Boletim Letras 360º #649

DO EDITOR
 
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Adélia Prado. Foto: Ana Prado


 
LANÇAMENTOS
 
Doze anos após o lançamento de sua última obra, Adélia Prado, vencedora dos prêmios Camões e Machado de Assis, retorna à poesia com O jardim das oliveiras, uma reunião de 105 poemas inéditos.
 
Após doze anos sem publicar um livro inédito desde o comovente Miserere (2013), Adélia Prado retorna ainda mais profunda e madura em O jardim das oliveiras, um livro que é ao mesmo tempo síntese e reinvenção de sua obra, um mergulho poético na aridez e na transcendência, no mistério e na lucidez. Os poemas aqui reunidos retomam temáticas vivas na obra da autora, como o conflito essencial entre luz e sombra, fé e dúvida, poesia e silêncio. Em versos de grande força simbólica, o sagrado e o cotidiano se entrelaçam com rigor e desatino. A poeta elabora uma reflexão radical sobre a origem da linguagem poética e seu papel diante do mundo ― “era Deus quem doía em mim”, escreve, em um dos momentos mais cortantes da obra. A poesia aqui se mostra em estado de vigília: há ecos metalinguísticos, diálogos com a própria história literária da autora, desde o nascimento de Bagagem até a comunhão mais serena com o mistério. É um livro que ouve vozes ― as do povo, de Minas, do divino, da vida íntima ― e as entrelaça com extrema precisão sonora, clareza lírica e uma compaixão crescente pela condição humana. Você pode comprar o livro aqui.
 
A peça de teatro Heliogábalo, de Jean Genet (1910–1986), por muito tempo considerada perdida, foi recentemente descoberta em uma biblioteca nos Estados Unidos e ganha, agora, sua primeira edição brasileira.
 
Traduzida por Régis Mikail e Renato Forin Jr., a obra chega ao país pouco mais de um ano após sua primeira publicação na França, em edição crítica organizada pelo professor François Rouget. A obra foi escrita nos moldes do teatro clássico e apresenta a história ficcionalizada do imperador adolescente Heliogábalo (203–222), figura histórica e lendária que promoveu um curto e turbulento reinado do Império Romano. Misturando tensão política, espiritualidade, misticismo e crítica social, Genet transforma o palácio imperial romano em um grande palco onde tudo é performance: o Império, a família, a fé e o poder. Heliogábalo questiona a própria noção de verdade e os meandros da essência humana, temas centrais na obra do autor. Sem exigir conhecimento prévio sobre a Antiguidade, a peça fala com inquietante atualidade ao abordar ditaduras infantilizadas, encenações reais ou virtuais da política, líderes místicos que orbitam entre o delírio e a autocracia, temas ressoam na trajetória desse déspota romano adolescente do decadentismo. O manuscrito, que dá origem à esta edição, foi encontrado na Houghton Library, da Universidade de Harvard, e foi produzido por Genet em 1942, período em que esteve preso em Fresnes. Segundo os críticos, foi o momento mais fecundo de sua criação, coincidindo com o início da redação do romance Nossa Senhora das Flores. A publicação conta ainda com prefácio do professor François Rouget, que contextualiza a peça dentro da obra e da vida de Jean Genet. O livro é publicado pela editora Ercolano. Você pode comprar o livro aqui.
 
Entre fábula e romance de iniciação, aventura e filosofia um livro que questiona a natureza humana e a força de nossos desejos.
 
Archy nasce em uma toca no meio da floresta, em uma ninhada de fuinhas. Seu pai foi morto por um homem, e sua mãe luta para alimentar seus filhotes no coração do inverno. Muito rapidamente, Archy entende que também deve caçar se quiser manter seu lugar na família. Mas mal ele tenta roubar um ninho e se machuca. Seu destino então toma um rumo sombrio: tornado inútil para sua mãe, ele é vendido a um velho e cruel raposo, Solomon, o agiota, que o transforma em seu escravo e depois em seu aprendiz, antes de revelar seu segredo: ele conhece a existência da escrita, de Deus e da morte… Solomon lega a Archy este testamento que o acompanhará por toda a vida em sua exploração da floresta. Mas será um tesouro ou um fardo esse segredo do homem? Estando entre fábula e romance de iniciação, As minhas estúpidas intenções mistura aventura e filosofia para melhor questionar a natureza humana e a força de nossos desejos. O livro sai pela Âyiné com tradução de Pedro Fonseca. Você pode comprar o livro aqui.
 
Neste romance autoficcional, Marcelo Labes narra os anos de formação de um garoto num colégio interno no Sul do Brasil.
 
Rafael vem de uma família simples de Santa Catarina e encontra na possibilidade de se tornar pastor luterano a saída para todos os seus problemas. Admitido como bolsista na Escola Evangélica, um colégio interno no Rio Grande do Sul, ele logo descobre que seus planos fracassaram: o curso pré-teológico havia sido encerrado, e resta a ele cursar o magistério. No entanto, esse desvio de caminho acaba se mostrando o início da grande experiência transformadora de sua vida. Em primeira pessoa, acompanhamos os dias e as noites na escola (e as escapadas para fora dela) e tudo o que esse período representa para um adolescente em plena formação: as amizades, as paixões, as bebedeiras e as descobertas além da sala de aula. Em meio aos anos escolares, conhecemos também um Rafael já adulto e solitário, cujas lembranças parecem levá-lo sempre ao mesmo lugar. Vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura, Marcelo Labes constrói em Memória do chão uma história universal sobre amadurecimento e autodescoberta, e investiga até onde conseguimos fazer as pazes com aquilo que nos torna quem somos. Publicação da Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
 
Aquelas questões das mais atuais e espinhosas que os novos modelos sociais impõem às meninas.
 
Tudo começa como num conto de fadas. Aos sete anos, Elizabeth ganha um vestido de princesa e, quando vence o concurso de minimiss em que sua mãe a inscreveu, colocam-lhe uma coroa na cabeça. É aí que começa o inferno, que sua infância começa a ser roubada. E o pior: ela nunca mais vencerá. Elizabeth tem o corpo de uma segunda colocada, e não há nada que possa fazer — esse é o drama de sua mãe. À medida que cresce, a menina passa a odiar o mundo inteiro e, com a adolescência, nada melhora. Seu corpo vira um campo de batalha; controlá-lo parece ser a única forma de tomar as rédeas do próprio destino. Então, ela decide colocá-lo a serviço de sua vingança: transforma-o, esculpe-o, deforma-o. Nunca mais será a princesinha de ninguém. Entediada, minha mãe me transformou numa boneca. Brincou com a boneca durante alguns anos, e a boneca se encheu. A boneca se vingou. Flórida é um romance de fôlego, ousado e bem-sucedido. Com ritmo cortante, humor afiado e uma linguagem sem firulas, o autor mergulha em temas atuais e espinhosos: a ditadura da imagem, o culto ao corpo, a sexualização da infância, a ambição projetada dos pais, o assédio, o mal-estar adolescente. A aposta de Olivier Bourdeaut — vestir a pele de uma jovem protagonista tão complexa e contraditória — era arriscada. E ele acertou em cheio. O livro sai pela Autêntica Contemporânea; tradução de Monica Stahel. Você pode comprar o livro aqui.
 
Um terror gótico que cresce silencioso, desafiando certezas e diluindo as fronteiras entre o real e o imaginado.
 
Um casal parte rumo ao sempre ambivalente sul, em busca de algo que nem eles mesmos conseguem nomear. O que começa como uma simples viagem se transforma em uma jornada inquietante, onde o cotidiano se entrelaça com um simbolismo sugestivo e sombras inesperadas emergem a cada passo. Em Não são férias, Olivia Gallo constrói uma narrativa envolvente e carregada de mistério, semeando a trama com sinais sutis de um terror gótico que cresce silencioso, desafiando certezas e diluindo as fronteiras entre o real e o imaginado. Catalina sempre acreditou que a cidade era seu lugar, mas a inquietação que a consome a leva a buscar algo além do concreto e das rotinas previsíveis. Junto de Juan, seu namorado, ela parte rumo ao sul, onde a casa de infância dele promete a chance de um recomeço. Porém, o que parecia ser uma simples viagem se transforma em um percurso íntimo e inesperado. O vasto cenário natural, as pessoas que cruzam seu caminho e as mudanças em sua relação a desafiam a enxergar sua própria vida sob novas perspectivas. Entre a beleza e as dificuldades desse novo mundo, Catalina precisará confrontar seu passado, aceitar as incertezas do presente e, talvez, encontrar um futuro que jamais imaginou. Uma história sobre identidade, transformação e os caminhos imprevisíveis que nos levam de volta a nós mesmos. Tradução de Rafael Souza; publicação da editora Tordesilhas. Você pode comprar o livro aqui.
 
Uma coletânea organizada pelas escritoras Gabriela Aguerre e Natalia Timerman que reúne, de forma inédita, textos de importantes autores e críticos contemporâneos sobre os limites da ficção.
 
Quando o eu fala em um texto, quem escreve? O mistério da voz narrativa e a relação que traça junto ao público leitor é um antigo debate teórico. A cumplicidade entre autor e leitor é, afinal, o fundamento de qualquer pacto literário, mas hoje, ao que parece, sua estabilidade se encontra em disputa. Escrever a partir da primeira pessoa, as chamadas “escritas de si”, enseja paixões de especialistas e do público em geral. O debate, no entanto, usualmente se estabelece na dimensão afetiva, dos gostos pessoais, e para fugir da banalização e do esvaziamento do termo, que desponta como a marca da escrita do início do século, as organizadoras compilam alguns pontos para uma discussão mais proveitosa. Estão aqui reunidos grandes nomes que despontam no cenário literário brasileiro, escritoras e escritores, críticas e críticos interessados nos temas da autoficção, do relato, da escrevivência, da memória, entre outros. Na primeira parte desta coletânea, “Eu e nós: gêneros instáveis”, estão reunidos ensaios que revisam e testam a instabilidade das classificações. Na segunda, “Eu disputa: conceitos em debate”, são apresentados textos que tensionam a calcificação dos termos críticos. E, por fim, “Eu escrevo: a própria voz” aproxima sujeito e verbo no enunciado para narrar à luz da própria experiência. Eu escreve: dilemas das escritas de si não traz respostas absolutas; em troca, oferece possibilidades para a compreensão de uma questão antiga, mas que, com especificidades contemporâneas, exige novas abordagens. Este é um convite para expandir as fronteiras da nossa observação e esgarçar os limites entre fato e ficção, para então refletir sobre quem, como, onde, por que e o que escreve neste início de século. Publicação da editora Record. Você pode comprar o livro aqui.
 
Quase uma década depois da publicação de Entre o mundo e eu, um dos maiores pensadores da atualidade retorna à não ficção, em ensaios que mesclam memórias, reflexões e relatos de viagem para mostrar como as histórias que contamos podem forjar a realidade.
 
Ta-Nehisi Coates apresenta, em três ensaios que se entrelaçam, uma poderosa reflexão sobre a força das palavras. No primeiro deles, relata uma viagem ao Senegal. Nunca havia pisado no continente africano, mas, ao conhecer Dakar, sente como se estivesse em dois lugares ao mesmo tempo: a cidade propriamente dita e o reino mítico panafricano em que ele foi criado para acreditar. No segundo ensaio, agora na Carolina do Sul, o autor explora um mito diferente. Ao encontrar uma professora cujo emprego está ameaçado por adotar em sala de aula um de seus livros, Entre o mundo e eu, descobre um grupo de apoiadores, entusiastas de suas obras, em sua maioria brancos. Na Palestina, que rende o mais longo e último ensaio, Coates percebe a lacuna devastadora e conflitante entre as narrativas que aceitamos e a realidade da vida no local. Ele se reúne com ativistas e dissidentes, israelenses e palestinos, e, ao visitar Jerusalém, o coração da mitologia sionista, e os territórios ocupados, vê a realidade que o mito pretende esconder. Escrito num momento dramático da história, Coates revela aqui a intimidade de seus pensamentos com destemor e profunda consciência. A mensagem mostra a necessidade urgente de nos libertarmos dos mitos nacionalistas destrutivos que moldam o mundo — e nossas almas — e abraçarmos o poder libertador das verdades mais difíceis. Tradução de Carolina Cândido; publicação da Objetiva. Você pode comprar o livro aqui.
 
REEDIÇÕES
 
Romance de estreia de Tatiana Salem Levy e vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura, A chave de casa ganha nova edição com orelha e posfácio inéditos de Diana Klinger e Natalia Timerman.
 
Em seu premiado romance de estreia, Tatiana Salem Levy apresenta os traços estilísticos e a originalidade literária que a consagraram como uma das mais promissoras escritoras da literatura brasileira contemporânea. A personagem-narradora, neta de judeus turcos, recebe do avô a chave da antiga casa da família em Esmirna, Turquia. A busca pelas raízes e pela herança familiar se desenrola no limiar entre realidade e ficção. O intenso fluxo de memórias é condensado para se transformar em uma narrativa composta por diversas vozes que se complementam. A chave de casa é uma obra que evoca a memória e os sentidos ao abordar o exílio, a dor do luto, a paixão e, sobretudo, o lugar da escrita diante da complexidade do real. Publicação da editora Record. Você pode comprar o livro aqui.
 
Esta edição de bolso reúne os livros de uma das mais destacadas poetas da nova geração. Com apresentação de Eduardo Coelho.
 
Romance em doze linhas e outros poemas reúne a obra poética da escritora fluminense — com exceção de seu título mais recente, Veludo rouco (2023): A fila sem fim dos demônios descontentes (2006), Balés (2009), Rapapés & apupos (2012), Rua da padaria (2013) e Ladainha (2017). Na poesia de Bruna Beber, há ironia, verve, musicalidade, malícia e malandragem, além de memórias da infância na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, e observações sobre São Paulo, cidade para onde se mudou na vida adulta. Não raro, em um mesmo poema uma alegria escrachada se funde com uma melancolia profunda, em cenas em que o cotidiano convive com a mais selvagem das imaginações. Publicação da Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
 
RAPIDINHAS
 
Primo Levi, o missivista. Depois de publicar uma nova edição de É isto um homem?, a editora Rocco se prepara para trazer aos leitores brasileiros as cartas trocadas entre o escritor e o seu tradutor para o alemão Heinz Reidt.
 
Cem anos de solidão, de Luisa Rivera. A cultuada edição comemorativa do principal romance de Gabriel García Márquez com projeto elaborado pelo filho, Gonzalo García Barcha, e exuberantes ilustrações de Luisa Rivera chega a nossas livrarias com a já reconhecida tradução de Eric Nepomuceno.
 
Mais Anne Carson no Brasil. A Relicário Edições publicará Vidro, ironia e Deus, livro que, no conhecido estilo da escritora canadense, entrelaça o contemporâneo e o clássico. Entre os textos, a coletânea traduzida por Adriana Lisboa reúne o poema “O ensaio de vidro”.

DICAS DE LEITURA
 
1. Memórias de Adriano, de Marguerite Yourcenar (Trad. Martha Calderaro, Nova Fronteira, 304p.) A vida de Adriano reconstituída pelo imaginado ponto de vista do imperador revisita o humanismo antigo num mundo em crise e dilacerado pela guerra. Você pode comprar o livro aqui
 
2. O livro do meu pai, de Djaimilia Pereira de Almeida (Todavia, 272p.) Com a busca por um livro imaginado por um pai que acabou de morrer se escreve um livro que é uma meditação acerca da finitude e do inacabado. Você pode comprar o livro aqui
 
3. Pensar com as mãos, de Marília Garcia (Martins Fontes, 256p.) Uma poeta desloca-se do ofício da poesia para pensar ensaísticamente a poesia e outras expressões do literário que formam seu convívio criativo.  Você pode comprar o livro aqui
 
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS

Celebramos neste dia 26 de julho de 2025 o centenário de Ana María Matute, autora importantíssima, mas que até agora só conhecemos em nosso idioma um livro: Primeira memória. A escritora foi reconhecida em 2010 com o prêmio mais importante para um escritor de língua espanhola, o Prêmio Cervantes. O registro desse momento, marcado pelo discurso de Matute, está disponível online aqui.
 
BAÚ DE LETRAS

Começa uma semana de homenagens para Paulo Leminski. O poeta é destacado durante a edição da Festa Literária Internacional de Paraty neste ano. Trazemos do nosso baú algumas publicações dedicadas ao poeta e sua obra: aqui, um breve perfil; depois, esta resenha do best-seller Toda poesia; e este texto dedicado às biografias compostas pelo curitibano, Vida: Cruz e Sousa, Bashō, Jesus e Trótski
 
DUAS PALAVRINHAS

Quem não inventa, não vive.

— Ana María Matute

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