil e se tornando incontornável. Conhecida por suas investigações de inspiração bourdiana sobre traduções, autorias e os estudos da edição, neste livro que ora a editora Moinhos publica, Sapiro aborda, com coragem e profusão de exemplos, temas como a associação (ou não) entre vida e obra, biografia e literatura ou cinema, em casos amplamente conhecidos não apenas na França, mas no mundo. Escritores, cineastas, filósofos e outras figuras intelectuais são postas em xeque diante de suas escolhas políticas, ideológicas ou da declaração de seus preconceitos, a despeito de terem produzido obras consagradas e/ou premiadas. Associações entre escritores e filósofos a ideias nazistas ou antissemitas, escândalos de abuso sexual no mundo do cinema, é possível dissociar os protagonistas desses casos de suas obras? Sublimar os efeitos disso sobre livros, filmes, teorias? Cabe a nós julgar e absolver? Sapiro, neste volume, põe as cartas na mesa, desfia argumentos em muitas direções, tece redes entre outros pensadores da questão para, afinal, concluir que o tema é, de fato, complexo e merece ser debatido, cada vez mais e com novos elementos. Seja bem-vinda mais esta obra necessária da autora no Brasil. É possível dissociar a obra do autor? tem tradução de Juçara Valentino e sai pela Editora Moinhos. Você pode comprar o livro aqui.
 
Terry Eagleton e o mal.
 
Como escrever sobre o problema do mal de maneira razoável, sem sobrecarregar o leitor com fórmulas metafísicas da teologia e da filosofia, e, ao mesmo tempo, sem deprimi-lo inutilmente com um compêndio histórico das desgraças humanas, de Adão e Eva à bomba atômica? Terry Eagleton enfrenta esse desafio fazendo deste livro uma espécie de caldeirão das bruxas de Macbeth, com ingredientes diversos, desde os mais sutis até aqueles considerados absolutamente repugnantes. Com tradução de Fernando Santos, Sobre o mal é publicado pela Editora Unesp. Você pode comprar o livro aqui.
 
O novo romance de Ana Luisa Escorel.
 
Em O fastio do Diabo, novo romance de Ana Luisa Escorel, a escritora cria uma sátira sociopolítica do Brasil, unindo passado e presente. Ela perpassa 522 anos da história brasileira em seu terceiro romance. Dividido em três partes — “O fastio do Diabo”, “Culpa e castigo” e “Dando conta do recado” —, Ana Luisa imagina uma reunião de membros da alta cúpula do Reino Maldito, com a presença do senhor inconteste daqueles baixios, tendo por objetivo levantar o astral do anjo caído ao revelar a ele o sucesso de sua doutrina e de suas práticas, num canto muito particular de mundo. Cabe a um Enviado, que tem como tarefa provocar e alimentar continuamente a tragédia nessa região, fazer ao Diabo o relato de suas atividades por cerca de quinhentos anos. A segunda parte do romance traz uma espécie de fantasia delirante e não obedece a nenhum esquema lógico. Na terceira, a narrativa histórica incorpora o devaneio criativo da autora e o Enviado se gaba de conquistas recentes nessa esquina esquecida do planeta, onde forças progressistas ousaram subverter a ordem estabelecida pelas camadas dominantes. O livro é publicado pela Ouro sobre Azul. 
 
Os textos remanescentes de Giordano Bruno escritos em seu idioma materno.
 
Giordano Bruno faz parte do rol de pensadores que se destacaram como representantes das novas correntes do Renascimento, que instauraram uma concepção moderna do mundo, racional e antidogmática. Filósofo de intuições geniais e talentoso escritor de humor afiado, Bruno foi contestado e aclamado na mesma medida por séculos. A edição das Obras Italianas, traz ao público brasileiro o tempo, a obra e a personalidade de um nome inescapável da cultura ocidental. Reúne, pela primeira vez no Brasil, os textos remanescentes de Giordano Bruno escritos em seu idioma materno. Vivendo em uma época em que protestantes e católicos disputavam, a custo de muito sangue, cada palmo e cada alma da Europa, Bruno representou uma outra corrente: a de Nicolau Copérnico e da Revolução Científica do século XVI, antecipando Descartes, Spinoza, Leibniz e Galileu. Foi na Inglaterra, após uma contenda com estudiosos da Universidade de Oxford que ele escreveu os diálogos que compõem esta coletânea. Bruno foi além de Copérnico: não só defendeu a teoria heliocêntrica, mas que o universo é infinito, e que a Bíblia ensina moral, não cosmologia. Ele atacou o pedantismo de Oxford, o salvacionismo protestante, as superstições e visões de mundo de sua época. O humor sarcástico — que o leitor poderá saborear ao longo destas páginas, principalmente Castiçal —, a atitude arrogante e desafiadora, o transformaram num apóstata e num mártir. Seu brilho, contudo, não vem da fogueira a que foi condenado, mas de suas ideias que ainda hoje dão frutos. O livro tem tradução de Alessandra Vannucci e Newton Cunha e é publicado pela Editora Perspectiva. Você pode comprar o livro aqui.
 
Chega ao Brasil, romance que ficcionaliza a vida de Florbela Espanca.
 
No dia 8 de dezembro de 1930, Florbela Espanca tirou a própria vida. Naquela data completava 36 anos de idade. A vida da poeta foi a de um espírito criativo, insatisfeito, complexo, com laivos de luz e sombra no Portugal na virada do século XX. Esta é tanto uma biografia ficcional, abrindo a porta para as angústias e desejos da poeta, quanto um romance psicológico, envolvente e arrebatador. Poeta que não admitia ser chamada de “poetisa”, Florbela foi uma mulher não convencional, uma precursora que ousou viver em toda plenitude, ainda que envolta pela infelicidade. Encontrou na poesia, desde criança, a natural expressão das suas paixões, das suas mágoas, com um erotismo sublime e sempre, sempre da procura do Grande Amor. Bela, de Ana Cristina Silva, sai pela Ímã Editorial. Você pode comprar o livro aqui.
 
Este romance recria os últimos anos da vida de Walter Benjamin, um dos maiores filósofos e críticos de literatura do século XX.
 
Durante a década de 1930, o judeu alemão Walter Benjamin escreveu seus principais ensaios em uma livraria de Paris, cidade que amava e onde havia se exilado depois da ascensão de Hitler ao poder na Alemanha. Mas, em 1940, os tanques nazistas chegaram ao subúrbio da capital francesa e Benjamin foi obrigado a fugir, carregando uma maleta com centenas de páginas de preciosos manuscritos. Depois de uma tentativa fracassada de escapar por Marselha, vislumbrou uma chance de fugir com Lisa Fittko, uma jovem combatente do nazismo que guiava judeus e outros refugiados através dos montes Pireneus e rumo à Espanha. De lá, com sorte, chegaria a salvo em Portugal ou na América do Sul. Jay Parini intercala a história comovente da fuga com esboços do passado complexo e cosmopolita de Benjamin: sua infância privilegiada em Berlim, seus anos de militância no Movimento Jovem, os dias na universidade. E sua grande amizade com Gershom Scholem, o eminente teórico da mística judaica, é contada na própria voz do amigo. Outro importante fio condutor é o relacionamento amoroso de Benjamin com Asja Lacis, uma bela marxista que conhecera em Capri, em 1926. O elenco de personagens desta história inclui ainda o dramaturgo Bertolt Brecht, o filósofo Theodor Adorno e muitos outros artistas e intelectuais, que fizeram parte do círculo de amigos íntimos de Benjamin durante as duas guerras. Com Walter Benjamin, experimentamos as angústias da exclusão, o medo da perseguição; e, com Scholem, o sofrimento de quem perdeu um amigo brilhante. Mas este livro não trata apenas dos acontecimentos trágicos que marcaram sua fuga. Em parte, é também um elogio não apenas a Benjamin, mas a toda a tradição intelectual europeia. A travessia de Walter Benjamin é um romance surpreendente sobre guerra, história cultural e a grande divisão da civilização na década de 1940. Com tradução de Maria Alice Máximo, o livro é publicado pela Editora Record. Você pode comprar o livro aqui.
 
Os estágios de formação da vida são descritos em A magia de cada começo, uma reunião de textos autobiográficos, de Hermann Hesse, autor vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, traduzidos por Lya Luft e inéditos no Brasil.
 
“Cada ser humano não é apenas ele mesmo, é também o ponto único, todo especial, sempre importante e singular, onde os fenômenos do mundo se cruzam uma única vez e, dessa forma, nunca mais. Por isso a história de cada ser humano é importante, eterna, divina. Por isso cada ser humano, enquanto viver e cumprir a vontade da natureza, é maravilhoso e digno de todo cuidado. Em cada um, o espírito se tornou forma; em cada um, a criatura sofre; em cada um, um salvador é crucificado... A vida de cada pessoa é um caminho para si mesmo, a tentativa de um caminho, a insinuação de uma trilha. Nenhum ser humano jamais foi inteiramente si mesmo, mas cada um de nós luta para tornar-se si mesmo. Alguns de maneira apática, outros, de modo mais leve, cada um como pode. Cada um carrega até o fim restos de seu nascimento, a linfa e a casca de seu ambiente original, primitivo. Muitos nem se tornam humanos, permanecem sapo, lagartixa, permanecem formiga. Muitos são em cima humanos, embaixo peixe. Mas cada um é um esforço da natureza em busca do humano. As origens de todos nós são comuns, as mães, todos saímos do mesmo orifício; mas cada um se esforça, num esforço e empenho das profundezas, na direção de suas próprias metas. Podemos entender uns aos outros, mas interpretar cada um só pode a si mesmo.” Usando os exemplos da própria história de vida, A magia de cada começo é uma reunião de textos autobiográficos de Hermann Hesse que descrevem e refletem os “estágios do desenvolvimento humano”, da mais tenra infância aos últimos anos de vida. Com a habilidade de escrita de um dos mais importantes escritores do século XX, vencedor do Nobel de Literatura e autor de clássicos como O Lobo da Estepe, Demian e Sidarta, é impossível não se reconhecer neles. Afinal, por mais variada que sejam as experiências de uma vida, no fim somos todos, inegável e inexoravelmente, humanos. O livro é publicado pela Editora Record. Você pode comprar o livro aqui.
 
RAPIDINHAS
 
Carson McCullers. A Carambaia anunciou a publicação de uma nova tradução e edição do principal romance da escritora estadunidense. O coração é um caçador solitário, até então publicado pela Companhia das Letras há muito se encontra esgotado nas livrarias.

Lima Barreto no cinema. O filme de Luiz Antonio Pilar, Lima Barreto: ao terceiro dia estreia no circuito comercial. A narrativa acompanha três dias do escritor (vivido pelo ator Luís Miranda) num manicômio do Rio de Janeiro, enquanto recorda sua vida e a escrita do seu principal romance, Triste fim de Policarpo Quaresmo.
 
REEDIÇÕES
 
As correspondências de Graciliano Ramos aqui reunidas apresentam uma perspectiva íntima de sua vida e obra.
 
Tendo sido viável graças à colaboração de pessoas que conviveram com o escritor, principalmente sua companheira Heloísa Ramos, Cartas reúne as correspondências íntimas de Graciliano Ramos, um dos maiores romancistas da literatura brasileira. A organização é por ordem cronológica, desde 1910, quando Graciliano morou em Palmeira dos Índios, no agreste de Alagoas, passando por sua ida ao Rio de Janeiro em 1914, para tentar a sorte na imprensa carioca, e seu regresso à cidade da infância devido à morte de três irmãos e um sobrinho, vítimas de uma epidemia de peste bubônica. Acompanhamos ainda seu afastamento e lento retorno à literatura após a morte da primeira esposa, em 1920, decorrente de complicações no parto; e o reencontro do amor ao se apaixonar por Heloísa Medeiros, com quem se casou em 1928. Nesse mesmo período, Graciliano foi eleito e empossado prefeito de Palmeira dos Índios, cargo em que ficou por dois anos. Os bilhetes que enviou da prisão, durante o Estado Novo, em 1936, dão conta do período em que foi detido sob alegação de ser comunista. E as cartas do período seguinte terminam com os relatos de sua viagem à Tchecoslováquia e à União Soviética, em 1952. Ao acompanhar os relatos íntimos de Graciliano Ramos a amigos e familiares, revelando suas relações com o cotidiano e com as pessoas com quem conviveu mais de perto, temos uma espécie de narrativa autobiográfica e muitas vezes confessional dos acontecimentos cruciais de sua vida. O que faz de Cartas, para além de leitura deliciosa, uma fonte documental direta importantíssima para a compreensão sobre a vida e a obra deste grande escritor. O livro é publicado pela Editora Record. Você pode comprar o livro aqui.
 
DICAS DE LEITURA
 
Na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a manter o Letras.
 
1. Narrativas inquietas: seis contos e duas peças. Trata-se de uma antologia organizada por Alcebiades Diniz Miguel que apresentam ao leitor brasileiro pela primeira vez duas faces não tão conhecidas da obra de Joseph Conrad: o contista e o dramaturgo. Afinal as nossas editoras são pródigas em edições do principal romance do escritor, O coração das trevas (veja a seção Dicas de leitura do BO Letras 360.º n.332), mas deixam para segundo ou último plano as regiões menos conhecidas da sua obra. Entre os materiais reunidos no livro publicado pela editora Perspectiva está “Os idiotas”. O texto que abre a coletânea foi o primeiro trabalho completo que Conrad escreveu e publicou. Você pode comprar o livro aqui
 
2. Mente cativa, de Czesław Miłosz. Este é o segundo livro de um autor cuja célebre poesia continua praticamente desconhecida no Brasil (ao que parece até agora foi publicada uma só antologia, Não mais, numa simpaticíssima coleção fomentada pela Editora da Universidade de Brasília). Neste livro, uma nova tradução, Miłosz regressa ao território minado das relações entre criador e Estado para inquirir e perquirir o que leva um artista se submeter ao dogma das ideologias para garantir qualquer coisa como um bom lugar social, desmantelando certa ética da liberdade de si e o anseio pela liberdade coletiva. Com tradução de Eneida Favre, o livro está publicado pela Editora Âyiné. Você pode comprar o livro aqui.  
 
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
 
1. O projeto Caderno de Leituras, da editora Chão da Feira, disponibiliza o ensaio Sobre escrever, de Leila Guerriero. É a edição 154 de uma publicação eletrônica e gratuita que reúne textos de relevância como o ensaio em título. Traduzido por Gabriela Albuquerque, em Sobre escrever a escritora argentina esboça as relações da escrita com o ser e estar no mundo a partir do diálogo com vários outros escritores. Disponível aqui.  No endereço também encontrará o caminho para os outros números.

2. No passado 25 de setembro de 2022 foi o cinquentenário da morte de Alejandra Pizarnik, a poeta argentina que só nos últimos anos começa a ganhar viva presença entre os leitores brasileiros. No blog da Revista 7faces é possível ler a tradução de dois poemas seus
 
BAÚ DE LETRAS
 
1. No blog, a primeira vez que falamos sobre a obra de Alejandra Pizarnik foi em 2009 com a publicação deste perfil; dois anos mais tarde traduzimos este texto de Mercedes Roffe sobre o livro A condessa sangrenta. Além dessas e outras publicações, a mais recente, foi a leitura de Fernanda Fatureto sobre algumas das correspondências da autora de Árvore de Diana.

2. Chegamos ao mês do Prêmio Nobel (o anúncio de 2022 acontece dia 6 de outubro) com livro novo do mais recente ganhador, conforme destacamos neste Boletim. Ainda sobre Peter Handke, deixamos dois textos do nosso baú: uma resenha de Pedro Fernandes sobre A ausência; e este breve perfil que traduzimos como “O entardecer de Peter Handke”

DUAS PALAVRINHAS
 
Um escritor que escreve bem é o arquiteto da história.
 
― Em Three Soldiers, John Dos Passos

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