Ana Cristina Cesar ou Ana C.
Acreditei que se amasse de novo
esqueceria outros
pelo menos três ou quatro rostos que amei
Num delírio de arquivística
organizei a memória em alfabetos
como quem conta carneiros e amansa
no entanto flanco aberto não esqueço
e amo em ti os outros rostos
Em Contagem regressiva - Inéditos e Dispersos
esqueceria outros
pelo menos três ou quatro rostos que amei
Num delírio de arquivística
organizei a memória em alfabetos
como quem conta carneiros e amansa
no entanto flanco aberto não esqueço
e amo em ti os outros rostos
Em Contagem regressiva - Inéditos e Dispersos
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Ana Cristina Cesar. Fotografia: Cecilia Leal. 1976 |
Ana Cristina Cruz Cesar nasceu no Rio de Janeiro em 2 de junho de 1952. Desde cedo, demonstrou talento e gosto pela arte de escrever. Já aos sete anos de idade, tinha os primeiros poemas publicados num jornal, o Suplemento Literário da Tribuna da Imprensa.
Tamanha força e precocidade não deixou escapar outra formação para a jovem que se licenciou em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, onde conheceu nomes como Heloísa Buarque de Hollanda, uma das primeiras no meio acadêmico a reparar no talento daquela que se tornaria nome singular na poesia marginal.
Depois do curso de Letras, Ana Cristina Cesar fez mestrado em Comunicação, pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Master of Arts in Theory and Practice of Literary Translation, pela Essex University, na Inglaterra.
Depois do curso de Letras, Ana Cristina Cesar fez mestrado em Comunicação, pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Master of Arts in Theory and Practice of Literary Translation, pela Essex University, na Inglaterra.
Em todo esse percurso se avivou o sentimento de gostar profundamente de escrever. Além de inumeráveis poemas e cartas, colaborava intensamente com diversos jornais e revistas e traduzia diversos autores estrangeiros, ainda inéditos no Brasil. Entre esses autores inclui-se a poeta estadunidense Sylvia Plath - que da mesma forma que Ana Cesar faria mais tarde, colocou um fim à própria vida - ou Emily Dickinson.
Ana C., como gostava de ser chamada, morreu em 29 de outubro de 1983 e pela sua juventude e beleza, pelo conteúdo e forma de sua obra, pela interrupção brusca de sua vida e do seu talento - qualidades essenciais para - tornou-se um símbolo e um ícone para a literatura e para a geração do seu tempo.
Quando a vida segue o seu curso normal, as pessoas têm tempo de se preparar para a passagem daqueles que, de alguma forma, têm parte ou influência em suas vidas. Isso não acontece, em casos como o de Ana Cesar, onde a ruptura abrupta sempre deixa o único recurso de uma saudade brutal ou de uma veneração desmedida.
De qualquer forma é importante a noção, e o consolo, de que as pessoas se perpetuam, nos corações e nas almas, pelo que deixam, na forma de obras materiais, como é o caso de Ana C., ou através das lembranças de atitudes, palavras ou gestos, que podem fazer melhor a vida dos que ficaram.
Descoberta por Heloisa Buarque de Hollanda, Ana Cristina Cesar fez parte da antologia 26 poetas hoje, organizada pela crítica e publicada em 1976 - um livro que se tornou um marco para uma parte importante da poesia brasileira naquela década. Em edições independentes, publicou Luvas e pelica, Cenas de abril, A teus pés e Correspondência completa.
Tendo em vista as circunstâncias de sua morte e o fato de Ana César ter deixado uma série de documentos, tais como cartas, poemas, diários, traduções, desenhos e testemunhos, seus livros foram reagrupados e republicados; um esforço contínuo do também poeta e amigo Armando Freitas Filho. Postumamente saíram Inéditos e dispersos: prosa/ poesia (1985) e Antigos e soltos: poemas e prosas da pasta rosa (2008).
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Deixamos aqui aos leitores um catálogo com todos os poemas incluídos na antologia organizada por Heloisa Buarque de Hollanda mais um álbum de fotos da poeta.
Ligações a esta post:
>>> No Tumblr do Letras veja fotografias da poeta Ana Cristina Cesar e recortes das suas primeiras experiências com a literatura.
>>> Reveja uma postagem em que copiamos uma apreciação crítica de Ana Cristina Cesar sobre a poesia mais poemas traduzidos por ela de Emily Dickinson.
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